quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

FOI POR TI



Acordaste em mim o prazer de nova vida!
Vivi, daí em diante de modo diferente!
Descobri, então, o que é estar contente
Após tal bênção graciosamente recebida.

Vi o meu pobre lugar com outro encanto!
Despertei p’ra uma nova fase desta vida.
Vi como todo o meu ser- mulher querida,
Se transformou num novo e belo canto.

Foi por ti- linda mulher- que o pobre poeta
Sentiu cada dia, mais e mais, sua alma inquieta
E seu coração bater mais forte por teu amor.

Foi por ti que pude ser mais eu- linda mulher!
Senti-me um homem diferente por teu querer
Se adornou meu canto por ti, meu terno AMOR.

Às 16.45 h de 31 de dezembro de 2014
JGRBranquinho


terça-feira, 30 de dezembro de 2014

CAMPOS DO ALENTEJO



Meus alegres campos, campos verdinhos
Que me trazeis mais vida à própria vida!
Como vos estou grato nesta terra querida
Recebendo de vós tantos e tais carinhos.

Meus breves dias… em vós, melhor sentidos!
Oh! quanto me alegrais na curta estadia,
Que, embora de passagem, há tanto não sentia!
Prazerosos momentos, jamais esquecidos.

Ó belos campos verdes na Serra amada,
Quanto eu vos amo! Quanto vos venero!
Este sentimento maior é o mais sincero.
Minha admiração por vós… sempre exaltada!

Monte Carvalho, dezembro de 2014
JGRBranquinho



segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

GRATO AO CÉU


Meus olhos em tua imagem
 se encantaram!
Meu ser se incendiou
 num raro entusiasmo.
O mundo pareceu melhor
 nesse meu pasmo,
As  dóceis musas
de mim se aproximaram.

Momentos d' alegria maior
 em mim ficaram
Desde esse instante diferente,
 feliz instante!
O teu poeta se embriagou deveras
 exultante...
Minha alma e meu coração
 ali te consagraram.

Desde então foste luz
 no meu caminho!
Companheira dileta do poeta
teu amado.
Presença ímpar, dia a dia,
lado a lado!...
Desfrutando todo o amor
 e teu carinho.

Por isso agradeço ao Céu
dádiva tamanha,
Cantando esta bênção
que sobre mim jorrou.
Em minha vida,
jamais me abandonou
Qual flor viçosa-
a mais bonita da montanha.


Monte Carvalho, novembro de 2014
JGRBranquinho









domingo, 28 de dezembro de 2014

A MINHA PRIMEIRA ESCOLA- ESCOLA DA FONTEDEIRA EM PORTALEGRE

Em 1935 começaram a ser construídas estas Escolas integradas no chamado "PLANO DOS CENTENÁRIOS".
Era Ministro das Obras Públicas o Eng. Duarte Pacheco, que incumbiu os arquitetos Rogério de Azevedo e Raul Lino, da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, desse importante projeto. Eram edifícios geminados de forma a poderem garantir
a separação dos sexos, havendo quatro salas em cada um deles. Na imagem pode ver-se um desses edifícios, onde comecei a trabalhar como docente no ano letivo de 1958/59, mantendo-me ali até 1959/60, época em que me transferi para Lisboa. Eram escolas bem apetrechadas e com um bonito aspeto, existindo ainda algumas no País. Viradas a Sul com uma melhor exposição ao Sol, esta ficava a norte do Jardim Público de Portalegre, muito bem enquadrada com a famosa Cascata como se pode ver na imagem, tendo por fundo a Serra de Portalegre e o Colégio de Santo António. A minha sala, olhando a foto, era no primeiro andar, à esquerda.
Guardo, como é natural, a melhor recordação desta escola- A MINHA PRIMEIRA ESCOLA- A ESCOLA DA FONTEDEIRA, onde lecionei duas turmas, guardando ainda a relação dos nomes desses meus alunos. Nesse local foi construído depois, o atual Hospital Dr. José Maria Grande., desaparecendo, também, infelizmente, a bonita Cascata, onde existe agora o Café/Restaurante " O TARRO", encimando o Jardim Público, também alterado sem vantagem, na minha opinião e de muitos outros portalegrenses.
Enfim... modernices que nada acrescentaram à beleza do local, que era o Passeio público da cidade e onde se realizavam as feiras das cerejas e das cebolas, hoje deslocadas para a zona industrial.

Quinta da Piedade, 29 de dezembro de 2014
José Garção Ribeiro Branquinho

VIDA E OBRA DE JOSÉ DURO


 









José Duro
Portalegre 1875 - Lisboa 1899

Vida e obra de José Duro
José António Duro- mais conhecido como José Duro, foi um poeta decadentista português. O primeiro soneto, intitulado A Morte, foi escrito em Portalegre, em 1895, revelando já um temperamento melancólico, pessimista e mórbido ainda mais evidente no Fel, publicado alguns dias após a sua morte. A tuberculose teve, provavelmente grande influência no seu carácter sombrio. Em 1896 publicou em Portalegre, um folheto de versos que intitulou Flores. Foi aluno da Escola Politécnica de Lisboa; frequentou tertúlias onde desenvolveu o seu interesse pela literatura ( nacional e estrangeira) sofrendo forte influência de autores como Baudelaire, António Nobre, Antero de Quental, Guerra Junqueiro e Cesário Verde. A prostituição, a morte, a tuberculose e o desespero são os temas mais recorrentes da sua poesia, considerada a mais negativista das correntes estéticas decadentistas de Portugal.


NOTA:-
Uma síntese sobre a vida e obra de JOSÉ DURO um grande POETA meu conterrâneo. No anterior apontamento a que dei o título " A DOR DE JOSÉ DURO" deixei poemas dum tempo em que se encontrava já muito doente.Em cima o primeiro Monumento a José Duro, construido à custa dos  estudantes do meu tempo. Lê-se uma quadra do POETA:- O LIVRO QUE AÍ VAI - OBRA DUM INCOERENTE-  É UM LIVRO BRUTAL, É UM POEMA A ESMO... / PENSEI-O PELA RUA OLHANDO TODA A GENTE,/ ESCREVI-O NO MEU QUARTO OLHANDO-ME A MIM MESMO...
Quinta da Piedade, 28 de dezembro de 2014
JGRBranquinho

A DOR DO POETA JOSÉ DURO



                                  Doente


Quando o meu corpo, já sem vida, inerme
Lançado for à podridão do verme,
- Se ele é verme também, e o verme é pó-
-Porque de todo o meu olhar eu cerre,
Pede, pede ao coveiro que me enterre
Na cova mais humilde, ó minha avó!



Escrevo e choro; dói-me a alma; tenho febre
Não sei a quantos graus- calor insuportável;
- Moderno Lázaro- ó que vida miserável
Eu vivo aqui, doente e só, no meu casebre.

Agora compreendo a dor de não ter lar
E a dor de viver só- desventura tamanha!
É ser mais triste do que os cardos da montanha,
As urzes do caminho e as noites sem luar…



 Meus tempos de criança! E fui fadado assim!
 A minha mocidade é como que um deserto;
 Não creio que haja alguém que possa amar-me, enfim
 E Deus, se Deus existe, odeia-me decerto…

              Confesso que estou pronto, e, se me vejo ao espelho,
              Descerra-se-me a boca em risos de desdém…
              Imagem do que fui, - eu nunca fui ninguém-,
              E , ó má fatalidade, encontro-me hoje um velho.

             Cavou-me a Dor na face as rugas do desgosto,
             Meus olhos de chorar vão-se tornando cegos,
             E quando os chamo, a ver aquilo que dá gosto,
             Escondem-se na treva assim como morcegos.

           Dilui-se-me o pulmão e sai-me pela guela
             À força de tossir bastante enrouquecida,
                                                     E se inda vivo assim é porque a minha vida,
                                                     Amarga como é não posso dispor dela.
  
    Porque a verdade é esta: a vida que se arrasta
    Do nada até à flor, do verme até a pedra,
    É sempre a mesma vida incómoda, nefasta…
    Que a dor do Universo em toda a parte medra.

           

 Assim, talvez um dia eu, que prefiro a Lua
 A tudo quanto é bom, a tudo quanto é são,
 Me torne por destino em pedra duma rua,
 Que a multidão acalque, a doida multidão.

Talvez eu venha a ser a flor dum cemitério.
E estrela do Azul, a areia do Oceano;
A Vida não tem fim como o destino humano,
E se o Não-ser é tudo, o Nada é um mistério.

E eu que era, noutro tempo, enérgico, robusto,
Quando no meu jardim floriam as roseiras,
Padeço horrivelmente, já respiro a custo,
E a minha tosse lembra a reza das caveiras…

Quem sabe lá! Talvez nas grutas do meu ser
A Morte agora esteja abrindo algum jazigo…
E os vermes por desgraça escutem o que eu digo,
Vivendo dentro de mim sem eu os perceber.

Que negro mal o meu! Estou cada vez mais rouco!
Fogem de mim com asco as virgens d’olhar cálido
E os velhos, quando passo, vendo-me tão pálido
Comentam entre si:- coitado, está por pouco!...

Por isso tenho ódio a quem a quem tiver saúde,
Por isso tenho raiva a quem viver ditoso,
E, odiando toda a gente, eu amo o tuberculoso,
E só estou contente ouvindo um alaúde.

Cada vez que me estudo encontro-me diferente,
Quando olham para mim é certo que estremeço;
E vai daí, pensando bem, sou, como toda a gente,
O contrário, talvez, daquilo que pareço…

Espírito irrequieto, fantasia ardente,
Adoro como POE as doidas criações,
E se não bebo absinto é porque estou doente,
Que eu tenho como ele horror às multidões.

E amando doidamente as formas incompletas
Que às vezes não consigo, enfim, realizar,
Eu sinto-me banal ao pé dos mais poetas,
E achando-me incapaz, deixo de trabalhar.

São filhos do meu tédio e duma dor qualquer
Meus sonhos de nevrose horrivelmente histéricos
Como as larvas ruins dos corpos cadavéricos,
Ou como a aspiração de Charles Beaudelaire.

Apraz-me o simbolismo ingénito das coisas…
E aos lábios da mulher, a desfazer-se em beijos,
Prefiro os lábios maus das negregadas loisas,
Abrindo num ansiar de mórbidos desejos.

E é em vão que medito e é em vão que sonho!
Meu coração morreu, minha alma é quase morta…
Já sinto emurchecer no cancro a flor do Sonho,
E oiço a Morte bater, sinistra, à minha porta.

Estou farto de sofrer, o sofrimento cansa,
E por maior desgraça e por maior tormento,
Chego a julgar que tenho- estúpida lembrança-
Uma alma de poeta e um pouco de talento!

A doença que me mata é moral e física!
De que me serve a mim agora ter esperanças,
Se eu não posso beijar as trémulas crianças,
Porque ao meu lábio aflui o tóxico da tísica?

E morro, morro assim tão novo! Ainda não há um mês,
Perguntei ao doutor:- Então?...- Hei de curá-lo…
Porém já não me importo, é bom morrer, deixá-lo!
Que morrer… é dormir… dormir… sonhar talvez…

Por isso irei sonhar debaixo dum cipreste
Alheio à sedução dos ideais perversos…
O poeta nunca morre embora seja agreste
A sua aspiração e tristes os seus versos!

  José Duro

NOTA:- Colocando aqui os seus versos (de um período já muito mau da sua vida) presto-lhe deste modo a minha singela homenagem.
Quinta da Piedade, 28 de dezembro de 2014
JGRBranquinho