UM CAFÉ FRIO
Dava eu os primeiros passos nos caminhos do amor (rapaz espigadote mas algo ingénuo) sem ter bem a noção da falta de conhecimentos, ou experiência de vida, que não tinha na realidade, nem poderia ter, dados os meus poucos anos de contato com o mundo dos homens, especialmente os termos de calão usuais já nessa época distante.
Desloquei-me a uma terra próxima- cerca de dez quilómetros- usando como meio de transporte, a minha “Dinâmica”- uma bonita bicicleta vermelha- oferecida por meus saudosos pais por ter passado de ano na Escola Industrial Fradêsso da Silveira, que na altura frequentava, um pouco a contra gosto, em Portalegre, visto não ser um curso muito do meu interesse, por variados motivos.Tinha-me sido aconselhado pela D. Amélia- professora do Ensino Primário na minha aldeia, com a ideia de que era um curso que dava para vários empregos, inclusive para uma possível entrada nos Correios.
(Voltando de novo atrás- à razão principal deste meu escrito).
Depois daqueles namoricos de gaiatos, conhecera uma jovem adolescente que me dera volta à cabeça, que não conhecera antes, pois nem era do meu sítio.
Consumou-se o namoro e, por carta, combinámos um encontro na terra dela. Seria num “café matutino e taberna vespertina”, como ao tempo era habitual, cuja dona tinha dado o seu assentimento para lá namorarmos um pouco.
Cheguei um pouco mais cedo e entrei no dito Café. Apresentei-me, pois a senhora não me conhecia, nem eu a ela.
Que esperasse um pouco, pois a minha namorada deveria estar a chegar…
Iamos conversando, até que a dona do Café me propôs tomar alguma coisa.
- O que quer tomar?
- Um café- respondi eu muito rápido.
- Mas... frio ou quente?
E eu- muito preocupado em não maçar a senhora- respondo de imediato:- Pode ser frio!
Serviu-me num copo de vidro e, logo que o chego à boca, sinto que não era um café; era, sim, um copo de vinho tinto, amargo como fel.
Não me dei por achado, bebi um pouco, e, aproveitando uma curta ausência da senhora, vim até à porta e deitei-o fora. Desconhecia o termo usado para servirem um copo de vinho, dando assim a ideia a quem estivesse presente, de que se tomava um café.
Se eu fosse um frequentador assíduo de cafés atabernados, teria logo percebido e diria que queria um café quente que, na altura, era o chamado café de saco.
O que faz a inexperiência de alguém que aparentemente era já um homenzinho- só o era, no entanto, na altura, pois, como já dei a entender, era alto.
Não dei parte de fraco e contei “à minha mais que tudo, “quando ela chegou. Rimo-nos e aprendemos ambos, já que ela com muito maior razão, também não conhecia o termo.
Não dei parte de fraco e contei “à minha mais que tudo, “quando ela chegou. Rimo-nos e aprendemos ambos, já que ela com muito maior razão, também não conhecia o termo.
Muito mais tarde, já me atrevia a contar este episódio aos amigos e todos se divertiam com a minha ignorância, enquanto outros, talvez, também tivessem aprendido com a minha lição.
Nota:- Cuidado, que ainda pode haver essa designação…
Peçam um café quente se não querem passar pelo que eu passei…
Bem, mas se preferem vinho, façam a experiência.
Peçam um café quente se não querem passar pelo que eu passei…
Bem, mas se preferem vinho, façam a experiência.
Para não ser tudo mau- relativamente, claro - passei, passámos, uma tarde agradável, embora na parte final com a presença de um irmão dela que ainda experimentou a minha “Dinâmica- a tal bicicleta encarnadinha que era outro dos meus encantos.
Quinta da Piedade, 15 de agosto de 2012
JGRBranquinho
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