domingo, 20 de julho de 2014




A   R O S I N H A


Era noite já avançada.
Sentada numa cadeirinha, a cabeça recostada no colo da mãe (que fazia malha talvez para um cachecol ou outra peça de agasalho)  a Rosinha dormitava já há algum tempo.
Talvez sonhasse com as brincadeiras que tivera com as amigas do lugar onde habitava, talvez sonhasse com o dia em que foi à feira e lhe compraram os primeiros sapatinhos, talvez sonhasse- quem sabe?- com histórias que a avó lhe contava e que já conhecia de cor!...
A mãe, já cansada também, decidiu acabar com o trabalho que estava a fazer e lá a foi acordando aos poucos, suavemente, parecendo recear despertá-la do que poderia estar a ser um sonho lindo da filhota.
-Rosinha!... Rosinha!... Vamos, filhinha!... Vamos para a caminha.
A menina, espreguiçando-se... levantou os bracitos para que a mãe a pudesse segurar melhor, agarrou-se-lhe ao pescoço e encostou-lhe a cabecita no ombro.
Levada pela mãe lá foi para o seu quarto, que ficava mesmo junto ao dos pais, estando, assim, mais protegida no caso de algum pesadelo ou susto por barulho que viesse do exterior.
Era uma criança bastante medrosa. Contavam-lhe histórias pouco próprias para sua idade, ouvia as lendas daquele tempo, quase sempre, igualmente pouco adequadas aos seus quatro aninhos, e isso, como é natural, influenciava-a negativamente.
Ao tempo-ano de 1907- vivendo no campo, lá bem no interior do Alentejo, até uma ida à cidade era rara!
Vivia-se muito isolado porque também os caminhos eram autênticas azinhagas onde mal cabia uma carroça, que muito poucas havia!...
Ir a pé era o mais normal- a não ser de burro, para aqueles que o tinham- e que também eram poucos.
Já pensaram como seria viver naquele meio, naquele tempo?
Uma criança ali criada, restava-lhe o convívio com os pais e com algumas crianças das redondezas, e mesmo assim, por vezes algo distantes.
Era um meio bastante pobre, onde havia, no entanto, alguns ricalhaços que impunham as suas leis e eram, inclusive, admirados.
Era assim neste meio que viviam os pais da Rosinha.Tinham uma pequena horta e o pai era canastreiro, trabalhando numa parte da casa que habitavam- a chamada loja.
Lá viviam sem muitas exigências, o que também não dava para que tivessem muitas queixas, tão habituados estavam àquele viver desde os seus tempos de juventude.
(Voltando à nossa menina ).
Naquela noite (ainda acordada) teve uma ideia fantástica!
- Um dia- de manhã, muito cedo-  hei de ir ao monte em frente e hei de tocar no Sol!
Se está ali mesmo pegado ao monte!...
E à Lua também gostava de lhe tocar, mas é só à noite e eu tenho medo... só se pedir ao meu pai para me levar lá...
 Esta história é verdadeira. Contou-ma a própria Rosinha- a minha saudosa mãe.
 Quinta da Piedade, 20 de julho de 2014
JGRBranquinho



3 comentários:

  1. E eu conheci a Rosinha, a minha avó, sempre medrosa, mas de convicções fortes e de grande determinação a Rosinha, sempre a trabalhar até que a vista o permitiu. bela história!

    ResponderEliminar
  2. Obrigado por teres lido e deixado o teu comentário- Dulce!
    É bom recordarmos quem muito fez por nós, dotada de qualidades naturais que lhe permitiram ser tão útil, quanto amiga.
    Quando o faço é sempre com muita emoção. Eu devo-lhe tudo e nunca a esquecerei. OBRIGADO ROSINHA! OBRIGADO DULCE!.

    ResponderEliminar
  3. Everything is very open with a very clear description of the challenges.
    It was truly informative. Your site is very useful.
    Thank you for sharing!

    Look into my website comment pirater une carte de credit

    ResponderEliminar