OUTROS
TEMPOS
Era a mais bela de outras belas raparigas que eu conheci!
Num certo dia de outubro (começo das aulas nessa altura) por
minha fortuna, pude encontrá-la acompanhada de uma prima mais nova- que eu já
conhecia- passeando nas imediações da minha casa.
Cumprimentámo-nos com um” boa tarde” e ambos continuámos em
sentidos opostos a nossa caminhada. Volvidos alguns instantes, senti um desejo
enorme de voltar, tal a impressão que a sua presença me causou. Se bem o pensei…
melhor o fiz, mas ficando ainda por uns momentos, indeciso, junto de um portal
antigo que dava acesso a uma quinta do lugar onde eu vivia.
Surpresa minha, ela voltou ainda acompanhada da prima, e, não me recordo como,
entabulámos uma breve conversação, que deu azo a que eu a acompanhasse até à
casa onde vivia um seu familiar.
Ela não era dali; estava apenas de visita e eu nunca a tinha
visto.
Meu Deus! Foi amor á primeira vista?! Sim, porque não
mais a esqueci e por dias consecutivos passei por ali, especialmente aos
sábados e domingos, já que frequentava a escola na minha cidade amada- Portalegre-
e só aos fins de semana voltava a casa.
Num certo domingo, sabendo que esses seus familiares iam à
missa, fui também, embora ficasse nos últimos bancos da igreja para ver como
faziam os outros fiéis crentes, já que eu não conhecia bem as regras da
liturgia e não queria fazer má figura. Lá ia imitando as pessoas à minha frente,
para não destoar.
Por minha sorte, vi-a nas primeiras filas, seguindo os
rituais da missa. Notei que os conhecia bem e segui-a para minha orientação,
embora essa não fosse a principal razão porque a olhava…
À saída, logo os nossos olhares se encontraram, pois eu
antecipei-me um pouco e aguardei-a no adro, de modo a não perder aquela
oportunidade de ouro. Tinha que lhe falar!
Não foi assim tão boa como eu esperava, mas deu para perceber
que não lhe era de todo indiferente.
Vim para casa e resolvi escrever-lhe uma carta, pedindo-lhe
namoro. Verdadeiramente a minha primeira carta de amor! Mas, como enviar-lha?
Socorri-me de uma mocinha que fez o favor de lha entregar em mão.
Fiquei a aguardar por um longo fim- de- semana e lá chegou a
resposta desejada! Abri-a com total sofreguidão e fui ver o período final, que
logo me deixou tranquilo.
Depois, li com avidez cada palavra e, a cada momento, exultava
de alegria! Era tão feliz que tinha vontade de vir para a rua gritar de
contentamento e dizer que tinha uma namorada- a mais bela namorada!
Ah! Como fui feliz! Jamais esquecerei esses dias! Os dias da
minha adolescência e juventude, dias de meus primeiros amores!
Amámo-nos quase platonicamente! Na mais pura ligação amorosa,
onde (estranhamente) praticamente só contava a beleza dela e o espírito!
Não havia na nossa ligação, sombra de pecado, e só reinava o
coração, repleto de amor!
Parecíamos duas crianças amigas- muito amigas- que só se
sentiam bem uma com a outra.
Chegámos a estar longe dos olhares dos curiosos que nos
julgavam pelas suas cabeças- que por vezes sentíamos que nos espreitavam- e,
bem juntinhos, quantas vezes sob um tempo agreste, nos amámos sinceramente,
sentidamente, respeitando-nos, julgando que Deus nos castigaria se fôssemos
mais além do que era permitido, segundo os costumes nesses velhos tempos.
Outros tempos que nos influenciavam fortemente e nos faziam
sentir assim, orientando as nossas condutas. Claro que nem todos assim
procederiam, mas a influência sobre os que eram mais sensíveis, era
predominante e ditava as suas leis.
Belos tempos? Velhos tempos? Outros tempos!
Quinta da Piedade, 21 de junho de 2013.
JGRBranquinho
JGRBranquinho
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