terça-feira, 20 de novembro de 2018

AO SOM DAS ÁGUAS


AO SOM DAS ÁGUAS
Ao som das águas saltitando de pedra em pedra num marulhar contínuo, nesta ribeira amada -  ribeira da minha Ribeira de Nisa - escrevi há muitos anos alguns dos meus primeiros versos, e escrevo ainda nos dias de hoje, aquando das minhas estadas por aqui, refletindo sobre a vida e suas circunstâncias.
Circulando por entre gigantescos salgueiros, freixos e amieiros, bonitos sabugueiros e este grandioso avelanal onde a luz do Sol penetra coada por suas ramagens verdes, delicio-me nesta calma tarde de outono, escutando em simultâneo o alegre cantar das aves que por aqui vão deambulando, fazendo-me companhia.
Acabei de chegar da nossa grande metrópole, minha adorada Lisboa!
Logo para aqui me dirigi, procurando aproveitar este dia outonal para num relance vespertino ainda poder desfrutar deste aprazível lugar à beira da minha ribeira, que, para além da sua beleza, também tão útil  é no cultivo das terras. Ainda na viagem, já fazia planos para que, mal chegasse, aqui viesse, rememorando outros tempos, ligando-os quanto possível aos dias de hoje.
Além da ponte que substituiu o velho pontão, quase tudo permanece igual, e isso agrada-me, com uma exceção:- o desaparecimento  das quatro azenhas que ao longo desta ribeira existiam.
Agrada-me por me transportar mais facilmente aos anos da minha infância e juventude, a que gosto de estar ligado e que, aqui, por momentos (felizes momentos) posso ainda reencontrar, volvido mais de meio século, repartido entre a minha aldeia e Lisboa.
Daqui saí na procura de melhor me realizar, pois as perspetivas de vida eram na altura muito poucas, embora, ainda hoje, também não sejam muito favoráveis.
No entanto, na altura, para quem não pudesse ir estudar, havia o recurso ao trabalho no campo e a outras atividades a ele ligadas, como pequenas indústrias que aqui existiam e hoje… desapareceram por completo!
Deu-se o êxodo para as cidades, abandonaram-se os campos, hoje quase desertos!
Aqui, junto à minha bonita ribeira, ainda posso sentir-me confortável. Quantas recordações! Quantas lembranças de momentos que aqui passei com os meus amigos, especialmente em tardes de sábado, como esta.

 Ao som destas águas correntes
me delicio e me demoro!
Ouço-as arrebatado, delirante!
Aqui me demorei
horas sem fim, para meu prazer.
Ai, tempos breves
 da minha infância e juventude!
Ai, tardes tranquilas que aqui passei
 em minhas horas de ócio,
 me diverti e inspirei,
escrevendo cartas de amor
- as primeiras cartas de amor -
inspiradas ao som das águas
 da minha encantada ribeira,
grato por tanta graça recebida.
Local sagrado, 
local muitas vezes procurado
qual Éden terreal onde tudo era pureza
 e paz de espírito!
Ai, quantas saudades
guardo ainda em mim!
Junto a estas águas, 
parece que o tempo parou,
dada a primitiva envolvência silvestre
ainda existente.
Aqui, sinto-me feliz, 
lembrando o meu passado.
Até quando, companheiras?!
Benditas sejam, 
águas da minha ribeira!
Benditas sejam!
Benditas sejam!

JGRBranquinho  - "J. Little White"





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