quarta-feira, 9 de março de 2016

UMA TRAGÉDIA



Foi chorada por todos, no lugar, a sua morte tão precoce. Tão novinha era, ainda!
A Alzirinha- minha amiga mais nova- era uma inocente criança de poucos anos, ainda muito mais próxima das suas brincadeiras com bonecas, do que ter, já, um namorico.
Eram coisas de crianças- dizia-se- ninguém admitindo, ainda, os perigos que daí poderiam advir.
Nem os próprios pais, aliás muito mais preocupados com as suas tarefas campestres, alguma vez pensaram no que iria acontecer.
Se os jovens eram vistos juntos, não se atribuía a isso alguma intenção menos própria, e longe estavam todos de adivinhar o que iria acontecer, naquele pacato meio onde viviam, até porque nunca uma tragédia assim tinha acontecido (eram pouco mais que duas crianças, embora ele fosse ligeiramente mais velho).
Foi na distante época de quarenta e, num certo dia- tristíssimo dia esse - soube-se que a menina tinha morrido!
O que foi, o que aconteceu- perguntavam todos- sem que algum de nós pensasse na verdadeira razão da morte da jovem, pois nunca se admitiria uma tragédia dessas!
A família, assustada pela gravidez da rapariguinha, não querendo que ninguém soubesse do acontecido, recorreu a uma parteira. Tudo correu tão mal que a pobre veio a falecer para mal de todos, especialmente para ela e seus familiares, e enorme desgosto de toda a gente do meio, apanhada de surpresa perante tal desgraça.
Lembro-me que nós, os mais novos, fomos ao funeral sem sabermos a razão da sua morte! Era assim naquela época, vivendo numa sociedade muito fechada em si mesma. Só mais tarde viemos a saber.
Eram dois jovens inocentes, mal esclarecidos, e falar desses temas era “tabu”!
Era um tempo em que, se as coisas não eram piores, era porque havia alguém mais avisado e lá esclarecia:- em alguns casos, ou quase sempre, fora da família!
No que deu? Uma tragédia que poderia ter sido evitada! Uma tragédia sem remédio.
Paz à sua alma de inocente! Perdão para os que, sabendo, não tinham coragem de abordar tal tema, esclarecendo os jovens.
Situações trágicas que nunca poderiam nem deveriam acontecer.
Quinta da Piedade, 9 de março de 2016
JGRBranquinho


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