sexta-feira, 26 de novembro de 2010

POEMA SEM TÍTULO

Cai a chuva,
em torrentes lacrimosas,
do céu, sobre a Terra ressequida!
Lágrimas pendentes, deliciosas,
que deixam minha alma agradecida.
Dos beirais...
ritmo quase sempre igual...
Ouço-as quebrar
este silêncio sepulcral.

Caem sobre as pedras da calçada,
Juntam-se formando uma corrente.
Em ondas pequeninas, interligadas,
Vão desaguar no rio, docemente.

Pergunto à chuva:- De onde vens, tão pura?
É uma gota que responde mal segura:
-Nós somos a água, agora purificada,
que daqui partiu às alturas elevada.
E, como a água à altura desconhecida
sua pureza cristalina foi buscar...
Também minha alma,
em devaneios esquecida...
Busca, sempre, tua imagem encontrar.

És tu, mulher,
quem minha vida purificas,
Doce acolhimento
do meu penar distante!
Em teu regaço...
as lágrimas vertidas
Se transformam
em alegria esfuziante.

Dia-a-dia,
em meus sonhos de ventura,
Te procuro, mulher- minha felicidade!
E numa visão linda que perdura
Se reduziu meu tormento
de infinda saudade.

Então, meus olhos ,
em dor e mágoa ungidos,
De sentimental saudade mui chorosos!...
Traduziram meus ais, meus gemidos,
P'los teus, tão belos, tão formosos.

Eram uns olhos chorando
por outros olhos
Tão distantes...
mas unidos estreitamente!...
Que os laços do amor,
vencidos os escolhos...
Nossas vidas unirão
eternamente!

E agora...
Sol que te espelhas no Mondego
De águas calmas e claras de cristal!
Com teu raiar...
alegra-me o desassossego
Desta dor de ausência
sempre igual.

(Em Coimbra, quando ali cumpria o meu serviço militar, como miliciano.)
Revistos em 2010.

JGRBranquinho

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