PASSARAM ANOS
Passaram dias, meses, anos, tantos, tantos!,
desde aquele dia de outubro- meu favor.
Viu-te subir o Monte, meu espírito sonhador
no teu caminhar célere- todo encantos.
Ninguém me tinha falado de ti!
Não sabia quem eras. Nunca te tinha visto!
Num repente… ali estavas, mulher, qual aparição!
Vi-te caminhar no sentido da casa onde também aprendi,
onde me prendi por breves quatro anos.
Comecei a interrogar-me:- Quem serias?
Logo soube, dado o pequeno meio onde vivia
e onde agora estavas, sem que eu soubesse
porquê e para quê.
(Soube, depois, que vinhas para continuar os estudos).
Vi-te durante alguns dias, admirando a tua beleza e elegância.
Certa vez, aguardei a saída e segui-te à distância.
Vi-te entrar na Casa da Quinta, onde viviam teus familiares.
Quantas vezes ali passei a contemplar esse santuário,
onde agora residias, na secreta esperança de te ver!
Certa tarde saíste e, por outro caminho,
fui ao teu encontro.
Cumprimentei-te com “um boa tarde”e dirigi-te a palavra.
Não sei o que disse! Estava trémulo de emoção e receio
sem saber como reagirias à minha tentativa de aproximação.
Fiquei deslumbrado ao olhar-te assim tão perto!
Eras ainda mais bonita do que supunha,
ao ver-te à distância.
Despedi-me com uma decisão íntima já tomada:
-iria escrever-te!
Encontrado “o correio”- uma garota de 6 anos—
lá seguiu a missiva no dia 31 de outubro.
Quanta dúvida! Quanto receio! Quanto anseio!
No dia seguinte- 1.º de novembro- Dia de Todos Os Santos-
com o pretexto de ir “pedir os santinhos”- como era hábito,
lá fui à Casa da Quinta, na expetativa de te ver e falar.
Vieste à porta com a empregada, de bandeja numa das mãos,
enquanto na outra tu seguravas a garrafinha do licor da praxe.
Sem procurar saber ali a tua resposta,
logo breve ela veio, para meu sossego.
“ já devia ter pensado que não lhe negava esse pedido”…
Esta e todas as outras frases que escreveste,
eivadas de sentido e magia, enlouqueceram-me de alegria.
Não sabia o que fazer o pobre ser enamorado!
Procurei partilhar com alguém, a minha situação de regozijo.
Contei a uma pessoa de família e a um amigo de infância,
mas, num instante, a notícia se espalhou no sítio,
sob a inveja de algumas pessoas, talvez a incredibilidade de outras
e a má fé de alguém que não viu com bons olhos o meu sucesso.
Seguiram-se episódios- os mais díspares- misto de alegrias e tristezas.
Fomos felizes à margem de situações problemáticas
que nos foram criadas, durante curtos-ou longos? anos,
mas sobrevivemos e amámo-nos sempre.
Bendito seja o AMOR!
Quinta da Piedade, 6 de agosto de 2012-08-06
JGRBranquinho.