UMA TARDE FRIA NA MINHA ALDEIA/MÃE
Era novembro.
Passava uns sempre
breves dias na minha aldeia/mãe (assim
os considerava mesmo que por vezes os
dilatasse no tempo, tal o bem- estar que
ali sentia) quando, a meio da tarde, dirigi meus passos a caminho da ribeira.
Estava frio- que
teimosamente suportava - e que, a cada passo, mais se acentuava !
Como recurso, ajeitei
as bandas do casaco de modo a proteger a garganta e o peito, e lá
continuei, na curiosidade de observar a
ribeira, que, naquele tempo outonal, após as chuvas, era qual basófias- isto,
por analogia com o célebre rio Mondego, calculem!
Queria matar saudades daquela corrente de água nascida em S.
Mamede, e onde nos meus tempos de infância e juventude, me deliciava junto aos
salgueiros, amieiros, sabugueiros e aveleiras, ouvindo o doce deslizar das águas,
de mistura com a alegre cantar dos muitos pássaros que por ali havia e faziam, também, seus ninhos com arte e engenho dignos de
admiração.
Agora, em novembro, a
corrente era fortíssima e extravasava as margens, inundando as hortas mais
baixas e onde boiavam- laranjas, marmelos e dióspiros- caídos por obra do tempo e dum vento mais forte que acentuava
ainda mais aquele desagradável e frio
dia. No entanto, nada disto arrefecia o meu desejo e entusiasmo de sentir de
perto o forte murmúrio da água
deslizando de pedra em pedra e
arrastando consigo alguma ramagem, a caminho da Barragem da Póvoa.
Era o contraste com a ribeira tranquila dos meses de Verão,
onde,nos anos da juventude, me demorava com os meus amigos nas pescarias (com a canastra forrada de verdura) nos
calmos pegos que ao longo da corrente se
formavam e que, simultaneamente, eram as mossas piscinas, ao tempo. Era uma
alegria sem contrariedades a que
sentíamos ali- horas a fio- só interrompida pelo chamamento das mães, muitas
vezes já aflitas com a nossa demora…
Neste frio dia de Outono, era diferente, era o contraste
absoluto, mas necessário à Natureza/Mãe que agora se renovava com a chuva alimentando os lençois de água que
eram a reserva para o Verão, das gentes e das terras de regadio.
Passada a ribeira, depois dos momentos de contemplação inevitáveis
e impressionantes para mim, pobre poeta, era o caminhar pela estreita estrada
sobre os ouriços caídos dos castanheiros e apanhando, inclusive, algumas pequenas castanhas, ao mesmo tempo que
apreciava os cogumelos-aqui chamados tortulhos- mas sem me atrever a
tocar-lhes, por saber o perigo que representam para quem não os sabe
distinguir, limitando-me a fotografá-los.
Depois, um pouco mais à frente, subindo a azinhaga do Fareu- uma
calçada antiquíssima- foi a vez de
registar fotograficamente uma bonita latada de folhas amarelecidas e acastanhadas, bem como algumas pedras
graníticas atapetadas de musgo e ervas típicas da região, que guardo
religiosamente e que logo pensei poderem servir de imagem de capa para um meu próximo
livro.
Era já quase noite e ouvia-se agora mais distintamente o ladrar dos cães de
guarda das casas e quintas espalhadas desde o sitio das Hortas até ao meu Monte
Carvalho, onde cheguei ligeiramente cansado mas mais quente do que na partida,
contente por este matar de saudades numa região que me foi berço e aonde vou
menos vezes do que queria e devia.
Quem não gosta de regressar à terra, para sempre bendita, em que nasceu e morou? Respirar aquele ar puro
que no campo ainda se pode respirar, recordando, simultaneamente, os belos tempos da infância
e juventude?
Eu gosto.
Novembro/ 2012
JGRBranquinho
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