A TUA RUA
Esta rua triste,
outrora alegre, onde te conheci e encontrei numa outra idade (saudosa idade jovem)
não é, a meus olhos, a mesma! Aliás, todos os meus sentidos a sentem de modo diferente,
embora mantenha os mesmos traços físicos. Foi aqui que embora por vezes em
sobressalto, nervosamente, até, (natural em quem sente que está perante alguém
diferente) te encontrei a vez primeira e senti que eras uma menina como não
vira ainda, que me agradavas, que me encantavas, e logo prometi a mim mesmo,
escrever-te.
Não passaram muitos
dias, embora os sentisse intermináveis, entre a decisão de me dirigir por carta,
e depois a espera deveras angustiosa de uma resposta tua.
Enquanto isto, voltei
várias vezes a este local para mim sagrado, na esperança de te ver, na perspetiva
de ser notado por ti e na ânsia de ver se teria coragem para te dirigir a
palavra.
Resolvi, então,
escrever-te, dada uma certa timidez da minha parte, que me inibia de te dirigir a palavra.
Sete dias depois, nesse
venturoso mês de outubro, chegou a resposta- a tua tão desejada resposta. Quase
delirei! Julguei-me o mais feliz dos mortais! Ao meu redor tudo era diferente.
Embora dias depois me
parecesse bem claro o teu texto, nesse afortunado momento li e reli cada
palavra, procurando aprofundar e compreender o seu sentido exato.
Fui o homem mais
feliz, esquecendo tudo o que tivesse sido negativo na minha jovem idade. Pelo
contrário, encarei o mundo com otimismo, vi nas dificuldades apenas pequenas
colinas bem fáceis de subir, ignorando qualquer esforço, olhando os próprios
estudos com um outro olhar, enfim, sob um prisma de brilho diamantino, com
jamais sentira.
Hoje volto a esta rua-
à nossa rua, à rua onde te encontrei- e recordo com saudade os dias em que
juntos pisámos o seu asfalto, enamorados, apaixonados de verdade, mesmo que
algumas vezes o fizéssemos em sobressalto, especialmente ao princípio, por
razões que eram contrárias aos nossos desejos.
Foi nela que começou
o nosso amor! Hoje, sinto-o, ainda ali permanece indestrutível o teu perfume, e eu amo-a como
a nenhuma outra. É a tua rua. É a nossa rua.
JGRBranquinho- “Little White”
Texto revisto em 16
de janeiro de 2016.
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