segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

QUANDO TE VI A VEZ PRIMEIRA








QUANDO TE VI A VEZ PRIMEIRA
Quando te vi, a vez primeira, no meu lugar,
saltou-me o coração, bateu intenso, acelerado, no meu peito.
Parece que foi há pouco tempo, parece que foi ontem,
tão presente tenho esse momento de felicidade inaudita!
Diz-se que há amor à primeira vista
 e não serei eu que contradigo tal afirmação,
pois foi exatamente o que aconteceu comigo.
Nunca te tinha visto nem sabia da tua existência!
Ao ver-te ali, inesperadamente, foi como se uma revelação
me tivesse tocado fortemente e me mostrasse a pessoa sonhada.
Fiquei inquieto, nervoso, mas intimamente feliz,
pois era um sentimento diferente- totalmente diferente-
- como jamais sentira!
Não sei o que te disse, nem como (talvez desajeitadamente)
mas julgo que te devo ter causado a princípio, estranheza,
 por aquela aproximação espontânea de um desconhecido,
pois também não sabias quem eu era.
Conhecia a pessoa que te acompanhava,
mas não sabia se eras da família dela, se, apenas, amiga.
Sei que falámos por breves momentos e que- ao desejarmos
“ o boa tarde” de despedida- ali fiquei por uns instantes
a ver-te voltar para a casa da Quinta.
Depois… olhaste para trás e viste que eu continuava a seguir-te,
 embora não sabendo do meu estado de alma,
meio atónito, verdadeiramente encantado com a tua aparição.
Quis ir atrás de ti mas contive-me, embora a custo.
Voltei para casa e trazia a tua bela imagem comigo!
Num impulso superior, contei logo, a minha mãe, o sucedido!
Ela ouviu e comentou:- Credo! O que é isso, rapaz?
Continuámos a conversa e concluímos que algo de diferente se passava comigo.
Ela também não te conhecia e disse-me de imediato:
- Deve ser uma rapariga muito bonita! Nunca te vi assim, rapazinho.
Eu, louco de entusiasmo, quase não dormindo e sabendo já quem eras
 e o que estavas ali a fazer (pela breve conversa do dia anterior)
fui logo na manhã seguinte para o largo do Monte, à espera de te ver chegar.
Perto das nove horas, lá vinhas tu a caminho da Escola, com uma bonita pasta de cabedal,
acompanhada da tua tia e prima e outras crianças.
Estavas ali a preparar a tua ida para o Colégio e eu tinha, também,
que pegar na “Dinâmica”- a minha bonita bicicleta-  para chegar rápido
 à Escola Industrial Fradêsso da Silveira, onde completei o Curso e, anos depois, o do Liceu Mouzinho da Silveira, na cidade de Portalegre- talvez o melhor tempo da minha vida.
Foram uns dias deveras agitados, de muita ansiedade, a procurar coragem para te escrever.
No dia 31 de outubro daquele distante ano- véspera do “Dia de Santos”- foi, então, o envio da carta a pedir-te namoro.
Muitas frases feitas, naturalmente, ficando nervosamente a aguardar uma tua resposta.
Ela veio poucos dias depois- que louca alegria!- e apetecia-me mostrá-la a toda a gente!
Recordo-me duma frase:- “ Já devia ter pensado que eu não lhe negava esse pedido”…
Depois, foram anos de loucura, de acendrado amor, embora bastante atribulado, por diversas razões.
Fomos felizes-  apesar das limitações impostas-  porque nos amámos verdadeiramente.
Hoje, resta-nos esta sentida recordação e uma amizade sem mácula, que nada nem ninguém consegue destruir.
Quinta da Piedade, 17 de fevereiro de 2014
JGRBranquinho


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