sábado, 4 de agosto de 2018

O DIOGO "XENA" E A INDÚSTRIA DE CABAZES DE MADEIRA DE CASTANHO


 O DIOGO“ XENA” E A INDÚSTRIA DOS CABAZES DE MADEIRA DE CASTANHO.

Conheci-o na juventude, na longínqua década de cinquenta, no meu lugar bem no interior do País, mais propriamente na Região Norte Alentejana.
Era o mais novo de cinco irmãos e, sem condições naturais para estudar, foi crescendo no meio familiar e de amigos até que, surpreendentemente, aprendeu o ofício de “tampeiro” junto de “canastreiros” uma arte (era assim designada) muito presente na altura no meu lugar - Monte Carvalho- Ribeira de Nisa- Portalegre.
O meu amigo “XENA” tornou-se, aos poucos, um dos melhores “tampeiros”, e trabalho não lhe faltava! Como era pouco dotado intelectualmente, não tendo bem o sentido da responsabilidade, de vez em quando, ausentava-se sem razão plausível, desaparecia do lugar, vindo a saber-se mais tarde que andava a pedir esmola.
Todos gostavam dele e lamentavam a sua falta, pois era mesmo um bom trabalhador muito útil na zona.
Habituou-se a pedir e, encontrando uma boa recetividade por parte das pessoas, lá foi vivendo sem trabalhar. Infelizmente, foi-se degradando, ao mesmo tempo que começou a beber uns copitos a mais e lamentavelmente não foi possível recuperá-lo para o ofício para que revelara excelente aptidão.
Bem o procuravam os industriais dos cabazes! Prometia voltar, mas, os dias de mercado na cidade eram uma forte atração, pois ali angariava razoáveis proventos e não voltava ao trabalho.
Todos nós o ameaçávamos com a guarda republicana, dizendo-lhe que era proibida a mendicidade e num certo dia, embora me conhecesse bem, cruzei-me com ele na estrada da Serra e dei-lhe ordem de prisão! Lá o detive caminhando durante uma boa centena de metros sob as minhas ordens, ralhando-lhe sem que ele protestasse, coitado.
 Calcule-se a alegria dele quando eu lhe disse que era uma brincadeira, pois eu não pertencia nem à polícia nem à guarda, embora continuando a avisá-lo no sentido de o dissuadir de tal prática.
Andava amedrontado com o receio de ser preso, e nem via quem é que lhe dava a ordem de prisão!
Um dia, já mais idoso, e não podendo já voltar ao nosso lugar, foi encontrado morto numa valeta da estrada, perto de Castelo de vide, deixando todos consternados.
Perdeu-se um bom trabalhador e um dos nossos pobres amigos, pois todos gostávamos dele Se ali tivesse permanecido teria sido acarinhado e estimado, tornando-se, em simultâneo, muito útil no nosso meio, pois trabalho não faltava ali e ele era um artista nesta indústria.
Este ofício tinha como matéria - prima principal, a madeira nova de castanho bravo ( designada de castinceira) muito abundante na zona serrana de S. Mamede, abrangendo os concelhos de Portalegre, Marvão e Castelo de Vide.
Cerca de 80% das famílias trabalhava nesta arte, produzindo anualmente milhares de canastras e cestas de vários tamanhos, indispensáveis nos trabalhos agrícolas e no transporte de frutas e legumes para os mercados e feiras do Alentejo, para além dos Mercados Abastecedores de Lisboa ( Praça da Ribeira, Cais do Sodré e Rego, bem como de outras cidades do País.

Com o aparecimento do caixote de pinho e mais tarde do de plástico, aquela indústria foi perdendo influência, deixando muitos sem trabalho. Os próprios soutos fora deixados ao abandono, com os prejuízos que isso acarretou para os donos.
Era um trabalho feito na maior parte das vezes no r/c das próprias casas de habitação (designadas por lojas) sem necessidade de os canastreiros saírem do seu meio familiar para ganharem o pão de cada dia.
Os próprios industriais lhe levavam os molhos de madeira que era ali preparada com toda a comodidade no fabrico dos vários objetos dessa madeira de castanho:- canastras ou cabazes, e cestas de diferentes tamanhos para diversos fins da vida daqueles tempos.
 Foi uma perda enorme para todos, levando ao desemprego muitas famílias, com gente já de alguma idade sem poder optar por outro trabalho (a não ser na agricultura também já em declínio) e provocando, mesmo nos mais jovens, o êxodo para os centros citadinos em trabalhos a que tiveram que adaptar-se, embora mal remunerados.
NOTA:- “tampeiro” fazia as tampas para as canastras ou cabazes.
 TEXTO INCOMPLETO.
JGRBranquinho

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