S U B L I M E, SUPERIOR, D I V I N O!
Estava perdido de amores! Estava verdadeiramente apaixonado!
Não o confessara ainda, a ninguém, guardando para si esse sagrado sentimento,
esse precioso segredo.Via nela a mulher que tinha idealizado para si, desde a juventude.
Acompanhava diariamente os episódios do filme em que ela era
uma das personagens- para ele, A ÚNICA! Aquela que o impressionara tanto desde
o primeiro episódio e logo o prendera.
Aguardava ansioso,
cada dia, a hora de a voltar a ver e admirar no pequeno ecrã. Idealizava-a fora
do desempenho do papel que lhe fora atribuído, mas sempre acreditando, sempre
crendo que ela era assim, tal como ali a via!
Queria; desejava que fosse assim! Não concebia que fosse de
outra forma. Dizia de si para si que se no filme desempenhava aquele papel, era
porque o tinha escolhido de acordo consigo mesma. Só poderia ser assim! Tinha que ser assim!
Quanto pode o amor! Como é possível apaixonar-se uma pessoa
por alguém que não conhece se não pelo desempenho num filme?!
A verdade é que estava mesmo perdido por aquela mulher!
Ergueu-a num pedestal onírico, no seu inesperado mas idolatrado mundo de sonhos,
adorando-a como a uma deusa!
Via-a todos os dias. Tinha-a ali tão perto e não podia
dirigir-lhe uma palavra! Uma só que fosse! Um verdadeiro martírio a que de bom grado se entregara.Contentava-se com vê-la, sonhava os mais lindos sonhos com
ela. Era- a seu modo- feliz, sempre guardando em si a secreta esperança de
um dia a poder ver, de um dia a ir procurar; quem sabe… até de arranjar coragem
para lhe falar e dizer, então, respeitosamente, quanto dela gostava, mesmo que
não se atrevesse a declarar-lhe o seu amor.
Vivia nesta expetativa de encanto e sobressalto!
Num certo dia, casualmente, encontrou-a num lugar público frequentado por muita gente- especialmente a ligada às artes- numa exposição na Gulbenkian. Que sensação agradável sentiu! Que feliz acaso- dizia. Que sorte! Que encanto!
Num certo dia, casualmente, encontrou-a num lugar público frequentado por muita gente- especialmente a ligada às artes- numa exposição na Gulbenkian. Que sensação agradável sentiu! Que feliz acaso- dizia. Que sorte! Que encanto!
Aí… temeu-se… tremeu… limitou-se a segui-la com um olhar e
num avassalador sobressalto que o dominava por inteiro. Aquele sentimento era mesmo a sério! Mas como era
possível se não a conhecia verdadeiramente?! Só pelas imagens a conhecia e
estava mesmo apaixonado por ela. Aquela situação fortuita não o desiludiu mas
fez que a razão o chamasse à realidade, se sobrepusesse ao seu sentimento de
amor, mas nunca beliscando no de admiração.
(Veio-lhe, então, à memória, um caso que conheceu, de paixão
semelhante por uma linda amazona nos tempos da sua adolescência, mas, nesse caso,
eram dois os apaixonados, de tal modo que diziam estar dispostos a seguir com a
tal amazona para onde ela os chamasse, nem que fosse para tratarem dos cavalos,
como seus empregados.)
Fez-se, assim, sem o esperar, um pouco de luz no seu
espírito, chamando-o à razão.
Continuou a guardar esse sentir de amor no mais íntimo de si
mesmo, amando-a e admirando-a, mas compreendendo que ela jamais poderia ser sua,
dada a distância abissal que os separava por muitas a variadas razões.
O amor, realmente, não sucede na esfera do que julgamos
razoável. Está muito para além disso! Acontece nas situações mais inesperadas
porque é único, é sublime, é superior, é divino.
Quinta da Piedade, 25 de maio de 2013.
JGRBranquinho