A MULHER DA SOMBRINHA AMARELA
Era frequente eu
vê-la passar do outro lado da rua, em frente da janela da minha casa. Posso mesmo
dizer que era raro o dia que a não via, protegendo-se- sempre- com uma
sombrinha arrendada, de cor amarela, de um amarelo muito suave, quase branco.
Via-me a adivinhar-lhe
a idade, embora admitindo que, pelo caminhar lento, não seria já uma jovem. Esta
ideia aliás, reforçada, por todo conjunto:- traje (um pouco fora de moda) e a
sombrinha que tanto usava nos dias de tempo quente com nos de invernia .
Tornava-se muito
notada na zona, pelo que já vos disse e, ainda, por passar grande parte do dia
na rua, portando, igualmente, uma velha malinha de mão, bastante volumosa, por
sinal.
Tinha curiosidade-
mesmo muita curiosidade- mas não me atrevia a procurá-la no sentido de a
conhecer e saber algo sobre a sua vida. Não me parecia correto, mas andava
verdadeiramente intrigado com aquela presença diária e enigmática, ali no meu
bairro.
Não tinha grande
convívio com a vizinhança- diga-se de passagem- e não queria falar nisto a
ninguém, na esperança de um dia me cruzar com ela na rua.
Andava eu neste
ínterim e num dia em que saí a pé, cruzei-me com a senhora, embora numa zona
mais distante relativamente à minha residência. Como o quadro me era bastante
familiar, foi muito fácil identificá-lo e ver de quem se tratava.
Faltava-me a coragem
e, claro, uma razão lógica para a abordar, podendo correr o risco de ser mal
interpretado, embora o tal meu desejo antigo…
Já depois de nos
termos cruzado, ouvi uma voz que me chamava. Virando-me de imediato, vi que era
a senhora que se me dirigia e corri logo para ela. Era a minha oportunidade!
Quem diria!
- Ó meu senhor, por
favor!
-Diga lá, minha
senhora.
-Sabe que eu moro
muito distante daqui, queria ir para casa, mas perdi-me!
Respondi-lhe que a ia
ajudar, desde que ela me dissesse a morada.
- Sabe, eu vivia na
casa de uma amiga, mas ela faleceu e agora estou sozinha nessa casa, ali perto
da estação dos comboios
- Minha senhora!
Esteja descansada! Sabe que eu já a conhecia de a ver passar na minha rua e vou
tentar ajudá-la.
Depois de ela me
dizer onde se situava a casa- aliá, já bastante distante e num local que eu não
conhecia bem- estava a pensar como fazer, perante um caso que me surgira assim inesperado
e receando meter-me em trabalhos, quando vejo aproximar um carro da polícia.
Fiz sinal e contei o
caso aos agentes, que, de pronto, resolveram a situação, interrogando-me também
e dizendo que conheciam a senhora e que a levariam, mais uma vez, a casa.
Agradeceram-me,
agradeceu-me a senhora, e lá tive oportunidade, sem o esperar, de conhecer um
pouco melhor a mulher da sombrinha amarela, que mais uma vez se tinha perdido,
como pude comprovar com os agentes da polícia.
Vim, depois, a saber-
junto das autoridades- que o caso ia ser resolvido pela Junta de Freguesia de
acordo com a polícia e os serviços sociais, no sentido de uma maior vigilância
e proteção, até lhe arranjarem um lar.
Mal diria eu que
viria um dia a ter que dar a minha pequeníssima contribuição no sentido de
ajudar a minha velha conhecida:- A MULHER DA SOMBRINHA AMARELA.
Quinta da Piedade, 12
de Fevereiro de 2014
JGRBranquinho
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