quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

NA MINHA ALDEIA ( ANOS 40 )

Aquela escola-  -"A escola velha"-  foi a minha Escola!
A minha primeira Escola.
Ali me sentei, primeiro numa cadeirinha, depois, então, já na minha carteira.
Ali fui encontrar os meus companheiros de brincadeira; até aqueles que, sendo mais velhos, eu agora já considerava meus iguais, por uma maior proximidade de convivência, estando todos na mesma situação, no mesmo local "de trabalho"dirigidos e orientados pela Senhora D. Amélia- a nossa Professora.
É, de todas, a Escola que me deixa mais recordações, talvez por ser a primeira e por tanto desejar entrar nela, pois recordo-me do insistente pedido a meus pais para que fossem falar com a professora. Isto, porque não tendo ainda os 7 anos ( idade que nesse tempo era exigida ) e vendo lá alguns dos meus melhores amigos- os que eram apenas uns meses mais velhos- ninguém me sossegava!
Daí a razão de eu ter ido, depois da autorização da Sr.ª Professora,  para a tal cadeirinha, pois estava ali numa situação de favor, por ter apenas 6 anos.
Lá fui passando, mudando de classe até à 3.ª, altura em que tive que repetir, pois a idade não me permitia ir a exame.
Embora a Senhora Professora fosse "riginha"- às vezes um pouco de mais- lá fui andando com os meus amigos da freguesia da Ribeira de Nisa- lugar de Monte Carvalho- até à 4.ª classe.
Tínhamos o Largo da aldeia por nossa conta, como recreio, sem perigo de maior, pois carros, era coisa rara por ali; apenas carroças- algumas poucas carroças.
Um joelho deitado a baixo, alguns"galos" e outras pequenas escoriações que, na maior parte das vezes, se resolviam com água oxigenada, mercurocromo ou tintura. E era tudo!
Na velha Escola das minhas saudades de hoje-bebi da água viva do saber- conheci coisas que até ali nem me passavam pela cabeça!
Ler- na Cartilha de João de Deus- já eu tinha aprendido em casa com a minha saudosa mãe!
Depois... bem... depois... foi "só" o resto! Foi o resto que era muito! Muito!
A História de Portugal, a Geografia, a Gramática, a Aritmética, as Ciências, enfim, todo um conjunto de conhecimentos que, naquele tempo nos era exigido ( hoje considerado excessivo ) que ia desde os afluentes dos rios, do local onde nasciam e desaguavam; dos Caminhos de Ferro e seus ramais;
das Serras, Distritos, Concelhos, Cidades e Vilas, tudo isto com abrangência a todos os territórios, quer do Continente, quer das ilhas, até ao chamado Ultramar! Dos Cabos, dos Mares e Oceanos.
Sobre a matéria das disciplinas enunciadas, muito haveria ainda que dizer, tal a profundidade das mesmas!
Mas, verdade seja dita, aquelas cabecinhas jovens, com maior ou menor esforço (consoante as capacidades) lá iam "levando a água ao seu moinho".
No final dos 4 anos, o exame, onde se poderia ficar reprovado, aprovado ou distinto!
Depois... para alguns, o destino era a Escola Industrial Fradesso da Silveira ou o Liceu Mousinho da Silveira, em Portalegre, porque a maior parte não continuava os estudos, pelas mais diversas razões, algumas fáceis de calcular dada a carências de meios das famílias.Iam trabalhar no campo, ajudando os pais, ou aprender um ofício, na maioria das vezes o de canastreiro- o mais comum na minha Ribeira de Nisa e, portanto, o mais
acessível.
Mais tarde, era o procurarem entrar nas fábricas de Portalegre- Lanifícios e Robison-cortiça; outros, no Comércio na cidade.
As raparigas, para além de também ficarem a trabalhar no campo, iam servir (era as criadas); outras aprendiam a costureiras ou procuravam lugar nas fábricas, especialmente nas de Lanífícios, Tapetes (ainda hoje célebre em todo o Mundo) e na das Sedas. Muito poucas iam estudar.
Nos anos 40, era assim na minha terra, sem que eu, com este breve apontamento, pretenda ter  a veleidade de conseguir dar-vos um retrato completo da situação que então vivi.
Os que me lerem e tiverem conhecimento do que era a vida naquele tempo, ajuizarão.
Os outros, podem acreditar, porque mentiras, aqui, não!
O meu abraço,
JGRBranquinho

Sem comentários:

Enviar um comentário