O DIOGO“ XENA” E A INDÚSTRIA DOS
CABAZES DE MADEIRA DE CASTANHO.
Conheci-o na juventude, na longínqua década de cinquenta, no meu lugar
bem no interior do País, mais propriamente na Região Norte Alentejana.
Era o mais novo de cinco irmãos e, sem condições naturais para estudar,
foi crescendo no meio familiar e de amigos até que, surpreendentemente,
aprendeu o ofício de “tampeiro” junto de “canastreiros” uma arte (era assim
designada) muito presente na altura no meu lugar - Monte Carvalho- Ribeira de Nisa-
Portalegre.
O meu amigo “XENA” tornou-se, aos poucos, um dos melhores “tampeiros”,
e trabalho não lhe faltava! Como era pouco dotado intelectualmente, não tendo
bem o sentido da responsabilidade, de vez em quando, ausentava-se sem razão
plausível, desaparecia do lugar, vindo a saber-se mais tarde que andava a pedir
esmola.
Todos gostavam dele e lamentavam a sua falta, pois era mesmo um bom
trabalhador muito útil na zona.
Habituou-se a pedir e, encontrando uma boa recetividade por parte das
pessoas, lá foi vivendo sem trabalhar. Infelizmente, foi-se degradando, ao
mesmo tempo que começou a beber uns copitos a mais e lamentavelmente não foi
possível recuperá-lo para o ofício para que revelara excelente aptidão.
Bem o procuravam os industriais dos cabazes! Prometia voltar, mas, os
dias de mercado na cidade eram uma forte atração, pois ali angariava razoáveis
proventos e não voltava ao trabalho.
Todos nós o ameaçávamos com a guarda republicana, dizendo-lhe que era
proibida a mendicidade e num certo dia, embora me conhecesse bem, cruzei-me com
ele na estrada da Serra e dei-lhe ordem de prisão! Lá o detive caminhando durante
uma boa centena de metros sob as minhas ordens, ralhando-lhe sem que ele
protestasse, coitado.
Calcule-se a alegria dele quando
eu lhe disse que era uma brincadeira, pois eu não pertencia nem à polícia nem à
guarda, embora continuando a avisá-lo no sentido de o dissuadir de tal prática.
Andava amedrontado com o receio de ser preso, e nem via quem é que lhe
dava a ordem de prisão!
Um dia, já mais idoso, e não podendo já voltar ao nosso lugar, foi
encontrado morto numa valeta da estrada, perto de Castelo de vide, deixando
todos consternados.
Perdeu-se um bom trabalhador e um dos nossos pobres amigos, pois todos
gostávamos dele Se ali tivesse permanecido teria sido acarinhado e estimado,
tornando-se, em simultâneo, muito útil no nosso meio, pois trabalho não faltava
ali e ele era um artista nesta indústria.
Este ofício tinha como matéria - prima principal, a madeira nova de castanho
bravo ( designada de castinceira) muito abundante na zona serrana de S. Mamede,
abrangendo os concelhos de Portalegre, Marvão e Castelo de Vide.
Cerca de 80% das famílias trabalhava nesta arte, produzindo anualmente
milhares de canastras e cestas de vários tamanhos, indispensáveis nos trabalhos
agrícolas e no transporte de frutas e legumes para os mercados e feiras do
Alentejo, para além dos Mercados Abastecedores de Lisboa ( Praça da Ribeira,
Cais do Sodré e Rego, bem como de outras cidades do País.
Com o aparecimento do caixote de pinho e mais tarde do de plástico,
aquela indústria foi perdendo influência, deixando muitos sem trabalho. Os
próprios soutos fora deixados ao abandono, com os prejuízos que isso acarretou
para os donos.
Era um trabalho feito na maior parte das vezes no r/c das próprias
casas de habitação (designadas por lojas) sem necessidade de os canastreiros
saírem do seu meio familiar para ganharem o pão de cada dia.
Os próprios industriais lhe levavam os molhos de madeira que era ali preparada
com toda a comodidade no fabrico dos vários objetos dessa madeira de castanho:-
canastras ou cabazes, e cestas de diferentes tamanhos para diversos fins da vida daqueles tempos.
Foi uma perda enorme para todos,
levando ao desemprego muitas famílias, com gente já de alguma idade sem poder
optar por outro trabalho (a não ser na agricultura também já em declínio) e provocando,
mesmo nos mais jovens, o êxodo para os centros citadinos em trabalhos a que
tiveram que adaptar-se, embora mal remunerados.
NOTA:- “tampeiro” fazia as tampas para as canastras ou cabazes.
TEXTO INCOMPLETO.
JGRBranquinho
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