terça-feira, 24 de dezembro de 2013

UM QUADRO DO MEU TEMPO






UM  QUADRO DO MEU TEMPO   ( Música das "Saias")

Montados no seu burrico
Filho e mãe vão pra cidade.
É grande a felicidade
Não sei se para o gerico...

Lá vão contentes pra lida
Fazer as compras à feira.
Cada qual à sua maneira
Deitando contas à vida.

 A mãe pensa no dinheiro
Que é pouco para gastar...
O filho sempre a sonhar
Ter na mão o mundo inteiro.

 Cansados deixam a feira
Voltam já tarde pra casa.
No lume um cepo em brasa
É bálsamo para a canseira.

Jantam os dois com o pai
Contam como foi o dia.
Foi um dia de alegria
Que afinal passou num ai.

Mostram as compras, contentes,
Cada um mais satisfeito.
Vê-as o pai a preceito
Estão todos mui sorridentes.

Chega a hora de ir deitar
Está a família feliz!
Mas ainda mais o petiz...
Com o que pode comprar.

Nota:- Estas quadras são o retrato duma situação vivida há muitos anos.
Quinta da Piedade, 24 de dezembro de 2013.
JGRBranquinho





terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O "TI" VAQUINHAS



 

O  “TI”  VAQUINHAS
Conheci-o nos meus tempos de menino.
 O ”Ti” Vaquinhas, como era geralmente conhecido no meio, era um homem bom e um crente que, lendo a Bíblia assiduamente, acreditava na segunda vinda de Jesus Cristo ainda no seu tempo e que, assim, não iria passar pela morte, assistindo a essa manifestação divina.
O “Ti” Vaquinhas vivia só, pois a mulher havia-o deixado para ir fazer companhia a uma velha tia rica que vivia na cidade e a quem ele acusava de ter destruído a sua harmonia familiar.
No entanto, o nosso homem, era ainda dono de duas propriedades rurais que lhe davam (apesar dos maus tempos que também se viviam na época) para o seu sustento, ainda que frugal- talvez mesmo insuficiente-  dadas as suas limitações como homem que não estava habituado a viver sozinho e que naturalmente não as saberia ultrapassar, mormente a da alimentação, depois da situação que lhe foi criada pela falta da mulher.
Tinha dois filhos já casados e que viviam longe dali e descuravam um pouco a assistência ao pai, só o visitando de tempos a tempos.
 Admirava-o, respeitava-o, ouvindo as bonitas histórias de vida que sempre tinha para nos contar com tal realismo que a todos nós impressionava, sequiosos como estávamos, não só pela nossa pouca idade, mas também pela escassez de meios no interior do país, onde nem sequer um rádio havia e o jornal “O Século” vinha com destino à Junta de Freguesia e, depois, mais tarde, à Casa do Povo.
(O meu padrinho começou então a assinar “ O Primeiro de Janeiro”, e era um prazer para mim, logo que comecei a ler, poder folheá-lo e deliciar-me com a página infantil de onde eu tirava indicações para trabalhos manuais, auxiliado por meus pais e, por vezes, pelo meu tio Manuel S. Bento          
No nosso dia a dia inventávamos brincadeiras no largo da aldeia, que sempre era melhor que irmos aos ninhos ou à caça com a nossa fisga, para além da pesca na ribeira, que, ainda assim, só era preocupação para os pais no receio de que algo de mal nos sucedesse nos pegos, alguns já com alguma profundidade. Era um mal menor num passatempo que também muito nos agradava.
Voltando ao “Ti” Vaquinhas relembro uma série de histórias, que tendo a sua graça, nos prendiam a atenção, sendo ele um verdadeiro mestre na arte de as contar. Crescemos e continuámos a gostar de o ouvir, embora por vezes já conhecêssemos essas histórias. Até os adultos, conhecendo muitas delas, paravam para o ouvir.
Naquele tempo era assim no meu meio. Este homem, sem o saber, fazia um exemplar trabalho na aldeia- um verdadeiro pedagogo- que estando mais disponível, era um excelente “entreteiner”e tinha em nós todos um amigo e admirador.
Na época invernosa, inclusive, havia homens que, ao saírem das tabernas, lhe batiam à porta para se aquecerem à sua lareira até altas horas da madrugada, por vezes pedindo-lhe, inclusive, para ir assar um bocado de toucinho, farinheira ou chouriço, o que ele fazia de boa vontade. 
Era uma festa e ele, na sua bondade, até agradecia, pois assim estava acompanhado. Era, afinal, bom para todos o aconchego da lareira em alegre convívio, incluindo canções daquele tempo e fados que alguns se atreviam a cantar. Até as mulheres da aldeia, ficavam mais descansadas, sabendo que os maridos já não estavam na taberna.
Como recordo com saudade esses tempos, perante estas e outras situações, onde as pequenas coisas a que tínhamos acesso eram de um valor sobrenatural! Incluo aqui, também, os bailaricos no salão, a vinda, por vezes, de artistas circenses e fadistas e a  exibição de filmes ao ar livre como “ O Homem do Ribatejo” com grandes artistas como Hermínia Silva, Barreto Poeira, Virgílio Teixeira, Vasco Santana, Eunice Muñoz, etc..  Eram verdadeiros acontecimentos que enchiam de alegria o povo da minha Ribeira de Nisa, especialmente do meu Monte Carvalho.
Tudo era diferente e tinha um especial encanto, especialmente para nós, os mais jovens, vivendo longe do bulício das grandes cidades, que desconhecíamos, verdadeiramente.
 Só quem viveu naqueles meios pode avaliar o que representavam essas autênticas dádivas recebidas no interior, nos anos quarenta, também tempos de pobreza.
Claro que reconheço quanto hoje a vida é diferente. Não serei nunca contra o progresso. Limito-me a exaltar algumas das virtualidades da vida num tempo de carências materiais- é certo-  mas onde, ainda assim, havia trabalho, embora mal remunerado.
Nos campos- hoje quase totalmente ao abandono- tristemente- ainda se semeava, colhia e se cuidavam os pomares, ocupando grande parte da população. Depois, o que aconteceu?! Grandes disparates de ordem política que dia a dia foram contribuindo para a desertificação do interior e correspondente fecho de pequenas indústrias e abandono dos trabalhos agrícolas tão essenciais à vida do país.
O "Ti" Vaquinhas, já no final dos seus dias (qual profeta) bem avisava, chamando a atenção para os perigos que segundo ele poderiam advir, se se abandonassem os campos, esquecendo a Mãe Natureza.
Não era só um contador de histórias, o "Ti" Vaquinhas. Curvo-me perante a sua memória.
Que descanse em paz!.
Quinta da Piedade, 14 de dezembro de 2013
JGRBranquinho


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

SONETO:- " O AMOR"

                   

 O  AMOR
Quantas vezes já cantei eu o AMOR?...
Se me perguntam… não sei responder!
Sei, apenas,  que gosto de o escrever
Em meus momentos de alegria ou dor.

Escrevo por amor ao sagrado Amor!
Aquele que une um ser a outro ser.
Escrevo-o porque sinto merecer
Render-lhe, cada dia, o meu louvor.

Amor é… o mais nobre dos sentimentos!
Devia estar presente todos os momentos
Para cumprirmos o mandamento de Jesus.

O Amor! Ah! sim, o Amor! Sempre o Amor!
Ligação forte em momentos d’alegria ou dor
Iluminados os corações por sua eterna luz.

Quinta da Piedade,14 de novembro de 2013
José G.R.Branquinho
Ex,mo Senhor Mário Zambujal-
-Dign.mo Diretor do Jornal “  O  SENIOR”
Acabo de escrever este soneto e aqui estou a  enviar-lho..
Se vir que pode ter interesse, agradeço-lhe a publicação.
Com os meus cumprimentos e os desejos de longa vida para si e para o nosso Jornal,
O assinante n.º 135
José G. R.Branquinho



terça-feira, 12 de novembro de 2013

SOBRE O MEU APONTAMENTO:- "QUANDO ME FALAS"

Minhas queridas amigas:- Natália, M.José, M. Rosa e Landa
Quando alguém escreve pelo prazer de escrever e sente predileção por uma das facetas da vida (no meu caso pelo amor- para mim o mais importante-) também tem presente algo de ficção...
"Colocamo-nos na situação de" e com um pouco de imaginação, realidade e ficção podem andar de mãos dadas. Portanto, atenção, amigas!
Não me considero um escritor ( gostaria muito de o ser) nas adoro escrever.É mesmo uma das minhas paixões e de vez em quando acontecem escritos como este.
O gosto da escrita é uma atividade onde cabem realismo e imaginação, completando-se para procurar enriquecer o texto.
Não levem tão a peito  o sentido e verdade das palavras que escrevo. Eu gosto de o fazer, satisfazendo-me sem ter um alvo preciso ( mulher) mas inspirando-me em vivências tidas que agora vou mostrando a quem ainda tem a pachorra de me ler.
Aqui fica o aviso. Não ando "a padecer de paixão"- como dizem lá no meu sítio- nem é uma fixação.
Beijinhos.
Comentário de natalia canais nuno ontem
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Quem dera ser a inspiradora desta prosa poética tão amorosa...
Trazes a juventude contigo, pelo menos nas palavras...gostei de ler-te

beijinho e boa semana
Comentário de Maria José Monteiro Reis domingo
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Um bonito texto de amor que gostei de ler.
Um beijo.
Comentário de Maria Rosa Redondo Pedro Teixeir sábado
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Li este texto com emoção.
Faço minhas as palavras da Landa.
Que sejam FELIZES.
 Beijinhos para si e para a musa inspiradora.
  Rosa
Comentário de Landa Machado sábado
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Lindíssima declaração de amor, meu amigo.
Bendita mulher que desperta um amor assim.
Que sejam felizes é o que desejo
Beijinho

sábado, 9 de novembro de 2013

QUANDO ME FALAS



QUANDO ME FALAS
Quando me falas- senhora do meu amor- nem sabes como vibro num repentino misto de receio e de alegria!
Ao toque do telefone, é a dúvida- o tal receio- porque és vida em minha vida e tremo só de pensar que algo de mal te pode ter acontecido.
Receio que, depois, com o decorrer da conversa, já mais calmo, se transforma em alegria, por saber que estás bem e te tenho, embora à distância, continuando a usufruir do teu amor e a consagrar-te a minha alma e o meu coração em exclusividade.
Sabes como és importante para mim, como és razão da minha poesia!
Com que gosto, cada dia, escrevo por ti e para ti!
Os meus primeiros versos- e todos os que hoje escrevo com o maior gosto e empenho- tiveram e têm uma motivação diferente- única!-baseada na tua figura de mulher amorosa, razão desta minha doação total, completa.
Muitos interrogam-se e interrogam-me sobre quem és, afirmando que deve ser um grande amor, este que move a minha vida e que é razão de tantos poemas escritos.
Não sendo uma obrigação minha, fazê-lo, por vezes sinto-me tentado a revelá-lo àqueles- e são muitos- que não conhecendo bem a minha vida, gostaria que soubessem- que todo o mundo o soubesse! Mas, depois, uma força maior impede-me de o fazer, guardando no meu íntimo este singular sentimento que nos liga e ligará para todo o sempre!
Só alguns- muito poucos- os que melhor nos conhecem ou conheceram- o saberão naturalmente, sem que precise de me confessar, mas não avaliando quão grande é este sentimento que eu sinto tão forte, que afirmo ser imperecível.
Hoje, quando nos falámos por alguns instantes e me pareceu um tanto estranha a tua voz, senti verdadeiramente o que digo no início do texto, logo dissipado na continuação do diálogo que travámos, graças à tua boa disposição e às notícias que me davas. Digo-o com total à vontade, já que deves saber que nunca exagero nas reações sentidas no que respeita ao nosso relacionamento de tantos anos sem qualquer mancha, por vezes sujeito a duras provações.
Toda a minha vida contigo, é luz, é fulgor, é sublimidade.
Meu Amor!
Aqui fica mais este escrito saído espontaneamente, como todos os outros que, sem esforço algum, te tenho dedicado e quase sempre enviado.
Aceita-o com a naturalidade própria do nosso exemplar relacionamento que é fruto do amor que nos liga.
 Abraço-te e beijo-te com todas as veras do meu ser.
Adeus!
Quinta da Piedade, outubro de 2013
JGRBranquinho

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

UMA COBRA COM PELOS






UMA   COBRA   COM   PELOS

Naquele tempo- no tempo da minha infância e até da juventude- a lenha era um bem muito importante, muito mais apreciado do que nos dias de hoje, com o advento da eletricidade e do gás a trazerem novas possibilidades, novas comodidades, à vida das pessoas.
A lenha era um bem importante para aquecer os fornos do pão, tanto caseiros como industriais, para as lareiras onde se cozinhavam  dia a dia os alimentos, aquecendo, em simultâneo, as casas, enfim, para os maias diversos usos, mormente no campo.
As mulheres, regra geral, trabalhavam em casa, embora, por vezes, isto é, durante as épocas de maior trabalho nos campos, também tivessem essa tarefa acrescida, ajudando os maridos com algum salário (embora pouco) ou trabalhando nas quintas de gente abastada ou em pequenas hortas arrendadas.
A mulher era quase exclusivamente “a dona de casa” (com todas as tarefas que isso implicava) e a principal responsável na criação e educação dos filhos.
Conheci, vivendo no campo, muitas mulheres dignas de toda a admiração pelo excelente trabalho produzido; no seu raio de ação, verdadeiras heroínas, e quantas vezes mal tratadas pelos maridos, mormente quando estes voltavam para casa já “com um grão na asa”.
(Vem isto um pouco a propósito da “cobra com pelos” que titula esta minha crónica).
O senhor Manuel- um proprietário da região- era dono de umas tapadas na encosta da Serra e sabia que as mulheres, acompanhadas por vezes dos filhos, lhe iam lá buscar a lenha, como, aliás, iriam a outros lados, certamente.
Cioso da sua propriedade, começou a fazer constar que nas suas tapadas tinha visto uma enorme cobra velha que, imaginem, já tinha pelos!!!
Ao tempo, no interior- década de quarenta- o desconhecimento era muito e depressa se espalhou a notícia da existência da tal obra com pelos, assustando mulheres e crianças.
O intento dele, como se está mesmo a ver, era afastar as pessoas das suas terras, para que não lhe levassem a lenha e ele a pudesse comercializar, já que tinha muita procura pelos motivos que já aduzi.
Não se põe em causa o direito de ele se defender (a propriedade era sua) mas aquela gente era muito pobre e poderia ter sido encontrada uma solução menos assustadora. Claro que havia pessoas que diziam não acreditar, mas… como diz o ditado, “ o medo é que guarda a vinha”…
Ele livrou-se de um maior assédio dessas pessoas necessitadas, que lá procurariam a desejada lenha em outras propriedades onde a cobra não andaria, como se ela dali não pudesse  sair!
Até que, num certo dia, um pastor lá do sítio, numa conversa de taberna, pôs aquela gente- especialmente mulheres e crianças- um pouco mais descansada, dizendo que era verdadeira a existência da cobra, mas que ele a tinha matado e enterrado e que, portanto, já não corriam qualquer perigo.
Parece que o senhor Manuel é que não achou graça nenhuma e ameaçou o pastor, dizendo “alto e bom som” que era mentira e perguntando:-
- Então, porque não trouxe a cobra? Se era verdade, que a trouxesse.
Assim permaneceu a dúvida sobre quem falava a verdade e o medo continuou por muito tempo, favorecendo o senhor Manuel.
Retalhos da vida que revelam, por um lado a ignorância de uns e a esperteza de outros. Assim foi e assim há de continuar a ser, enquanto houver mundo.
Quinta da Piedade, 10 de outubro de 2013.
JGRBranquinho