domingo, 27 de janeiro de 2013

UMA VISITA FAMILIAR


Resultado de imagem para NA SERRA DE S. MAMEDE

        UMA  VISITA  FAMILIAR

Estávamos em plena invernia, com a dureza e rigor próprios da época natalícia, naquela zona da Serra de S. Mamede- a minha amada e recantada Serra, que tanto marcou a minha infância e juventude e em mim vive como marca indelével.
Do cimo da Serra a vista se alonga e alarga pelas redondezas- S. Salvador de Aramenha, Castelo de Vida, Porto da Espada, S. Julião, Escusa, e, dispersos, entre outros, os sítios:-  Reveladas, Malhada do Vale, Portagem, Rasa, Montinho, Jardim e Prado.Todos tão cheios de tradições importantes, cada qual com a sua Festa anual, grande motivo para vestir um fato melhor ou, até, estrear um novo; pontos de encontro onde tinham lugar, também, muitos negócios e as pessoas se divertiam na parte pagã da festividade, onde não faltava o bailarico, à noite, até alta madrugada, depois da Festa religiosa em honra da Santa Padroeira do lugar.
Mirando a norte, ao longe, da Serra se vê bem destacado no cimo do Monte do Sapoio, a vetusta  e fortemente amuralhada vila de Marvão ( de onde se diz que se veem os pássaros pelas costas, tal a sua altitude) candidata a Património Mundial.
O tempo-  como ia contando- estava nesta altura frio, tendo, também por isso, o seu particular encanto. Claro que, sendo assim, é preciso que saibamos resguardar-nos, defendendo-nos de um possível resfriado que venha a ter outras consequências para a nossa saúde, como é bom de ver e me escuso de falar, por tão evidentes.
Ora, tudo isto vem a propósito do que hoje vos quero contar.
Já são passados muitos anos ( ai, como o tempo correu breve) e, num fim de semana, minha mãe tinha decidido ir visitar uns nossos familiares residentes no lugar de Carrios- um pouco mais a norte na zona da Serra de S. Mamede- lugar só acessível por estreitos caminhos ou veredas.
Aparelhado o burro com a albarda, lá fomos, manhã cedo, a caminho do nosso destino,sempre pelas encostas da Serra, com paisagens verdadeiramente deslumbrantes pela variedade de tons ( escutando, simultaneamente com o silêncio da Natureza, o latido dos cães ou o piar das aves que por ali havia) com minha mãe a indicar-me os nomes de cada sítio por que passávamos:- Hortas, Piscota, Vale Grande, Sobreiras; enfim, para mim novidades- belas realidades- pela sua perfeita ruralidade.
Chegados a Carrios, fomos, como sempre, muito bem recebidos por minha tia Maria Jacinta, irmã de minha mãe e que logo mandou chamar os filhos e filhas que estavam nos campos àquela hora; uns guardando gado- especialmente cabras-  e outros "à lenha" para a lareira, que bem precisa era no dia a dia das famílias. Um sítio com "meia dúzia" de casas humildes com anexos de alojamento para os animais, mas sempre sob a alvura da cal salpicando os campos. Casas caiadas ( tarefa da exclusiva responsabilidade das mulheres) que lhes davam uma peculiar beleza, "um certo ar" no meio campestre.
Passámos um agradável dia em família, embora eu, um pouco deslocado, visto que me sentia muito longe do meu Monte Carvalho. Era o que sentia, sim, embora hoje reconheça não ser assim tão longe...
Como o habitual, se íamos carregados... carregados voltávamos de lembranças:- coisas boas da terra, principalmente, e que tanto significado tinham.
Brinquei com meus primos àqueles jogos tradicionais ("cabra-cega"," saltar ao eixo" "escondidas"` "pião", "fincão" e outros.
 Chegou a hora de regressarmos, com eles a acompanhar-nos até uma distância bastante considerável, sinal de amizade e cortesia- como era hábito, então, nestes sítios-  e que muito agradável era, tanto  para os que ficavam como para os que partiam. Enfim, modos de estar, de saber receber, de outrora, e que se vão perdendo, infelizmente.
Os caminhos, de terra batida-  por razão do frio- apresentavam buracos cheios de gelo (alguns mesmo provocados pelas ferraduras dos burros, machos e cavalos) e que por vezes se quebrava ao ser pisado, provocando quedas.
Ora, sucedeu isto à nossa montada! O pobre do animal-  o nosso imponente gerico-  ao partir-se-lhe o gelo pisado pelas patas dianteiras, caiu de frente e... aí vamos nós - eu e minha mãe-  ficando ambos encavalitados em cima do pescoço do azarado burro!
No momento não foi motivo de riso, mas, de susto, não sabendo as consequências da queda para o nosso "XICO".
Lá se levantou. Tudo parecia estar em ordem, felizmente!
Voltámos a montar e o resto foi uma caminhada normal até a casa.
Chegados, contámos a meu pai o modo excelente como fomos recebidos por minha tia, (pois o meu tio- "O Zé Lindo"- andava no contrabando)  e, descrevendo,  também, o sucedido, especialmente, claro, o acontecido no regresso.
Então, esquecido o susto do trambolhão, foi a vez de nos rirmos pela figura que devemos ter feito ao rebolarmos de cima do nosso querido asno, que, coitado, não deve ter achado graça nenhuma à queda.
NOTA:-
Este meu escrito retrata com saudade e com verdade o que de mais importante aconteceu naquele dia de Inverno nas encostas da minha Serra- A Serra de S. Mamede.
Belos tempos! Abençoados tempos esses- os da infância e juventude- vivendo em família e  em contacto diário com a Mãe Natureza.
Como vos recordo! Como vos sinto ainda! São parte integrante- parte por demais importante- da história da minha vida.

 Quinta da Piedade, 27 de janeiro de 2013.
JGRBranquinho








.

Sem comentários:

Enviar um comentário