quinta-feira, 31 de julho de 2014

ATÉ QUANDO ?!




ATÉ QUANDO ?!

Esvoaçam, volteando em danças espontâneas no jardim à minha frente, as velozes andorinhas.
Num tempo de lazer, procurando recarregar baterias no sul de Portugal, tenho oportunidade de melhor apreciar a sua atividade, pois sei que não se trata simplesmente do exercício do voo, embora também importante para elas.
Incansáveis- muito especialmente ao entardecer- é um gosto vê-las no seu estonteante voo, procurando alimento nos insetos que povoam os céus, num trabalho digno de relevo, destruindo os indesejáveis mosquitos, como vulgarmente são mais conhecidos.
O trabalho destas e doutras aves é por vezes muito mal compreendido, mormente por parte de alguns agricultores que se queixam de lhes atacarem as sementeiras, especialmente os pomares.
Não sabem quanto os beneficiam destruindo a praga de vários insetos destruidores, com a pequena recompensa de debicarem algumas peças de fruta ou sementes.
Quantos se preocupam injustamente- também por desconhecimento, creio- com as aves do campo, não se lembrando do benefício incomparavelmente superior que a todos prestam voluntariamente!
É triste que ainda se assista à caça, até de pequenas aves com muito pouco de sustento e de diminuto interesse na nossa alimentação, não se coibindo (esses furtivos caçadores sem lei) de usar os mais diversos e condenáveis métodos na sua destruição; esquecendo-se, mesmo, da grande utilidade que elas representam, inclusive, alegrando a Natureza, com seus gorjeios, verdadeiramente encantadores e que, afinal, todos tanto apreciam.
Também aqui o papel da Escola é importante (compreende-se bem porquê) tanto por intermédio de textos apropriados, como por recomendações pontuais por parte dos responsáveis, alertando os alunos para estas verdades essenciais à vida de todos nós, inclusive, pela defesa intransigente da Natureza/ Mãe
Infelizmente sei, por conhecimento próprio no campo (vivi e volto lá com relativa frequência) como se processam as coisas a este nível.
Até quando?!
Quando todos compreenderem a razão de ser das coisas, que espero, possa ser muito em breve.
Vilamoura, 31 de julho de 2014
JGRBranquinho



terça-feira, 29 de julho de 2014

POR MEU PRAZER



POR  MEU  PRAZER

Escrevo em verso. Canto por meu prazer,
Procurando dar largas a alguma inspiração.
Faço-o com sentido, com a maior devoção
Satisfaço uma vontade, um meu querer.

Sento-me à escrivaninha, ajeito a cadeira…
Abro o velhinho computador, algo ansioso!
Vibrando expetante, um tanto ambicioso
Lá vou escrevendo à minha maneira.

São dias, são momentos do maior agrado!
Estou a preparar com meu próprio arado
A terra aonde nascerá meu fruto querido.

A cada instante há de surgir novo embrião!
Será mais um fruto que me sai do coração…
Será que pra muitos de vós fará  sentido?

Vilamoura, 29 de julho de 2014
JGRBranquinho


segunda-feira, 28 de julho de 2014

DO CAMPO À CIDADE


DO  CAMPO  À  CIDADE

Tínhamos duas carroças muito bem cuidadas! Estávamos em meados do século XX  e as carroças eram um bem inestimável para a época, contando-se pelos dedos de uma só mão os que as possuíam, no meu lugar.
Meu pai era perito na sua conservação, tinha fama e (naturalmente) orgulho na sua manutenção, não só por simples ostentação, mas muito mais pelo conforto e segurança que nos transmitiam.
 Era vê-lo nos seus momentos de ócio a cuidar delas até aos mais pequenos detalhes, em contraste com os outros homens que não tinham paciência  para esse trabalho, não se importando (erradamente) e sofrendo depois as consequências desastrosas da sua negligência, como muitas vezes se constatava, até por eles próprios, com lamentações que não conseguiam ocultar, mas... já era tarde!
Não tendo paciência ( ou seria por preguicite?) podiam ao menos, mandar consertá-las, mas aqui podia ser também, por falta de meios, é verdade; mas... sabe-se como é... as coisas não são eternas e vale sempre mais prevenir que remediar, como em tudo na vida.
O meu pai via as coisas pelo prisma correto e eu admirava-lhe os conhecimentos e a pachorra; e se não sabia ou não podia por falta de ferramentas próprias, lá ia procurar os carpinteiros e/ou ferreiros, para que tudo estivesse sempre em ordem e pudesse tirar todo o proveito das suas duas valiosas carroças.
Com elas, meu pai e mais tarde com um homem que trouxe de Borba- António Santana, carroceiro de profissão- lá giravam para todo o lado no Alto Alentejo onde houvesse feiras e mercados de frutas e leguminosas, estando bem ao corrente de quando estas se realizavam.
 Antes deste António Santana, teve outros, mas este, pela sua proficiência e bondade, foi dos que mais nos marcou, inclusive por ser, em simultâneo, um excecional tratador de animais- as nossas mulas- conhecendo a sua psicologia como era devido, levando-as a serem ainda mais úteis no trabalho diário, como convinha.
Levava-as à fonte da aldeia sem a prisão de qualquer corda ou cabresto, obedecendo-lhe sem esforço. Se alguma vez lhe fugiam por necessidade dos próprios animais se esticarem,correndo um pouco, bastava ele chamá-las por assobio ou uma palavra de carinho, que elas lá vinham ter com ele, obedientemente.
Eu admirava-o também muito e todos nós em casa lhe estávamos muitos gratos, como se ele fosse uma pessoa da família, convivendo dia- a- dia connosco, dormindo mesmo em nossa casa.
Meu pai dedicou-se depois a mais uma atividade- agora relacionada, com o fabrico de canastras ou cabazes  cestos e cestas,em madeira de castanho bravo- tendo vários canastreiros a trabalhar por sua conta.
 Embora  utensílios essenciais para uso na agricultura, eram, também importantes para o transporte de frutas.Tudo isto antes do aproveitamento do caixote de pinho e depois do de plástico, para embalagem de fruta, muita dela enviada para Lisboa, para os Mercados Abastecedores do Cais do Sodré, Ribeira e Rego, à consignação dos respetivos mandatários desses mercados de boa recordação e, principalmente, por tantas e tão excelentes amizades que se estabeleceram nessas ligações e de que fui testemunha, até depois da minha vinda para Lisboa em 1959.
Sim, tenho saudades desses velhos tempos, da vida no trabalho vivida, da azáfama junto a esses mercados, do corropio constante naquelas manhãs nos mercados e nas zonas limítrofes, onde sobressaiam as mulheres vendedeiras da rua, com toda a sua brejeirice peculiar, alegria e descontração, verdadeiramente engraçadas.
Na minha Ribeira de Nisa e aqui em Lisboa, quantas pessoas tinham as suas vidas ligadas ao comércio das frutas!Foi uma pena! Um grande prejuízo para muita gente, começando no campo e acabando na cidade, pelas razões que deixei e por outras que facilmente se calculam com reflexos bastante negativos na nossa sociedade, como por exemplo a indústria dos cabazes e os soutos abandonados, com dezenas de famílias a ficarem sem trabalho, remunerado de acordo com o custo de vida na época.
Era um tempo de trabalho difícil, mas era TRABALHO DIGNO, que movimentava MUITA GENTE desde o campos de cultivo, com os grandes e bem cuidados pomares, até à GRANDE CIDADE, conforme o apontamento breve que aqui vos deixo.
Eu vivi estes tempos, tanto no campo com depois em Lisboa, e gosto de os relembrar, perguntando aos "entendidos" porque teve que ser assim.
A minha gratidão se me lerem, esperando, também a simpatia da vossa opinião, se porventura quiserem dar-ma.
OBRIGADO!

  Vilamoura, 28 deJulho de 2014
JGRBranquinho

sábado, 26 de julho de 2014

ENQUANTO ESPERO... DESESPERO!



ENQUANTO ESPERO… DESESPERO!

Disseste que me amavas!
 Não duvidei- senhora!
Quis acreditar
cegamente no que ouvia.
Vi passar o tempo
e… dia- a- dia…
Quis ouvi-lo mais
em cada hora.

Escutar-te- senhora-
 novamente!
Ouvir repetida a confissão.
Mas… por meu mal…
minha desilusão!...
Tu não falaste
 por não sentires
 certamente.

Hoje- senhora,
 Ainda o espero!
Quero ouvir-te!
 Ouvir o que desejo.
Ter como realidade
 tal ensejo.
E… enquanto espero…
 DESESPERO!
(sem data)
JGRBranquinho


sexta-feira, 25 de julho de 2014

NAQUELE TEMPO


   
NAQUELE  TEMPO

Naquele tempo (décadas de trinta...quarenta) na minha aldeia- Monte Carvalho, freguesia de Ribeira de Nisa, para além do trabalho agrícola, dos ofícios de carpinteiro e, principalmente, de canastreiro, por parte dos homens, havia ainda os almocreves- cerca de meia dezena. Eram eles que em suas carroças, puxadas por uma mula ou macho, levavam às terras do Alentejo- vilas e cidades- os produtos da terra, especialmente fruta.
Desde Portalegre ao Crato, Castelo de Vide, Alter do Chão, Nisa, Gavião, Ponte de Sor, Sousel, Estremoz, Borba, Elvas, Azaruja, Redondo, até Évora. A esta cidade, mais tarde, só já iam de camioneta de carga que entre si alugavam- dada a distância- muito especialmente na Feira de S. João, que durava cerca de cinco dias-talvez uma das maiores do Alentejo a par da de S. Mateus em Elvas.
Eram homens de trabalho verdadeiramente útil, mas muito duro, pois levavam dias e dias fora de casa, percorrendo estradas estreitas e mal cuidadas-"manhosas" como eles as apelidavam- e com pouquíssimas condições de conforto; dormindo, inclusive, nas próprias carroças e alimentando-se mal, muitas vezes debaixo de intempéries no inverno, ou "assando" sob o calor do Rei-Sol, no verão
Ao tempo, as comunicações através das estradas eram difíceis, limitando-se quase só ao recurso a carroças, e a trens ou charretes de luxo, puxadas por cavalos ou éguas, que constituíam conjuntos admiráveis de requintado gosto, pertença de algumas pessoas ricas- especialmente lavradores.
Como ia dizendo, os simpáticos almocreves (também chamados negociantes de fruta) levavam os produtos da minha terra, que na maior parte das vezes compravam:- batata, cebola, castanha, noz, avelã, etc.- aos vizinhos agricultores, ou então nas redondezas onde houvesse bons pomares de cereja, maçã e pera, principalmente.
Ao comprarem os pomares, os almocreves corriam o risco de uma tempestade destruir a fruta, tendo, ainda, que pagar a quem a colhesse- especialmente a  mulheres do lugar- que para isso também levavam em suas carrocinhas.
Era uma alegria, apesar de tudo, pois o irem de carroça para esses sítios, agradava-lhes muito, cantando  (até durante o trabalho) as cantigas que ao tempo estavam em moda e outras muito antigas que aprenderam por tradição oral, visto que havia "quem não soubesse uma letra", como vulgarmente se dizia e diz dos que não aprenderam a ler por nem sequer a escola terem frequentado.
A escolaridade obrigatória ainda não era uma prioridade, mormente para as meninas, cuja missão era outra à luz dos costumes da época e que os meus amigos conhecerão, provavelmente.
Sobre os almocreves ( também chamados negociantes de fruta) vou contar-vos esta história verdadeira:
-A vida deles era muito arriscada por vários motivos (já indiquei um, atrás) e muitas vezes- coitados- não vendendo a tempo os produtos, estes estragavam-se e lá se ia o dinheiro por água abaixo, como soe dizer-se. No entanto, nem sempre estava o diabo atrás da porta...
 Num certo dia, um deles- o Joaquim, depois de mais uma feira- chegou  a casa muito calado, não dando mostras de vir muito satisfeito, preparado como estava para fazer uma boa surpresa à mulher.
Alegou que vinha muito cansado- o que era perfeitamente natural naquele modo de vida-  e foi deitar-se, para poder descansar um pouco, como disse à mulher.
A mulher nem estranhou, pois como já vos disse, aquela vida era muito dura.
Volvidas poucas horas, o Joaquim perguntou à mulher se o jantar estava ainda demorado, ao que ela respondeu que estava mesmo a acabar.
Então ele, de dentro do quarto, diz-lhe:- Logo que esteja pronto, avisa-me, então.
A mulher, entretanto, posta a mesa, chamou-o.:-´Ó Joaquim, podes vir.
Ele entra na cozinha e diz-lhe que se esqueceu de apagar a luz do velhinho e tradicional candeeiro a petróleo, o que a mulher logo se prontificou a ir fazer.
A mulher,ao entrar no quarto, que viu?!
Nem queria acreditar, deu um grito de alegria, ficando pasmada a olhar para a cama.
Veio logo o nosso Joaquim e ambos se abraçaram, mirando a cama coberta de notas desde a mais pequena à de maior valor!
A feira tinha-lhe corrido muito bem e teve logo a ideia, de ao chegar, cobrir a cama com as notas conseguidas nas vendas, tal a alegria que transportava interiormente e que a ninguém revelava, por motivos óbvios, nem à própria mulher, para lhe poder fazer aquela belíssima surpresa.
No entanto, nem sempre a vida corria tão bem. Assim, muito justificadamente, esta alegria era ainda maior neste feliz dia, dadas as dificuldades com que lutavam, trabalhando embora muito, mas com reduzidas condições
." canastreiro":- o que fazia canastras ou cabazes de madeira de castanho.

NOTA:

-Deixo-vos mais esta crónica, que espero venham a ler sobre a vida no século passado (tempos já muitos antigos) no lugar onde nasci e que gosto de, recordando, dar a conhecer aos amigos de agora e relembrar aos do meu tempo.
Trata-se de uma breve resenha da vida nesse tempo, do muito que haveria a contar-vos e que, de vez em quando, irei mostrando à minha maneira.
Conto com a vossa boa aceitação, de que me poderão dar notícia se assim o entenderem.
Obrigado.
Quinta da Piedade, 25 de julho de 2014
JGRBranquinho

A MÁQUINA

A  MÁQUINA

Qualquer máquina por nós conhecida (ou qualquer outra por mais sofisticada que seja- até cientificamente preparada por génios- e que ainda não tenha chegado ao nosso conhecimento), precisa, naturalmente, de cuidados na sua utilização e manutenção, sob pena de se por em risco a sua utilidade e durabilidade.

O que operar com ela, tem que estar muito apto para dela tirar o maior rendimento, sempre com o cuidado recomendável nas instruções, para evitar estragos, que, naturalmente, resultarão em prejuízos de vária ordem, com é fácil deduzir.
No próprio contacto diário, o utilizador vai-se apercebendo do modo como deve lidar com ela, se estiver atento, obviamente; direi mesmo, obrigatoriamente, no sentido de tirar o maior partido possível com sua correta utilização, seja a máquina sua ou da empresa onde presta serviço.
A máquina- enorme progresso da civilização- foi e é uma ajuda preciosa para o homem, que o mesmo é dizer, para a sociedade. Disso ninguém tem dúvidas, embora haja quem afirme que veio subtrair lugares de trabalho, sem reconhecer que facilitou o trabalho ao próprio homem, dando-lhe possibilidade de produzir mais em menos tempo e com menor esforço. Foi a chamada “ERA INDUSTRIAL”
Deixemos, então, “ A MÁQUINA”.
Veio-me este título à cabeça a propósito de uma outra máquina:- a mais perfeita de todas!
Refiro-me à “MÁQUINA HUMANA”, muitas vezes mal tratada por cada um de nós, com as consequências trágicas que daí resultam.
Esta “MÁQUINA” foi obra do MESTRE- O DEUS CRIADOR- não de qualquer humano por mais sábio!
Nascemos na ambiência própria de cada família, crescemos sob a atenção dos entes queridos, que tudo fazem (dentro do conhecimento que têm) para que o nosso desenvolvimento harmónico:- físico e intelectual decorra o melhor possível.
Não acredito que, intencionalmente, alguém assim não proceda.
O problema coloca-se quanto à capacidade de gerir esta “MÁQUINA” que foi criada por um SER SUPERIOR que dela nos fez entrega.
Surgem aqui várias situações, mas só vou referir a responsabilidade pessoal de cada um de nós, por desconhecimento de causa, ou por desleixo.
Enquanto jovens, tudo parece correr sobre rodas de eixos bem oleados- apesar de uma ou outra asneira- e as coisas lá vão andando sem problemas de maior... Com o decorrer dos anos, aos poucos, começam as queixas, lá se dá um jeito, e… lá vamos caminhando, já um pouco "com o credo na boca"...
Claro que ninguém é santo e as tentações do dia-a-dia levam-nos a cometer excessos de vária ordem, a par de uma não vigilância correta desta preciosa “ MÁQUINA” sempre a trabalhar, sempre a desgastar-se.
 Com o acumular de erros, alguns mesmo derivados da própria profissão que se exerce e da tal não vigilância adequada no decorrer dos anos, a “MÁQUINA” - concebida perfeita- naturalmente começa a falhar para nosso próprio mal e lá vêm as queixas e a necessidade de ir procurar auxílio aos que sabem- aos nossos médicos, grande classe pela qual tenho a maior admiração- mas, quantas vezes, já em situações extremas!
Com culpas ou sem culpas próprias, a verdade é que isto acontece.
Para não me alongar mais, atrevo-me a deixar uma opinião- talvez melhor dito- uma recomendação que, provavelmente, encontrará eco em alguns dos que me lerem:
- MUITA ATENÇÃO À NOSSA MÁQUINA, RESPEITANDO A SUA CONSTANTE UTILIZAÇÃO, RESPEITANDO E AGRADECENDO A QUEM DELA NOS FEZ ENTREGA GRACIOSA.  

Quinta da Piedade, 25 de julho de 2014
JGRBranquinho

terça-feira, 22 de julho de 2014

O PRIMEIRO ENCONTRO



O PRIMEIRO  ENCONTRO

Eras uma jovem moça- a mais bela que conheci! Como jamais tinha encontrado!

Vinhas, não sabia de onde! Chegavas àquele lugar, não sabia porquê!
Sabia que estavas ali mas sem que nem sonhasse quem fosses!
Vi-te! Olhei-te encantado, entusiasmado e logo enlouquecido pelo teu porte simples, sem afetação.
Eras meiga, quase esfíngica, mas notava-se em ti uma certa acalmia atraente e por demais tentadora.
Quis saber de ti, intrigado por apareceres naquele sítio para mim familiar- era o meu lugar- mas onde nunca te tinha visto, desconhecendo qualquer ligação tua a pessoas do meu meio, que, por pequeno, eu conhecia muito bem.
Procurei, então, saber quem eras. Volvido pouco tempo, logo se desfez o mistério relativo à família, que eu, aliás, bem conhecia e considerava.

Faltava-me saber a razão da tua vinda, pensando tratar-se de uma visita familiar, apenas. No entanto, não me parecia muito natural que pertencendo tu a essa família, eu nunca te tivesse visto durante os dezasseis anos que eu ali já tinha vivido…
Vim a saber, então, que vinhas para retomar os estudos no ensino liceal.
Tinha-los interrompido por vontade de teus pais, pois, ao tempo, " uma menina era para estar em casa, aprendendo a ser uma boa dona de casa". Esta ideia, no entanto, estaria já nos confins de sua aceitação. Estávamos na década de quarenta. Até ali, as meninas não eram obrigadas a ir estudar, nem sequer a terem a escolaridade obrigatória!
Os tempos mudaram, naturalmente, e ainda bem, por todas as razões que se conhecem.
Ainda vieste a tempo e, depois do Liceu, seguiste os estudos com bastante êxito, em Lisboa, onde te formaste.
Tive o grato privilégio de te conhecer e amar! Julgo-me feliz por isso. Hoje, somos bons amigos.
Gostaria muito de te poder entregar- entre outros- este texto.
Será possível? Quem sabe?!...

Quinta da Piedade, 22 de julho de 2014
JGRBranquinho

domingo, 20 de julho de 2014




A   R O S I N H A


Era noite já avançada.
Sentada numa cadeirinha, a cabeça recostada no colo da mãe (que fazia malha talvez para um cachecol ou outra peça de agasalho)  a Rosinha dormitava já há algum tempo.
Talvez sonhasse com as brincadeiras que tivera com as amigas do lugar onde habitava, talvez sonhasse com o dia em que foi à feira e lhe compraram os primeiros sapatinhos, talvez sonhasse- quem sabe?- com histórias que a avó lhe contava e que já conhecia de cor!...
A mãe, já cansada também, decidiu acabar com o trabalho que estava a fazer e lá a foi acordando aos poucos, suavemente, parecendo recear despertá-la do que poderia estar a ser um sonho lindo da filhota.
-Rosinha!... Rosinha!... Vamos, filhinha!... Vamos para a caminha.
A menina, espreguiçando-se... levantou os bracitos para que a mãe a pudesse segurar melhor, agarrou-se-lhe ao pescoço e encostou-lhe a cabecita no ombro.
Levada pela mãe lá foi para o seu quarto, que ficava mesmo junto ao dos pais, estando, assim, mais protegida no caso de algum pesadelo ou susto por barulho que viesse do exterior.
Era uma criança bastante medrosa. Contavam-lhe histórias pouco próprias para sua idade, ouvia as lendas daquele tempo, quase sempre, igualmente pouco adequadas aos seus quatro aninhos, e isso, como é natural, influenciava-a negativamente.
Ao tempo-ano de 1907- vivendo no campo, lá bem no interior do Alentejo, até uma ida à cidade era rara!
Vivia-se muito isolado porque também os caminhos eram autênticas azinhagas onde mal cabia uma carroça, que muito poucas havia!...
Ir a pé era o mais normal- a não ser de burro, para aqueles que o tinham- e que também eram poucos.
Já pensaram como seria viver naquele meio, naquele tempo?
Uma criança ali criada, restava-lhe o convívio com os pais e com algumas crianças das redondezas, e mesmo assim, por vezes algo distantes.
Era um meio bastante pobre, onde havia, no entanto, alguns ricalhaços que impunham as suas leis e eram, inclusive, admirados.
Era assim neste meio que viviam os pais da Rosinha.Tinham uma pequena horta e o pai era canastreiro, trabalhando numa parte da casa que habitavam- a chamada loja.
Lá viviam sem muitas exigências, o que também não dava para que tivessem muitas queixas, tão habituados estavam àquele viver desde os seus tempos de juventude.
(Voltando à nossa menina ).
Naquela noite (ainda acordada) teve uma ideia fantástica!
- Um dia- de manhã, muito cedo-  hei de ir ao monte em frente e hei de tocar no Sol!
Se está ali mesmo pegado ao monte!...
E à Lua também gostava de lhe tocar, mas é só à noite e eu tenho medo... só se pedir ao meu pai para me levar lá...
 Esta história é verdadeira. Contou-ma a própria Rosinha- a minha saudosa mãe.
 Quinta da Piedade, 20 de julho de 2014
JGRBranquinho



E S C R E V O




E S C R E V O

Escrevo por uma vontade maior que em mim existe. Escrevo por uma força contrária à inércia que por momentos ainda persiste, por meu mal.
Grato ao Céu, ao Destino, ou a alguma inspiração, para no papel deixar as minhas impressões- porventura pobres impressões- mas que me dão um certo conforto, satisfazendo o meu gosto pela escrita.
Por vezes- felizmente para mim, infelizmente para alguns- vou passando ao papel sentimentos que em mim coabitam, uns mais agradáveis outros menos, provavelmente sem interesse de maior…
Enfim, apetece-me escrever e, de vez em quando, lá surge mais um poema ou prosa que guardo e depois dou a conhecer, embora quase sempre algo receoso…
Vem isto um pouco a propósito de receber comentários agradáveis de muitos amigos e, por vezes, julgar que o fazem mais pela amizade que pela importância do que escrevo.
Nesses momentos bons- naturalmente- mas ainda assim não muito seguro, penso, repenso e agradeço a amabilidade e lá vou continuando a minha sementeira na terra lavrada que tenho à disposição, na esperança de poder vir a fazer um pouco melhor, de modo a conseguir agradar a mim próprio.
Dizem que o melhor trabalho será sempre o próximo, nesta ambição louvável de cada um poder vir a ficar mais próximo da perfeição que, para o ser humano, continua a ser uma utopia.

Claro que isto nunca deverá ser impeditivo de cada um de nós procurar progredir na área da sua vocação.
Quantos escritores e gente de outros ramos da atividade humana, não tiveram dúvidas sobre a valia do seu trabalho?!
Até mesmo por alguma incompreensão por parte de outros que, por incapacidade ou inveja, os afrontaram numa atitude negativa mas que infelizmente sempre se verificou e verifica nos nossos dias; e não é com atitudes destas que os mais frágeis singram na vida, desistindo alguns dos seus propósitos, dando-se por vencidos.
Esses- os tais "amigos da onça"- nunca chegarão a lado algum, tornando-se, a si próprios, infelizes.
Até os mais fortes-  OS QUE NOS DEIXARAM OBRA- também se queixaram de se sentirem por vezes torpedeados, mas com um maior poder de resistência, mercê de qualidades que em si são superiores- como a determinação e a coragem- tudo conseguiram suplantar, deixando-nos verdadeiras pérolas como dádivas gratuitas que nos fazem felizes, tanto quanto se pode ser neste trajeto que é a nossa passagem por Aqui.
Amigos que porventura me vierem a ler:- Julgo não ter dito nenhuma barbaridade.
Desculpem se não foi novidade o que aqui vos disse e estiveram, simplesmente, a perder o vosso tempo.
Então, também o meu obrigado pela boa vontade de me lerem.

 Quinta da Piedade, 19 de julho de 2014
JGRBranquinho

sábado, 19 de julho de 2014

Ex.mo Senhor Dr. Bruno de Carvalho-
Digníssimo Presidente da Direção do
Sporting Clube de Portugal

Em primeiro lugar, as minhas desculpas por vir roubar-lhe algum do seu tempo- que sei lhe é precioso- na direção do nosso SPORTING.
Já nos encontrámos por diversas vezes mas, ciente dos imensos problemas que cada dia tem que resolver na governação desta grande nau, julguei mais apropriado escrever-lhe.
Desde que me entendo fui tocado pelo dom do sportinguismo, vivendo, embora, no interior do Alentejo.
Vim para Lisboa em 1959 e logo me fiz sócio, de que sou atualmente o n.º 1.769-0, sendo, até essa altura, apenas assinante do nosso Jornal, que recebi, muito jovem (graças a meu pai) ainda como “ BOLETIM”!
Tive várias situações de muito agrado desde então, contactando na Sede na R. do Passadiço, com várias figuras proeminentes do nosso querido Clube, que me ajudaram a amá-lo ainda mais- a primeira das quais, o saudoso Dr. António Ribeiro Ferreira a quem escrevia ainda vivendo em Portalegre.
Estou no Sporting desde 1980- na altura Secção Cultural e hoje Departamento de Cultura e Recreio- no Edifício Multidesportivo- como sabe.
O assunto que me traz aqui- Sr. Presidente- resume-se à solicitação de uma reunião antes do dia 27 desde mês ou após o meu regresso de férias nos primeiros dias de agosto- mais precisamente entre os dias 7 e 25, agradecendo, desde já, o favor de uma sua resposta.
Julgo que seria proveitosa essa reunião, sem estar aqui com quaisquer promessas que não venha a poder cumprir.
Com os meus respeitosos cumprimentos e a muita justa admiração por tudo quanto já fez em prol do nosso querido SPORTING, me subscrevo com
SAUDAÇÕES LEONINAS.
Lisboa, 19 de julho de 2014
O Coordenador do Departamento de Cultura e Recreio
José Garção Ribeiro Branquinho- Sócio n.º 1.769-0


quinta-feira, 17 de julho de 2014

VOLVENDO AO TEMPO DA MOCIDADE



VOLVENDO AO TEMPO DA MOCIDADE
Era uma moça linda, atraente como não vira! Encontrei-a, por acaso, numa velha estrada, embora para ali me tenha deslocado com a intenção de a poder ver, aproximando-me da casa onde sabia que ela estava temporariamente. Tinha-me falado nela um amigo de infância- que já a teria visto ou, então, de quem lhe tinham feito as mais elogiosas referências, não precisando hoje, como foi exatamente, volvidos que foram tantos anos. Sei que foi ele- o António- o primeiro a falar-me dela, com admiração. Ele era ligeiramente mais novo que eu e confiava-me muitas das suas preocupações, assim como, também, relativamente a aspirações que tinha na vida, vendo em mim como que um conselheiro. Ele já não estudava, tendo feito apenas a 4.ª classe. Agora, ajudava o pai no ofício de canastreiro, que na altura- década de quarenta… cinquenta- era ali na minha zona, a maior ocupação das famílias, para além da agricultura.
Aos fins- de- semana encontrávamo-nos com relativa frequência e íamos juntos até à cidade de Portalegre, para uma ida ao cinema ou ao futebol, por vezes acompanhados de outros rapazes do sítio. Eram as duas distrações principais, fugindo do perigo das tabernas- único entretém na aldeia- e de que a família procurava afastar-nos, especialmente as nossas mães, conhecedoras dos malefícios do álcool. Calcula-se, facilmente, porquê…
Ainda fundei ali um clube de futebol que intitulei de Sporting Clube Ribeirense ( pudera... se eu já era sportinguista!...) jogando no largo da aldeia, em terra batida, onde deitávamos os joelhos abaixo e trocávamos algumas caneladas, sem que tivéssemos ido muito longe, perdendo a maior parte dos jogos com outros grupos que ali vinham jogar. Sempre era um atrativo diferente para quem quase nada tinha. Solicitando colaboração ao Sporting Clube de Portugal, tivémos essa atenção por parte da Direção presidida pelo Dr. António Ribeiro Ferreira- um dos grandes presidentes do meu SPORTING.
Ora, assim íamos vivendo, embora com motivos de vida diferentes, pois só eu e um outro rapaz, estudámos na cidade.
No entanto, a nossa amizade foi-se cimentando à medida que íamos crescendo no mesmo meio, se bem que com interesses diferentes, já que a maioria não estudava e o nosso convívio quase se resumia aos fins- de- semana.
Ia eu procurando falar-vos da tal menina bonita, e descarrilei com este alongado parêntesis, que como é contemporâneo da informação que recebi do meu amigo António, espero me perdoem.
Então, voltando atrás, devo confessar-vos que aquele encontro na velha estrada, foi o princípio dum grande amor!
Tempos de ventura, em muita aventura, dadas as circunstâncias que pesaram sobre as nossas vidas. Nem sempre o coração resiste ao infortúnio…
A ligação durou cerca de três anos algo agitados, mas também de alguma felicidade- pois, parafraseando o Poeta- foi infinita enquanto durou.
Cada um seguiu a sua vida em linhas paralelas e sabe-se que estas nunca se encontram…
Hoje, ainda encontramos motivo para falar, recordando cenas entre si contraditórias, até com alguma saudade, pois éramos jovens na flor da idade e essa não volta mais.
Quinta da Piedade, 17 de julho de 2014
JGRBranquinho
NOTA:-- Neste dia foi inaugurada a SPORTING  T V- às 19.06 h. Fiquei muito bem impressionado. GRANDE SPORTING!


segunda-feira, 14 de julho de 2014

" OS MARROQUINOS "





“OS MARROQUINOS”

Ainda menino e moço, vivendo no meio campestre, fui habituado, naturalmente-  portanto sem qualquer constrangimento- a uma vida muito diferente da dos meninos da cidade.
 Esses chamavam-nos "marroquinos" com sentido depreciativo, só porque não vivíamos na cidade- a cidade de Portalegre, que ficava a uns escassos cinco quilómetros do meu sítio- o Monte Carvalho- freguesia da Ribeira de Nisa.
Alguns de nós afinávamos com esse apodo, o que gerava, por vezes, brigas ou respostas que entendíamos dever dar, dando azo a desinteligências de certo modo graves, entre nós e eles.
Isto acentuava-se quando íamos à cidade, especialmente quando frequentávamos as escolas e ali permanecíamos mais tempo debaixo dos impropérios desagradáveis com que éramos "mimados".
Julgávam-nos inferiores e riam-se de nós, o que dava origem a rivalidades tremendas, tendo alguns de nós- os mais fracos- chegado a desistir de frequentar as aulas, muito por culpa dos alunos mais velhos, já que coabitavam na mesma escola, alunos do l.º ano (com cerca de 10 anos) com os do 5.º, com a agravante de alguns serem repetentes há vários anos e nós os confundirmos com os professores! Davam-nos ordens e nós tínhamos que cumpri-las à viva força, sempre sob ameaça. Ai de nós se não obedecêssemos!
Os professores e os empregados- ao tempo- não atendiam as nossas queixas e tiveram alguns pais que ir levar e buscar os filhos para obviar a que mais problemas acontecessem.
Foram tempos difíceis para as crianças, até porque eles- os tais "meninos"- já aplicavam as famosas praxes que iam desde o corte de cabelo, molhadela na torneira do pátio, a moedinha para se poder "pintar o pau da bandeira da Escola", até aos roubos de material escolar, para além da violência física!
Evidentemente que isto era mais no princípio, embora durante o ano também se tivesse que suportar a violência desses rapazolas "simpáticos"que não nos deixavam "por o pé em ramo verde".
Claro que o rendimento escolar disso se ressentia pelo constante receio de que andávamos possuídos.
Com o tempo, as coisas lá se iam compondo e posso afirmar que "assente a poeira" dos primeiros meses, os que resistiam, já conseguindo dar luta aos tais diabretes, apresentavam, de modo geral, melhor aproveitamento escolar que eles- incorrigíveis cábulas.
 Um aluno que vem do campo, tem uma cultura de vida muito superior, contactando mais diretamente com a Natureza no amanho e cultivo das terras e no cuidar dos animais; podendo, inclusive, olhar à noite o céu e as estrelas com maior facilidade em sítios onde não havendo ainda luz elétrica, conhecia coisas que os da cidade não conheciam nem sabiam distinguir, confundindo, até, um cavalo com um macho ou com um burro, uma ovelha com uma cabra!
Isto para além de mil e uma tarefas do dia- a- dia que são importantes na nossa vida e que muito naturalmente, um rapaz da cidade não tinha oportunidade de conhecer tão facilmente como um qualquer de nós a viver no campo, aprendendo com os agricultores e outros artífices que ali trabalhavam em oficinas denominadas lojas, como era o caso dos canastreiros e carpinteiros.
Com essa experiência adquirida e os estudos, foram os " marroquinos", comprovadamente, que obtiveram melhores resultados na Escola Industrial e igualmente no Liceu- de um modo geral- quando, à partida, se supunha  que acontecesse o contrário, tal o fraco conceito em que éramos tidos. Vínhamos da "parvalheira!
Não vou dizer que não houvesse entre os outros, também bons alunos, mas nós tínhamos um maior sentido das responsabilidades  e dávamos melhores provas, até no comportamento social/escolar. Por mim- afianço-vos- nunca dei origem a uma expulsão, fosse de que aula fosse! Cumpria, apenas, o meu dever. Estava ali para aprender.
Vantagens de uma origem aparentemente mais modesta, humilde, mas muito mais rica, de que hoje me orgulho por ter sabido cumprir os meus deveres como era devido e, obviamente, para meu próprio bem.


Infelizmente-  quanto às praxes- até quando continuarão com os seus excessos?!

Quinta da Piedade, 13 de julho de 2014
JGRBranquinho

sábado, 12 de julho de 2014

ESFÍNGICA , FECHADA




ESFÍNGICA , FECHADA
Como n’um simples sonho que eu tivesse
Assim foi o fugaz encontro neste dia!
Foi tão irreal, tão banal, que o não sentia!
Como se não existisse nem acontecesse.

Estavas tão insegura, esfíngica, fechada!
Não te reconhecia! Não eras tu- mulher!
Desesperado, deixei-te, como quem quer
Esquecer breve uma tarde desastrada.

O que foi que aconteceu- mulher querida?
Porque razão deixaste minh’alma em f’rida?
O que te deu p’ra que procedesses assim?

Julgava conhecer-te e fiquei surpreendido.
Deixaste-me pouco menos que enlouquecido…
Será que teu amor por mim chegou ao fim?

Monte Carvalho- Ribeira de Nisa
JGRBanquinho


quinta-feira, 10 de julho de 2014

AO SOL- POENTE




AO  SOL -  POENTE

Neste sol-poente da tarde da minha vida
Olho contemplativo o horizonte em frente.
Fixo este céu, esta terra e, num repente...
A tua figura surge elegante- mulher qu'rida.

Quedo-me encantado- minha eterna lida!
Julgo sonhar! Estás no altar dum crente
Que só a ti adora! Que só o peito sente!
Sou o teu Amor, oh! musa inesquecida.

Tarde calma! Tudo é paz em meu redor!
Elevo um pensamento ao Céu- ao Senhor...
Quero eternizar esta aparição bendita.

Tudo se conjugou para minha felicidade!
Tão bela visão é uma sonhada realidade,
É minha maior bênção- minha maior dita.

Quinta da Piedade, 10 de julho de 2014
JGRBranquinho

                                                             


terça-feira, 8 de julho de 2014

MEUS SONHOS - MINHA DESILUSÃO

Terça-feira, 8 de Julho de 2014




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MEUS SONHOS - MINHA DESILUSÃO
Quis o melhor dos mundos em meus sonhos de criança e até da juventude.
Sonhei poder viver longe de intrigas, invejas, traições, discriminações, etc., em uma outra terra- uma terra diferente da que habitamos.
Na minha ingenuidade dos verdes anos, julgava possível uma outra sociedade no nosso meio, onde as pessoas se amassem e, ao menos, se respeitassem!
Isto aconteceu em mim, isto é, dei por isso, quando comecei a conhecer um pouco melhor as pessoas à minha volta, o que aconteceu logo a seguir à minha saída do meu lugar de nascimento- feita a 4.ª classe do ensino primário-e ao ingressar na Escola Industrial Fradêsso da Silveira, na cidade de Portalegre.
Aí, mercê de novos e mais alargados contactos, comecei a surpreender-me desagradavelmente  causando em mim as primeiras revoltas por uma atmosfera nublada, desilusão amarga, bem contrária à que até ali vivera no meu meio, junto dos meus familiares, dos amigos de infância, e das pessoas mais velhas que tanto considerava, vendo-as como amigas e mais sábias, que eu muito respeitava, que eu ouvia e admirava.
Cheguei a pedir a meus pais que não queria estudar mais e me tirassem da Escola, preferindo voltar ao meu Monte Carvalho e enveredar pela atividade duma vida no campo, inclusive pelo trabalho de negócio do meu pai:- negociante de frutas e legumes e com uma pequena indústria de cabazes e madeiras de castanho.
Atraía-me a vida longe da cidade, em contacto com a Natureza. Só não foi assim porque tinha a possibilidade de voltar a casa todos os dias e, aos poucos, lá me fui convencendo e habituando, com a esperança de que, com mais alguns estudos, poderia vir um dia, então, encetar uma outra vida mais de acordo com os meus gostos.
Ao terceiro ano da Escola não me matriculei, mas o Sr. José Gonçalves - filho da minha pensionista, D. Maria D’Assunção de Sousa Alvim Carvalho da Vaza Gonçalves- por mim e por meus pais o fez, pagando multa por já ser fora do prazo.
Lá continuei até terminar o Curso de cinco anos e, já mais adaptado, fiz o Liceu.
Depois, continuei a estudar, fiz o serviço militar em Lisboa, Évora e Coimbra (com manobras em S.ta Margarida) surgindo, então, a ideia de ingressar na Escola do Magistério Primário em Évora, cujo curso completei em 1957, com a nota de 15 valores.
Comecei, nesse mesmo ano, a minha atividade docente em Portalegre- Escola da Fontedeira- onde permaneci dois anos, transferindo-me, então, para Lisboa, onde, apesar da atividade docente, continuei a estudar- no Instituto Superior de Serviço Social e na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, onde obtive o Curso de Ciências Pedagógicas.
Trabalhei, também com docente, na Administração Geral do Porto de Lisboa e na Telescola, tendo fundado um Centro de Postos na Zona dos Olivais, por onde passaram centenas de alunos, pois não havia ali, ao tempo, Escolas do Ensino Preparatório.
Hoje, já aposentado, tenho como hobbies mais agradáveis, a Poesia, a Música e o Canto. Publiquei o livro de Poesia –“CANTOS DO MEU CANTO” e colaborei em cerca de meia centena de Antologias de Poesia e Prosa Poética Portuguesa Contemporânea, para além de trabalhos em poesia e prosa em jornais e revistas
 Dirijo o Departamento de Cultura e Recreio do Sporting Clube de Portugal, onde tenho “ A TERTÚLIA CANTO E POESIA”, “O CORO POLIFÓNICO” e a “SECÇÃO FILATÉLICA”.
Sou membro de algumas Tertúlias em Lisboa, Setúbal e Portalegre e participo em apresentação de Exposições de Pintura e Lançamento de Livros, como convidado.
Ah! Já me esquecia!...
Lembrei-me, curiosamente, de escrever este apontamento, no dia dos meus anos, sempre saudoso do meu Norte Alentejo e dos familiares e amigos do peito que lá perdi.
Volto repetidas vezes- e sempre com muito agrado- ao meu lugar, à minha velha casa no meu Monte Carvalho- Ribeira de Nisa- Portalegre- uma casa à vossa disposição.
Quinta da Piedade, 8 de julho de 2014
JGRBranquinho
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domingo, 6 de julho de 2014

QUANTAS VEZES!

 


 Q U A N T A S    V E Z E S !
Quantas vezes te procurei nesta cidade, motivado por este amor sublime- o mais sublime!
Quantas vezes, por razão deste mesmo amor- deste amor proibido- demorei longos minutos nos sítios onde poderias ir, que eram aqueles onde, por vezes, nos encontrávamos!
Quantas vezes te não pude ver e ter, ainda que por apenas alguns instantes!
Quantas desilusões, mas sempre fortalecido pela esperança de que no outro dia isso haveria de ser possível, tudo por mercê da paixão comum que nos ligava!
Ligava-te - e, por vezes, embora correndo riscos- falávamos, confortávamo-nos e confiávamos que no dia seguinte haveríamos de nos encontrar.
Ressaltava dessa curta conversa a dor e o desespero por aquele dia de inêxito, mas, ainda assim, com a esperança quase certeza de que na manhã seguinte seríamos bem-sucedidos.
Para mim, a noite era passada em sobressalto! Nunca mais era dia!
Bem cedo, lá ia eu. A cada passo, na tua direção, sentia algum temor… mas, guiado e sustentado pela fé, continuava a caminhar ao teu encontro, num entusiasmo louco mas simultaneamente prudente.
Se aparecias, como estava combinado, era o êxtase!
Os primeiros passos, as primeiras palavras eram algo de estranho, tal a emoção!
Era um prazer maior, superior ao domínio dos nervos, superior à inteligência, e o que te dizia talvez nem fosse o mais apropriado. Não era, decerto!
Volvidos minutos, tomando o habitual café, acalmava-me e então já era eu, abrindo-te sem reservas a minha alma e o meu coração e ouvindo as tuas reações de agrado a que não faltava uma carícia trocada e o guardar de uma recordação tão simples como a do pacotinho de açúcar vazio, para nele escrevermos um pequeno mas significativo pensamento.
Por vezes saíamos para um lugar mais atraente (quantos foram?!) e ali nos amávamos sem reservas, almoçando, por vezes, em sítios que escolhi e nos marcaram, fortalecendo os laços que nos ligaram para todo o sempre.
Quisera, hoje mesmo, poder dar-te a ler este pequeno trecho. Sei que o apreciarias por ser verídico. Sei que o sentirias como sinto.
A confiança continua. Perdurará eternamente.
Monte Carvalho- Ribeira de Nisa
(Sem data)
JGRBranquinho


É C L O G A




É  C  L  O  G  A

Por muito procurar te encontrei
na serra amiga onde moravas!
Não sentia cansaço! Me alegrei
ao ver-te linda, como estavas.
Não perdi o tempo que ali fiquei...
Te olhei e abracei com todo o ardor,
demos largas ao nosso coração.
Venceu a certeza dum imenso amor!
Outros dias, por certo, se seguirão...
Dia-a-dia aumentando o seu valor.

Voltei feliz, mas também já saudoso!
Ali ficavas naquele ermo, tão distante...
muito embora num lugar delicioso
onde te criaste- ó doce amante!
Caminhando a sós, menos ansioso,
dentro do meu peito em desatino,
se acoitava um pobre coração!
Foi assim que quis nosso destino.
Lá longe, já distante, uma canção
que eu quisera fosse o melhor hino.

Monte Carvalho- Ribeira de Nisa
( Sem data )
JGRBranquinho



sexta-feira, 4 de julho de 2014

AH! HOMEM DUMA CANA ! AH! MULHER DUMA CANA!




AH! HOMEM DUMA CANA!  AH! MULHER DUMA CANA !

Esta, a expressão que hoje recordo.
Ouvi-a há muitos anos, pela primeira vez, na minha Ribeira de Nisa.
Era uma expressão de muita admiração por aqueles ou aquelas que se distinguiam num qualquer ramo de atividade.
Era muito frequente naquele tempo, constituindo, até, um forte incentivo para quem, por obra sua, se tornava digno da admiração das pessoas que os viam como alguém mais sábio, mais forte, mais competente no âmbito das tarefas que lhe incumbiam.
Expressões que quase caíram em desuso, e de tal modo que, fazendo eu uma experiência há tempos, verifiquei que muitos a desconheciam.
Antigamente dava-se muita importância a expressões que tinham, até, um sentido engraçado e refletiam com propriedade situações do dia-a-dia, tais como esta em que se demonstrava admiração por alguém e era, simultaneamente, um elogio que agradava, logicamente, àqueles a quem se dirigia, constituindo um incentivo para continuarem, e, se possível,  aprimorarem as suas qualidades.
Recordo, também, algumas de acusação, de censura, como :- "não tem careio", " mau como as cobras" " tem o diabo no corpo" " mal azado", etc. etc.. que talvez nos meios rurais ainda se mantenham.
Recordo, também, o uso dos ditados, que os havia, bem ajustados, para a grande maioria das situações.
Quanto a estes, surgem, agora, algumas pessoas que num trabalho meritório de prospeção - como foi o caso da minha amiga Deolinda Milhano, que conseguiu reunir vinte e cinco mil ditados populares, e se apresta para uma nova publicação correta e aumentada, que em breve teremos ao nosso dispor.
São tudo formas louváveis de recuperar expressões da nossa identidade que são nosso património, enriquecendo a nossa língua e mostrando  aos mais jovens, ditos de espírito que eram de uso corrente no passado, mantendo bem vivas essas nossas ancestrais tradições.
Constituíam e ainda por vezes constituem um bom recurso da língua, nos contactos diários. Quantas vezes se recorre a eles para acentuar ideias, valorizando o teor das conversas ou reforçando uma afirmação de cada um dos interlocutores.
Por isso, amigos, além da graça própria que têm, não devemos desprezar esse conhecimento ancestral que ilustra e enriquece uma boa conversa. Se são úteis, porque deixá-los no esquecimento?!
Ainda bem que há pessoas que os utilizam, transmitindo-os no seu dia-a-dia aos seus comparsas e outras que os publicam, de modo a ficarem registados para a posteridade.
Eu utilizo-os com frequência, por hábito já muito antigo e porque gosto.

NOTA:-Comecei por uma expressão, também antiga e acabei nos ditados. Não me levem a mal.
O meu OBRIGADO aos que me lerem, fazendo, claro, cada um o seu juízo.

Quinta da Piedade, 4 de julho de 2014
JGRBranquinho