segunda-feira, 28 de setembro de 2015

SONETOS

                      [Sai a passeio, mal o dia nasce,
                      Bela, nas simples roupas vaporosas;
                      E mostra às rosas do jardim as rosas
                      Frescas e puras que possui na face.

                      Passa. E todo o jardim, por que ela passe,
                      Atavia-se. Há falas misteriosas
                      Pelas moitas, saudando-a respeitosas...
                      É como se uma sílfide passasse!

                      E a luz cerca-a, beijando-a. O vento é um choro
                      Curvam-se as flores trêmulas ... O bando
                      Das aves todas vem saudá-la em coro ..

                      E ela vai, dando ao sol o rosto brando.
                      Às aves dando o olhar, ao vento o louro
                      Cabelo, e às flores os sorrisos dando... ]

                                        Olavo Bilac (canto XIX, Via Láctea) 




 
O SONETO 
(estrofes, rimas e métrica)

Escrever um soneto pressupõe disposição do poeta para se aplicar na métrica, rimas e ritmo. Ou seja: guardar a forma clássica, tradicional do soneto, poema composto por 2 quartetos e 2 tercetos.

CARACTERÍSTICAS DO SONETO


1. ESTROFES

Estrofe é um agrupamento rítmico formado de dois ou mais versos, que, em geral, se combinam pela rima.
O soneto pede 4 estrofes, sendo 2 quartetos seguidos por 2 tercetos.
Ou ainda: 3 quartetos e 1 dístico.

2. TEMAS

Quanto ao tema, ao assunto do soneto, este deve percorrer as 4 estrofes, ter uma chave de abertura e um fecho. Não se pode dividir o tema do soneto em partes, tratando uma nos quartetos e outra nos tercetos.
Os temas mais usuais dos sonetos são as emoções e os sentimentos.

3. VERSOS e SÍLABAS POÉTICAS (diferentes das sílabas gramaticais)

De acordo com o número de sílabas poéticas os versos dos sonetos são assim classificados:


Uma sílaba = Monossílabos
Duas sílabas = Dissílabos
Três sílabas = Trissílabos
Quatro sílabas = Tetrassílabos
Cinco sílabas = Pentassílabos ou redondilha menor, (com acento na 2ª e 5ª  sílabas)
Seis sílabas = Hexassílabos (com acentos na 2ª e 6ª sílabas)
Sete sílabas = Heptassílabos ou redondilha maior (com acentos na 3ª e 5ª sílabas)
Oito sílabas = Octossílabos ou sáficos (com acentos na 4ª e 8ª sílabas)
Nove sílabas = Eneassílabos (com acentos na 3ª, 6ª e 9ª sílabas)
Dez sílabas = Decassílabos  (ver nota abaixo)
Onze sílabas=  Hendecassílabos ou datílicos (com acentos na 2ª, 5ª, 8ª e 11ª sílabas)
Doze sílabas = Alexandrinos ou dodecassílabos (com acentos na 6ª e 12ª  sílabas)
Mais de doze=  Bárbaros


Nota

Os versos decassílabos são os mais usados e existe entre eles diversas variações de ritmo, denominados:

Versos heróicos = Acentuação tônica na e 10ª sílabas 


AL/MA/ MI/NHA/ GEN/TIL/ QUE/ TE/ PAR/TIS/TE  (Camões)

Versos sáficos = Acentuação tônica na 4ª , 8ª e 10ª sílabas

EM/ PRO/SA E/ VER/SO/ FEZ/ MEU/ LOU/CO IN/TEN/TO  (Bocage)

Martelo agalopado = Acentuação tônica na 3ª , 6ª e 10ª sílabas
Gaita galega = Acentuação tônica na 4ª , 7ª e 10ª sílabas
Pantâmero jâmbico = Acentuação tônica na 2ª , 4ª, 6ª , 8ª e 10ª sílabas


Na metrificação sempre se conta até a última sílaba tônica de cada frase.

Regras para a separação de sílabas métricas:
1) Conta-se apenas até a última sílaba tônica:
" E/ can/te eu/ cá/ na/ te/rra /sem/pre/ tris/te" (10 sílabas)

2) Sempre que duas vogais de palavras diferentes se encontram no verso, três coisas podem acontecer:

a) se ambas são átonas, ficam na mesma sílaba e contadas com uma sílaba;
b) se são tônicas, ficam em sílabas diferentes e contadas como 2 sílabas;
c) se uma é átona e outra é tônica, podem ficar na mesma sílaba ou não, de acordo com conveniência e escolha do poeta.
3) Uso de sinérese, diérese, crase ou elisão.

Exemplos:


"O/lei/to/do in/fe/liz/que/mão/trai/do/ra" (10 sílabas)
"Mas/dor/que/tem/pra/zer/a/Sa-/u/da/de" (10 sílabas)
"Nun/ca/vi/ra em/ minha/vi/da a for/mo/su/ra." (10 sílabas)
"Eu/a/mo a noi/te/so/li/tá/ria e/ mu/da" (10 sílabas)
"Du/ran/te a/ noi/te quan/do o or/ va/lho/des/ce" (10 sílabas)



4. RIMAS 


Podem ser perfeitas (quintal/avental) ou imperfeitas (domingo/cachimbo)

Dividem-se em:

1___


. RICAS = entre palavras de categorias gramaticais diferentes: arde/covarde (verbo e adjetivo)
. POBRES = entre palavras da mesma categoria gramatical : amor/flor (substantivo e substantivo)
. RARA (ou preciosa) = com terminações não comuns, de pouca oferta de rima: vê-la/estrela; sê-lo/pêlo; há-de/saudade; cisne/tisne; estirpe/extirpe. 


2___

. AGUDAS OU MASCULINAS = quando as palavras que rimam são oxítonas ou monossílabas tônicas: ar/luar ; pomar/plantar.

. GRAVES OU FEMININAS = quando as palavras que rimam são paroxítonas:
flores/ Dores; lindo/ vindo

. ESDRÚXULAS OU PROPAROXITONAS: quando as palavras rimadas são proparoxítonas: aromáticas/ dramáticas; Adriático/ cismático.



Quanto às combinações de rimas, as disposições mais freqüentes de rimas são:

a) emparelhadas ou paralelas (AABB-CC)

"Ele deixava atrás tanta recordação!.......................................A
E o pensar, a saudade até no próprio cão,.............................A
Debaixo de seus pés, parece que gemia,................................B
Levanta-se o sol, vinha rompendo o dia,.................................B
E o bosque, a selva, o campo, a pradaria em flor..................C
Vestiam-se de luz com um peito de amor"..............................C
(A de Oliveira)

b) alternadas, cruzadas ou entrelaçadas (ABAB)

"Tu és beijo materno!.............................................A
Tu és um riso infantil..............................................B
Sol entre as nuvens de inverno,..........................A
rosa entre as flores de abril...................................B
(C. de Abreu)

c) opostas, interpoladas ou intercaladas (ABBA)

"Saudade! Olhar de minha mãe rezando ...........................A
E o prato lento deslizando em fio.........................................B
Saudade! Amor de minha terra... o rio .................................B
Cantigas de águas claras soluçando" ................................A
(Da Costa e Silva)

d) encadeadas (rima a final de um verso rimando com o interior de verso seguinte)
A...A...CB...B...C

"Quando alta noite n'amplidão flutua
Pálida a lua com fatal palor,
Não sabes, virgem, que eu te suspiro
E que deliro a suspirar de amor."
(Castro Alves)

e) coroadas (rimas de palavras dentro de um mesmo verso)
A-A...B-B C-C...D E-E...F-F G-G...D 
             "Donzela bela, que me inspira lira
              Um canto santo de fervente amor
              Ao bardo cardo de tremenda senda
              Estanca, arranca - lhe a terrível dor"
              (Castro Alves)


f) aliterantes (repetição de fonemas idênticos ou semelhantes no início, meio ou fim das palavras dentro de  um ou mais versos)

"Vozes, veladas, veludosas, vozes
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas."
(Cruz e Souza)

g) misturadas (rimas que não obedecem a nenhum esquema determinado)

"É meia-noite ...e rugindo
Passa triste a ventania.
Com um verbo da desgraça
Como um grito de agonia"
(Castro Alves)

Entretanto, o exemplo clássico de soneto, denominado também de CAMONIANO, porque era o modelo usado por Camões, segue:

__versos decassílabos
__rima abraçada nos quartetos (ABBA/ABBA)



__rima cruzada nos tercetos (CDC/DCD).


Este modelo é comumente designado como "camoniano" ,  por ser o modelo usado por Camões. 

Considerações finais: 

Definido como poema de quatorze versos, o soneto tem admitido bem pouca variação ou experimentação. Conservam-se  seus dois modelos tradicionais:
o ITALIANO (fixado por Petrarca) e o INGLÊS (fixado por Shakespeare), sendo
o primeiro dividido em dois quartetos mais dois tercetos e o segundo formado por três quartetos mais um dístico.

Já que os versos são normalmente metrificados e rimados, o mais radical experimentalismo sofrido pelo soneto foi o VERSO BRANCO, que acontece na poesia moderna, ou seja:
versos não rimados.

Outras transformações têm ocorrido, tais como a ampliação para dezessete  versos pela adição dum terceiro terceto ou ESTRAMBOTE (século XVII). 

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