Naquela pego que na ribeira havia
Todas gostavam duma pedra de lavar
Que com esforço e arte de admirar
Ali fora posta pela Rosa Maria.
Descia, para a ribeira, uma jovem mulher levando num cabaz de madeira de castanho, a roupa da casa- a roupa da semana- fazendo-se acompanhar por seu único filho de cerca de sete anos de idade.
Era Primavera e estava o tempo ainda algo frio- o tempo naquela zona nas encostas da Serra de S. Mamede.
Pelo caminho, a cada passo, ia pensando nos problemas do seu dia-a-dia e, até, como iria encontrar na ribeira a sua pedra de lavar, onde regularmente procedia à lavagem da roupa.
Ali chegada, era a vez de dar um jeito na pedra que com esforço e arte ali colocara há muito, se a mesma não se encontrava nas condições que considerava ideais para executar a sua tarefa semanal.
A água, como sempre, corria límpida e forte, embora no pego se espraiasse suavemente até cair do açude, de novo no caudal da ribeira, beijando as pedras por si gastas, nesse passar constante, correndo para a Barragem da Póvoa e Meadas, ainda distante.
( Nesse pego, também os canastreiros deixavam as varas de madeira de castanho- a amaciar- para melhor as trabalharem nas lojas- ou oficinas- onde faziam os cabazes ou canastras e cestas, ambos tão úteis e necessários nos trabalhos agrícolas na altura.)
Voltando um pouco atrás, devo dizer-vos que as mulheres, desde que a Rosa Maria ali estivesse, se deslocavam para outro lugar, respeitando quem tivera o trabalho e o jeito de colocar aquela pedra de lavar.
Era um sinal de admiração que lhes ficava bem e sem esforço denotavam.
Como já disse atrás, a Rosa Maria levava consigo o filho- desde que não houvesse aulas.
Este- enquanto a mãe lavava, corava e secava a roupa- divertia-se na sua predileta aventura, pescando com o auxílio dum cabaz forrado a folhas cor da esperança, onde os peixes iludidos iam entrando, se estava em dia de sorte!... Ou então- já um tanto cansado- o rapaz ia vogando o seu barco de papel nas águas da dita ribeira- a Ribeira de Nisa- de seu nome.
Tudo isto- e sempre- escutando o marulhar das águas de pedra em pedra, serpenteando por entre as margens, e, ao mesmo tempo, sob a paradisíaca impressão do canto dos rouxinois, pintassilgos, melros, tentilhões, arvéloas e, ainda, de alguns galos das casas ali perto, à sombra dos salgueiros e junto dos sabugeiros em flor que ornavam a ribeira mais bonita que já conheci.
Acabada a tarefa, lá vinha a Rosa Maria com o filho- a lavadeira e o "pescador"- estrada acima, contentes por terem podido desfrutar daquele paraíso ali tão perto de casa e tão útil aos dois.
Oh! Benditos tempos! Benditos tempos da década de quarenta!
Nesse tempo- fugaz e inesquecível- o José só via a parte boa da vida, sem compromissos nem ralações, no aconchego do lar, sob a ditosa proteção de seus pais e, também, muitas vezes, de uma santa mulher- a avó materna, Maria Joaquina- a quem queria como se fora sua mãe.
A Rosa Maria era a minha mãe e o José era eu.
Quantas saudades moram em mim ainda hoje!
Saudades da família, dos vizinhos e amigos de infância que eu sentia como irmãos.
Oh! Benditos tempos! Benditos tempos!
JGRBranquinho
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