quarta-feira, 7 de outubro de 2015

DO ALTO DA MINHA SERRA



Aqui, deste lugar de privilégio na minha Serra/Mãe- S. Mamede, no Norte Alentejo- tenho a possibilidade de apreciar toda uma vasta área de rica vegetação, salpicada de brancas casinhas- algumas já luxuosas vivendas- que enriquecem esta deslumbrante e grandiosa paisagem onde se inclui, também, a minha Ribeira de Nisa, minha adorada e recantada freguesia.
Caminhei por prazer, embora com alguma dificuldade, nas ainda existentes veredas sinuosas traçadas há muitos anos, algumas já com tufos de ervas que, resistentes, as vão cobrindo e escondendo de nossos olhos, valendo-me a minha orientação neste terreno, que tantas vezes percorri na minha mocidade, a caminho da Escola na cidade de Portalegre.
Não tínhamos na Serra outra alternativa. Quantas vezes a desci, noite dentro, orientando-me especialmente pela luz dos candeeiros a petróleo e candeias de azeite que se escoava pelas janelas das casas do meu Monte Carvalho (onde se situava também a minha casa) já que a luz elétrica só muito mais tarde veio iluminar o meu pequeno lugar.
Outros tempos, outras condições de vida! Não tínhamos grandes ambições, criados que fomos naquele meio do interior, e lá no íamos habituando com a vantagem de podermos apreciar durante a noite o céu estrelado ou as poéticas noites de luar o que nas cidades era tarefa difícil.
Tínhamos a cidade relativamente perto e contentávamo-nos com uma ou outra ida ao cinema ou às feiras tradicionais, que, ao tempo, eram uma verdadeira festa para nós. Pode considerar-se que era pouco, mas era algo de extraordinário a par da possibilidade que no campo tínhamos de conviver de perto  e conhecer os animais, inclusive alguns silvestres!Tinha um valor inesquecível para todos nós!
As feiras e outras festas eram também razão para estreia de vestuário. Embora com poucos meios (algumas até com sacrifício) as famílias faziam questão de estrear fatiota, confecionada por costureiras e/ou alfaiates, que ao tempo ainda existiam quer na cidade, quer até no campo.
Daqui, deste lugar de privilégio sobranceiro à minha aldeia, relembro igualmente os trabalhos no campo, verdadeiro e riquíssimo alfobre de onde brotavam a maior parte dos nossos alimentos, empregando quase toda a população da freguesia desde os mais novos- ainda inexperientes- aos velhos sábios agricultores que eu tanto respeitava e admirava.
É saudosismo? Sim, saudosismo dum tempo de trabalho e vida nos campos, contrariamente aos dias de hoje: uma verdadeira tristeza, com belíssimas hortas (onde tudo se colhia) ao abandono, hoje apenas reservadas ao pastoreio de uma ou outra vaca, ovelha ou cabra.
Razões de muitos de nós conhecidas, levaram a esta triste situação do êxodo para as cidades e até para outros países, embora- ainda que aos poucos- já aqui e ali se vão conhecendo exemplos de gente nova que procura a vida aqui, baseada em algum conhecimento adquirido em escolas e também sob o conselho e orientação de homens idosos que se mantiveram por cá.
Quem sabe se ainda teremos oportunidade de ver uma nova vida nos campos? Oxalá, pois o nosso país, embora parecendo pequeno, ainda tem muitos e bons terrenos para o cultivo que, devidamente aproveitados, poderão contribuir, deste modo, para a riqueza nacional.
Entardece! Eu, como estas aves que por aqui esvoaçam e me têm feito companhia,vou procurar o meu abrigo, dando por muito bem empregue o tempo que por aqui me demorei enchendo a alma neste largo horizonte campestre tão do meu agrado, com a promessa e a esperança de mais tarde aqui voltar, por um lado observando a vastidão deste belo quadro da Natureza e, por outro, igualmente importante, rememorando, saudosamente, realidades vividas na minha juventude e adolescência, na terra que há já muitos anos me viu nascer e a que continuo muito ligado, embora, contrariado, não permaneça aqui por muito tempo.
 Sempre que tenha condições para o poder fazer, aqui voltarei com todo o gosto.
É a minha terra e está tudo dito.

Junho de 2015
JGRBranquinho




2 comentários:

  1. Respostas
    1. O meu obrigado, Dulce! Obrigado por teres lido e teres dado tão agradável e amável opinião. Quando escrevemos, naturalmente, gostamos de saber a opinião de quem nos lê, acreditando ser sincera.
      Se for favorável... ainda melhor, claro.
      Beijinho

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