RECORDANDO
Recordando o meu
passado mais longínquo- aquele que aqui vivi na infância, juventude e
adolescência- veem-me à memória episódios de grande significado, de tal forma
que não mais os vou esquecer.
Era um tempo muito
diferente do que o que estamos a viver, e de que só mais tarde, por comparação,
verifiquei como, a pouco e pouco, a vida se modificou no País, especialmente
para mim no sítio onde vivi até cerca dos vinte anos, altura em que, mercê da
ida para a vida militar, como miliciano, fui para Lisboa. Calculem
quão forte foi a transição, saindo do interior norte alentejano, embora já
tivesse estado por períodos breves, na capital, em casa de uns tios meus.
Hoje refiro, apenas ao
de leve, esta ida para Lisboa, pois quero antes falar de algumas alterações que
se foram verificando aqui no meu sítio, desde os meus verdes anos.
Tínhamos o largo da
aldeia livre para as nossas brincadeiras, sem automóveis nem motos; apenas
algumas bicicletas utilizadas por alguns homens que se deslocavam para as
fábricas “ROBINSON” e “LANIFÍCIOS” em Portalegre, pois a maioria ia a pé, quer
pelas veredas da Serra, quer pela velha estrada, onde o trânsito era
essencialmente formado por carroças, alguns trens e animais de sela.
Muitas crianças
andavam descalças e até alguns homens e mulheres, mesmo no trabalho!
Existia aqui uma
pequena indústria:- a dos cabazes de madeira de castanho, feitos pelos
canastreiros no rés-do-chão das suas casas- mas muito importante na economia
local, a par da agricultura, que constituíam o sustento de famílias inteiras,
algumas até com muitos filhos.
Daqui saíam, por ano,
milhares de cabazes especialmente com destino a Lisboa e Porto para o Mercado
Abastecedor de Frutas e Doca Pesca, pois havia, também a sua utilização
imprescindível nestes meios rurais, ao serviço da agricultura e transporte dos
géneros para mercados e feiras, desconhecidos como eram, ao tempo, as caixas de
pinho e de plástico.
(Muito haveria a dizer
sobre estas duas principais atividades, mas deixarei para um próximo
apontamento).
Existiam, duas casas
de comércio (taberna, mercearia e salsicharia) cuja utilidade facilmente se
pode calcular, até como único ponto de encontro dos homens, que ali tratavam,
também, dos seus negócios.
As idas a Portalegre,
Castelo de Vide e Elvas, eram as mais comuns, mas...de carroça, essencialmente,
nos dias de mercado ou feiras.
Tínhamos duas
escolas:- a dos rapazes e a das raparigas, que por muitos anos assim
funcionaram; só muito mais tarde, na década de setenta- após o Vinte e Cinco de
Abril- teve início a escola única para os dois géneros.
O nosso recreio (e
onde passávamos a maior parte do tempo extra- escola, quer dando largas à nossa
imaginação, quer praticando os jogos tradicionais) era o grande largo da aldeia
de Monte Carvalho, freguesia da Ribeira de Nisa onde nasci e vivi até cerca dos
vinte anos.
Havia o salão onde
frequentemente se realizavam festas, especialmente bailaricos, embora também
ali tivéssemos tido um Teatro Amador com atores jovens só da terra- onde também
participei- e que foi um verdadeiro sucesso na altura, realizando
bastantes espetáculos sob a direção de um jovem de Lisboa- o Roque- filho de um
casal que ao reformar-se aqui se fixou. Além das pessoas da aldeia, vieram
muitas da cidade e de outras freguesias, presenciar as nossas atuações.
A Festa Anual da freguesia
era e é em honra de Nossa Senhora da Esperança, no último domingo de agosto,
com missa e procissão junto à Igreja e, a parte pagã, com a velhinha e
tradicional “quermesse”, barraca das farturas- aqui designada por massa frita- bailaricos
acompanhados, por bons acordeonistas e mais recentemente com atuação de conjuntos
musicais, a célebre tourada “à vara larga” e ainda alguns jogos tradicionais (onde
também participavam adultos) a terem lugar no belo largo do Monte Carvalho.
É por esta altura-
aliás, como noutros lugares do país- que ainda hoje muitos voltam à terra,
visitando familiares ou alguns, vindo para suas próprias casas que vão
restaurando e aqui mantêm.
Há mais animação, há
mais vida na freguesia, por esta altura, num matar de saudades dos bons velhos
tempos, que se espera e deseja possa perdurar.
FESTA É FESTA! VIVA A
FESTA!
Monte Carvalho, 3 de janeiro de 2014
JGRBranquinho
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