RECORDANDO
Aqui, neste sítio amado- meu lugar de nascimento e criação
(Monte Carvalho, Ribeira de Nisa- Portalegre) revivo a cada instante, saudosamente,
momentos da minha vida de infância e juventude. Os menos bons e especialmente
os outros em que me senti feliz, tanto quanto se pode ser vivendo numa época já
tão distante, sem grandes condições mas, também (e talvez por isso) sem grandes
exigências, naturalmente.
Era o tempo doirado da juventude e isso explica muita coisa,
está bem de ver, para além do conforto indescritível da convivência com os meus familiares, visto que todos viviam na zona.
Recordo a minha velha fonte de água fresca no Verão e quase
morna na estação invernosa, onde ia vezes sem conta! Umas vezes por
necessidade, trazendo no meu carrinho de mão- preparado a preceito pelo meu pai- para transportar
dois cântaros de barro- outras, atingida a idade dos namoricos- para ali
encontrarmos (eu e outros rapazes) as raparigas da aldeia, num entusiasmo
louco, próprio dos primeiros amores.
Era um tempo como não há igual! Como não tive igual! Os que
os viveram jamais os poderão esquecer se tiverem alma, pois a lembrança tem que
por força ter resistido, tão forte a impressão recebida.
Era o lugar na aldeia mais adequado- quase único- onde
podíamos encontrar as namoradinhas, naquela idade entre os onze, doze, treze
anos, quando (embora não o sendo) já nos julgávamos alguém e olhávamos
vaidosamente para a sombra!...Tudo eram rosas no nosso caminho e o Monte tinha
outra vida- a que nós próprios lhe dávamos sem o sabermos.
Já tínhamos namorada! A nossa namorada! Ah! quantos dias
para ali íamos ao fim da tarde, mesmo que não fosse precisa a água em casa!
Havia sempre motivo para conversas da mais variada índole, por vezes mais como
pretexto, embora tivéssemos ali bem perto a Guerra Civil de Espanha- de que se
ouvia o rebentar dos canhões- e a 2.ª
Grande Guerra Mundial de que meu pai
recebia informação em revistas ilustradas das Nações Unidas.
Para nosso entretenimento mais agradável, tínhamos as
notícias desportivas , especialmente as de ciclismo ( Volta a Portugal) atletismo
e, claro, as do futebol, que era a modalidade que já no largo do Monte
praticávamos aguerridamente, por vezes com alguns excessos…
Tudo passava e lá íamos ocupando o tempo o melhor que
podíamos, esquecidos, já, os jogos da meninice:- “pião”, “berlinde”, “fincão”,”escondidas”, inteira, etc..
Já éramos uns homenzinhos! Começávamos a ir aos bailaricos (a princípio só para vermos) mas ali- a nossa bonita fonte- era o lugar
privilegiado- o chamado ponto de encontro, onde a conversa era outra e não o trocávamos por
nada. Pudera!...
Quanto a informação havia quatro rádios na aldeia onde
ouvíamos, especialmente, os relatos de futebol, e os jornais que então nos
chegavam:- “O SÉCULO"– já desaparecido- "O DIÁRIO DE NOTÍCIAS" e o ”O PRIMEIRO DE JANEIRO"- que o meu padrinho Esperancinha assinava e eu mais lia, pois tinha uma
página dedicada aos jovens com indicações para construções em papel e madeira.
Já a estudar na cidade, comecei então a conhecer os jornais desportivos:- “ O MUNDO DESPORTIVO” e “OS SPORTS”( ambos já desaparecidos). Mais tarde, a bela revista "STADIUM"e o JORNAL SPORTING, que o meu saudoso pai assinava em meu nome e eu colecionava cuidadosamente.
Já a estudar na cidade, comecei então a conhecer os jornais desportivos:- “ O MUNDO DESPORTIVO” e “OS SPORTS”( ambos já desaparecidos). Mais tarde, a bela revista "STADIUM"e o JORNAL SPORTING, que o meu saudoso pai assinava em meu nome e eu colecionava cuidadosamente.
Eram outros tempos, sim, mas na minha aldeia, como noutras
do interior, por certo, o tempo dava para tudo, num contacto intenso com a
Natureza, com tempo para estudarmos e nos divertirmos, sabendo, embora, que as
solicitações eram poucas; mas nós, naturalmente, à época, também não éramos
muito exigentes, desconhecendo outros mundos mais avançados, de que aliás nem
quase ouvíamos falar. Mas nós tínhamos os nossos animais domésticos que tão
úteis nos eram, e até o encanto de ter por perto os outros que quase nos
pertenciam, tal a proximidade, o que nos permitia conhecê-los tão bem e tanto
nos alegravam, especialmente as aves do campo com seus maviosos cânticos
Convivíamos com as pessoas mais velhas- família ou vizinhos-
respeitando-as e aprendendo bastante com elas. Escrevíamos as nossas cartas de
amor e, por vezes, as de outros, que sabendo menos, nos pediam esse favor.
Poucas vezes, sim, mas íamos ao futebol e ao cinema a
PORTALEGRE, tendo, de vez em quando, cinema ao ar livre no LARGO DO MONTE, onde,
entre outros, vi o Filme:- “ O HOMEM DO RIBATEJO”, com artistas como BARRETO POEIRA E EUNICE MUNHOZ, que adorei e não mais esqueci.
Quantas agradáveis recordações- inesquecíveis, mesmo! (que
aqui hoje resumi) naturalmente porque era jovem e esse é, normalmente, o melhor
tempo da nossa vida.
NOTA:- Escrevi este texto na minha casa do Monte Carvalho,
no dia 11 de junho de 2013.
JGRBranquinho
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