CENAS DA VIDA REAL-"DÁ AS NOZES AO SENHOR"!
CENAS DA VIDA REAL
“DÁ AS NOZES AO SENHOR”
Saira de casa com a minha mulher- grávida de 6 meses da primeira filha- para, a conselho médico, darmos um passeio por Lisboa, à tardinha.
No regresso, chegados ao Largo do Conde Barão- onde vivíamos no 4.º andar do n.º 27- deparámos com um vendedor ambulante rodeado de compradores.
O homem dispunha de uma balança de braços iguais, que segurava numa das mãos, utilizando a outra para colocar as nozes e os pesos respetivos nas denominadas conchas.
As pessoas aguardavam a sua vez, enquanto o dito vendedor, ao mesmo tempo que pesava, ia apregoando, com quanta voz tinha, o preço do produto, tido como muito barato…
Reparei, então, que tinha sempre um ou outro peso numa das conchas, mudando-o conforme lhe dava jeito e de acordo com o pedido das pessoas, claro. Mas… mantinha sempre um, que ora acrescentava ora tirava!
Para além disto, manejava a balança com a mestria de homem sabido e intrujão, valendo-se do cotovelo do lado onde estava a mercadoria, inclinando-a assim, para baixo, o que dava a ideia de muito bem pesado, estando, no entanto, a roubar no peso.- Aliás, esta manha era conhecida de algumas pessoas ligadas aos mercados de então.
Apregoava-se barato, mas lá se ia o aparente ganho pela menor quantidade de mercadoria.
Chegada a minha vez, pedi-lhe que me pesasse um quilo de nozes e disse-lhe:- “Pese isso bem”!
-Responde-me de imediato:- Ó meu senhor, aqui não se engana ninguém!
Entretanto, puxo da carteira, onde tinha, por brincadeira, um cartão anedótico, semelhante a um que era usado por alguns funcionários do Estado (especialmente fiscais) e que tinha uma faixa verde e vermelha na diagonal.
O homem repara no cartão e, sabendo bem o que estava a fazer, diz à companheira que recebia o dinheiro;- “Ó mulher, dá as nozes ao senhor, dá as nozes ao senhor”!
A minha reação foi a de não aceitar e de lhe dizer que eu queria apenas as nozes bem pesadas.
Deu-me mais algumas e teve que ouvir (ouviu mesmo e cumpriu?) o meu conselho/ameaça no sentido de não voltar a cometer tal irregularidade.
Despedimo-nos e ele lá continuou a marcha para ir vender para outro lado, na sua faina de vender barato, enganando o próximo, quem sabe?!
Cenas da vida! Cenas da vida!
Quinta da Piedade, 7 de outubro de 2012- JGRBranquinho
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