domingo, 18 de agosto de 2013

A PROPÓSITO DA RAIVA, CONTARAM- ME ESTE CASO



             A  PROPÓSITO  DA  RAIVA, CONTARAM-ME ESTE CASO
Naquele tempo, a raiva assumia, verdadeiramente, um perigo real que trazia assustada toda a gente.
Estávamos em pleno século XIX e aconteciam ainda muitos casos nos meios mais desprotegidos do interior, especialmente nos campos, onde havia maior quantidade de animais, desde os domésticos aos denominados selvagens.
Foi no ano de 1885, que Louis Pasteur descobriu a vacina, através de experiências com coelhos (após várias tentativas infrutíferas de cura por parte de outros, como a cauterização das feridas provocadas pela mordedura de animais- como lobos e cães- feita com ácidos e por ferro em brasa, sendo a morte certa.
Este grande cientista-  a quem a humanidade tanto deve- foi recebido na Academia Francesa por Ernest Renan, naquele mesmo ano de 1885 e justamente  felicitado pelo importante passo que foi a vacina anti-rábica.
Claro que demorou a ser conhecida e aplicada esta milagrosa vacina e continuaram a morrer pessoas, pois, só após as manifestações da doença- também designada de hidrofobia- se sabia que um animal estava raivoso.
Vem isto a propósito dum caso passado numa aldeia do interior do nosso País, de que tive conhecimento e aqui vos deixo.
Um certo lavrador da região, montado num dos seus cavalos de maior confiança, dirigia-se para a cidade por um caminho ainda muito rudimentar- uma azinhaga como eram ao tempo, quase todos- mal permitindo a passagem de uma simples carroça, servindo quase exclusivamente para passagem de animais e pessoas a pé ou a cavalo.
Temia-se, verdadeiramente, o flagelo da raiva e havia muitos casos, todos eles fatais.
Como era hábito, o cão do lavrador acompanhava-o atrás do cavalo por algum tempo. Nesse dia foi até à fonte onde o cavalo tinha por hábito matar a sede, descendo-se o lavrador para lhe aliviar o freio, e com o cão sempre por perto.
Voltou a montar, continuando o seu caminho, mas o cão continuava a segui-lo e ladrava de um modo desusado, saltando à frente do cavalo, parecendo querer atacá-lo.
O lavrador, estranhando a atitude do animal e lembrando-se do problema da raiva, já muito assustado e, receando que o cavalo fosse mordido, bem se lhe dirigia, tentando acalmá-lo, instigando-o para que voltasse para casa, mas ele continuava com tal agressividade, que o dono resolveu puxar da pistola e disparar na sua direção, atingindo-o.
 O lavrador, ao chegar à cidade, precisando de pagar um imposto nas Finanças, deu pela falta da carteira. Sabendo bem que a tinha trazido de casa, lembrou-se de voltar atrás, procurando-a ao longo do caminho, até que chegou à fonte onde se apeara para dar de beber ao cavalo.
É então que se lhe depara um quadro bem preocupante, num misto de alegria e tristeza:- o cão estava ferido, gemendo, mas deitado sobre a carteira!
O homem sentiu um enorme arrepio e correu para o cão, percebendo, então, a razão da atitude do animal, aquando da ida para a cidade. Tinha sido apenas um tiro de raspão, felizmente. Agarrou o animal, afagou-o e correu a tratá-lo no ferrador da aldeia, como era habitual naquela época, dado não haver por ali nenhum veterinário.
Veja-se como o receio da raiva poderia ter levado à morte de um pobre cão, que mais não pretendia do que avisar o dono da perda da carteira.
Quantos animais não teriam sido abatidos por desconhecimento de causa, em outros momentos, dada a perigosidade da doença mortal, que era a raiva.
A descoberta da vacina permitiu fazer-se a prevenção desta doença, que era e é verdadeiramente assustadora, pois os animais selvagens não sendo vacinados, podem ainda contraí-la e transmiti-la aos domésticos e até aos humanos, direta ou indiretamente.
Ao escrever este apontamento, lembro-me do terror que era para nós esta doença, nos tempos da minha juventude, receando que, especialmente os cães (nos gatos também podia aparecer) não tivessem sido vacinados por incúria dos donos.
Hoje, entre nós, felizmente, graças à maravilhosa descoberta de Pasteur, já pouco se fala desta doença, embora ainda subsista o perigo.
Como se costuma dizer:- todo o cuidado é pouco e mais vale prevenir que remediar, sendo- como é-  a vacina, há muito, obrigatória.
A minha singela homenagem a LOUIS  PASTEUR, sabendo que é partilhada por todos os que lerem este meu breve apontamento.
Quanto devemos aos grandes cientistas de outra eras! É bom que- a par da ação da Escola- os lembremos sempre e os demos a conhecer, como é o caso deste, e estando, igualmente, sempre atentos ao contínuo desenvolvimento da Ciência, apoiando todos os que dedicam grande parte das suas vidas no sentido do bem da sociedade atual e futura, com novas descobertas.

Quinta da Piedade, 18 de agosto de 2013
JGRBranquinho



Sem comentários:

Enviar um comentário