domingo, 13 de novembro de 2016

RECORDANDO




  RECORDANDO
Recordando o meu passado mais longínquo- aquele que aqui vivi na infância, juventude e adolescência- veem-me à memória episódios de grande significado, de tal forma que não mais os vou esquecer.
Era um tempo muito diferente do que o que estamos a viver, e de que só mais tarde, por comparação, verifiquei como, a pouco e pouco, a vida se modificou no País, especialmente para mim no sítio onde vivi até cerca dos vinte anos, altura em que, mercê da ida para a vida militar,  como miliciano, fui para Lisboa. Calculem quão forte foi a transição, saindo do interior norte alentejano, embora já tivesse estado por períodos breves, na capital, em casa de uns tios meus.
Hoje refiro, apenas ao de leve, esta ida para Lisboa, pois quero antes falar de algumas alterações que se foram verificando aqui no meu sítio, desde os meus verdes anos.
Tínhamos o largo da aldeia livre para as nossas brincadeiras, sem automóveis nem motos; apenas algumas bicicletas utilizadas por alguns homens que se deslocavam para as fábricas “ROBINSON” e “LANIFÍCIOS” em Portalegre, pois a maioria ia a pé, quer pelas veredas da Serra, quer pela velha estrada, onde o trânsito era essencialmente formado por carroças, alguns trens e animais de sela.
Muitas crianças andavam descalças e até alguns homens e mulheres, mesmo no trabalho!
Existia aqui uma pequena indústria:- a dos cabazes de madeira de castanho, feitos pelos canastreiros no rés-do-chão das suas casas- mas muito importante na economia local, a par da agricultura, que constituíam o sustento de famílias inteiras, algumas até com muitos filhos.
Daqui saíam, por ano, milhares de cabazes especialmente com destino a Lisboa e Porto para o Mercado Abastecedor de Frutas e Doca Pesca, pois havia, também a sua utilização imprescindível nestes meios rurais, ao serviço da agricultura e transporte dos géneros para mercados e feiras, desconhecidos como eram, ao tempo, as caixas de pinho e de plástico.
(Muito haveria a dizer sobre estas duas principais atividades, mas deixarei para um próximo apontamento).
Existiam, duas casas de comércio (taberna, mercearia e salsicharia) cuja utilidade facilmente se pode calcular, até como único ponto de encontro dos homens, que ali tratavam, também, dos seus negócios.
As idas a Portalegre, Castelo de Vide e Elvas, eram as mais comuns, mas...de carroça, essencialmente, nos dias de mercado ou feiras.
Tínhamos duas escolas:- a dos rapazes e a das raparigas, que por muitos anos assim funcionaram; só muito mais tarde, na década de setenta- após o Vinte e Cinco de Abril- teve início a escola única para os dois géneros.
O nosso recreio (e onde passávamos a maior parte do tempo extra- escola, quer dando largas à nossa imaginação, quer praticando os jogos tradicionais) era o grande largo da aldeia de Monte Carvalho, freguesia da Ribeira de Nisa onde nasci e vivi até cerca dos vinte anos.
Havia o salão onde frequentemente se realizavam festas, especialmente bailaricos, embora também ali tivéssemos tido um Teatro Amador com atores jovens só da terra- onde também participei-  e que foi um verdadeiro sucesso na altura, realizando bastantes espetáculos sob a direção de um jovem de Lisboa- o Roque- filho de um casal que ao reformar-se aqui se fixou. Além das pessoas da aldeia, vieram muitas da cidade e de outras freguesias, presenciar as nossas atuações.
A Festa Anual da freguesia era e é em honra de Nossa Senhora da Esperança, no último domingo de agosto, com missa e procissão junto à Igreja e, a parte pagã, com a velhinha e tradicional “quermesse”, barraca das farturas- aqui designada por massa frita- bailaricos acompanhados, por bons acordeonistas e mais recentemente com atuação de conjuntos musicais, a célebre tourada “à vara larga” e ainda alguns jogos tradicionais (onde também participavam adultos) a terem lugar no belo largo do Monte Carvalho.
É por esta altura- aliás, como noutros lugares do país- que ainda hoje muitos voltam à terra, visitando familiares ou alguns, vindo para suas próprias casas que vão restaurando e aqui mantêm.
Há mais animação, há mais vida na freguesia, por esta altura, num matar de saudades dos bons velhos tempos, que se espera e deseja possa perdurar.
FESTA É FESTA! VIVA A FESTA!

Monte Carvalho, 3 de janeiro de 2014
JGRBranquinho



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