Ainda não há muitos anos, era vulgar ver pelas estradas, viandantes- caminheiros- que levavam recados, ou, então, homens muito pobres que de terra em terra iam pedindo esmola, procurando abrigo em algum alpendre, palheiro ou cavalariça, que os habitantes das terras, lhes concediam, especialmente se chovia ou estava frio.
Eram pobres velhos, na maioria já sem família ou abandonados pelos filhos que não se sentiam obrigados a sustentá-los, alegando falta de condições, infelizmente, mais falta de sentimentos.
Ainda vi e conheci alguns. Em casa de meus pais, também, alguns tiveram abrigo.
Algumas vezes incompreendidos por gente menos sensível, coitados, lá iam “levando a sua cruz ao calvário”, quantas vezes doentes e com fome! Era “um dó de alma” vê-los!
A alguns ouvi verdadeiras histórias de encanto, mas, também, descrições aterradoras de uma vida “sem rei nem roque” que estavam obrigados a levar para sobreviverem.
Conta-se que, certa vez, um deles, já cansado, se cruzou na estrada entre Estremoz e Évoramonte, com um almocreve, que na sua carroça também andava de terra em terra, vendendo fruta da região de Portalegre- mais propriamente da minha Ribeira de Nisa, farta em belos pomares, que forneciam fruta até à cidade de Évora!
Hoje, esses pomares, estão quase desaparecidos por culpa de muita gente, mesmo da própria freguesia.
Ora, como ia contando, o nosso caminheiro, já cansado de tanto andar, dirigiu-se ao almocreve, perguntando-lhe:- Amigo, quanto tempo ainda terei que andar para chegar lá acima, a Évoramonte?
- Siga o seu caminho!- respondeu .
O pobre homem, desiludido, olhou-o abatido e, naturalmente, pouco contente com a resposta obtida e tão intempestiva para ele.
Volvido algum tempo ouviu gritar, lá de longe:- Oiça, amigo, daqui a uma hora estará lá.
-Então, porque não me disse logo?!
-Queria ver como era o seu andamento!... Se se mantiver nesse passo… é como lhe digo:- uma hora!
Ah! Obrigado. Agora compreendo.
Lá seguiu o seu caminho e ambos de riram com o sucedido.
Nem sempre as coisas são tão lineares; nem sempre as respostas e a sua compreensão, são à primeira vista entendidas…
Afinal, o almocreve- homem experimentado- tivera razão na resposta dada, no modo como o fez.
Assim o pobre viandante fosse capaz de manter o passo até chegar lá acima, àquela bela vila transtagana e cheia de história, como é Évoramonte.
Que Deus se compadeça e proteja os velhinhos que ainda por aí andam por veredas, caminhos, ou estradas de Portugal, solicitando a bondade das pessoas, no sentido da dádiva de uma esmola- o chamado “pão de cada dia”.
Melhor, que todos saibam assumir as suas responsabilidades, para que não tenhamos quadros como este, nem aqui, nem em qualquer outra parte do Mundo.
Quinta da Piedade, 14 de agosto de 2012
JGRBranquinho
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