quarta-feira, 21 de novembro de 2012

UMA TARDE FRIA NA MINHA ALDEIA / MÃE


UMA  TARDE  FRIA  NA  MINHA  ALDEIA/MÃE
Era novembro.
Passava uns sempre breves dias na minha aldeia/mãe (assim os considerava mesmo que por vezes os dilatasse no tempo, tal  o bem- estar que ali sentia) quando, a meio da tarde, dirigi meus passos a caminho da ribeira.
Estava frio- que teimosamente suportava - e que, a cada passo, mais se acentuava ! 
Como recurso, ajeitei  as bandas do casaco de modo a proteger a garganta e o peito, e lá continuei, na curiosidade de observar a ribeira, que, naquele tempo outonal, após as chuvas, era qual basófias- isto, por analogia com o célebre rio Mondego, calculem!
Queria matar saudades daquela corrente de água nascida em S. Mamede, e onde nos meus tempos de infância e juventude, me deliciava junto aos salgueiros, amieiros, sabugueiros e aveleiras, ouvindo o doce deslizar das águas, de mistura com a alegre cantar dos muitos pássaros que por ali havia e faziam, também,  seus ninhos com arte e engenho dignos de admiração.
Agora, em novembro, a corrente era fortíssima e extravasava as margens, inundando as hortas mais baixas e onde boiavam- laranjas, marmelos e dióspiros- caídos por obra do tempo e dum vento mais forte que acentuava ainda mais aquele desagradável e frio dia. No entanto, nada disto arrefecia o meu desejo e entusiasmo de sentir de perto o forte murmúrio da água deslizando de pedra em pedra e arrastando consigo alguma ramagem, a caminho da Barragem da Póvoa.
Era o contraste com a ribeira tranquila dos meses de Verão, onde,nos anos da juventude, me demorava com os meus amigos nas pescarias (com a canastra forrada de verdura) nos calmos pegos que ao longo da corrente se formavam e que, simultaneamente, eram as mossas piscinas, ao tempo. Era uma alegria sem contrariedades a que sentíamos ali- horas a fio- só interrompida pelo chamamento das mães, muitas vezes já aflitas com a nossa demora…
Neste frio dia de Outono, era diferente, era o contraste absoluto, mas necessário à Natureza/Mãe que agora se renovava com a chuva alimentando os lençois de água que eram a reserva para o Verão, das gentes e das terras de regadio.
Passada a ribeira, depois dos momentos de contemplação inevitáveis e impressionantes para mim, pobre poeta, era o caminhar pela estreita estrada sobre os ouriços caídos dos castanheiros e apanhando, inclusive, algumas  pequenas castanhas, ao mesmo tempo que apreciava os cogumelos-aqui chamados tortulhos- mas sem me atrever a tocar-lhes, por saber o perigo que representam para quem não os sabe distinguir, limitando-me a fotografá-los.
Depois, um pouco mais à frente, subindo a azinhaga do Fareu- uma calçada antiquíssima-  foi a vez de registar fotograficamente uma bonita latada de folhas amarelecidas e acastanhadas, bem como algumas pedras graníticas atapetadas de musgo e ervas típicas da região, que guardo religiosamente e que logo pensei poderem servir de imagem de capa para um meu próximo livro.
Era já quase noite e ouvia-se agora mais distintamente o ladrar dos cães de guarda das casas e quintas espalhadas desde o sitio das Hortas até ao meu Monte Carvalho, onde cheguei ligeiramente cansado mas mais quente do que na partida, contente por este matar de saudades numa região que me foi berço e aonde vou menos vezes do que queria e devia.
Quem não gosta de regressar à terra, para sempre bendita, em que nasceu e morou? Respirar aquele ar puro que no campo ainda se pode respirar, recordando, simultaneamente, os belos tempos da infância e juventude?
Eu gosto.
Novembro/ 2012
JGRBranquinho

Sem comentários:

Enviar um comentário