LEMBRANÇAS MINHAS

LEMBRANÇAS  MINHAS

Cantava eu no meu quarto, naquela época distante e saudosa, as melhores canções que ia aprendendo, ouvindo-as nos poucos rádios que havia.

Eram canções que me encantavam e eu adorava cantarolar, julgando-me um artista!

Mal diria eu que elas perdurariam no tempo, embora fossem todo o meu agrado.

Canções que ainda hoje fazem parte do panorama musical português, cantadas por gente que sabia cantar, que cantava e encantava, como se diz dos que o sabem fazer.

Estávamos nos anos quarenta, cinquenta, e era uma festa quando algum desses verdadeiros artistas se deslocava á província.

Lembro-me de Alberto Ribeiro, Amália Rodrigues, M. Teresa de Noronha, Carlos Ramos, Hermínia Silva, Alfredo Marceneiro, Ada de Castro, Tomé de Barros Queiroz, José António, Manuel Fernandes, Simone de Oliveira, Fernando Farinha, Manuel de Almeida, Lucília do Carmo, Carlos do Carmo, João Ferreira Rosa, Anita Guerreiro, Vicente da Câmara, Rui de Mascarenhas, Toni de Matos, e tantos outros meus ídolos que nunca mais esquecerei, pelo seu indiscutível valor.

Valor, aliás, sobejamente reconhecido por todos os que tiveram e têm a dita de os ouvir ainda nos nossos dias, se não ao vivo- eles são imortais!- em gravações bem cuidadas por gente que cumpre esse dever de os eternizar e nos deliciar, aliviando saudades.

Quantos dias, quantas noites, no ambiente bucólico do meu sítio, passei deliciando-me a ouvi-los, mormente quando tive o primeiro rádio, que partilhava com os meus amigos na aldeia.

Havia ali, quando muito, quatro ou cinco aparelhos alimentados por baterias, já que, energia elétrica era coisa da cidade!

O meu era um portátil- PHILIPS- que andava comigo para todo o sítio. Era um delírio!

Que saudades desses maravilhosos tempos! Com pouco nos contentávamos.

Mas isto já era um privilégio, não ao alcance de todos, e que tinha um sabor especial, pela raridade, pela novidade que representava.

Quem não viveu esses tempos, não pode calcular quanto representava para um jovem e, também para os adultos, ter um rádio. Poder ouvir música, notícias e…os célebres relatos de futebol nas vozes de Lança Moreira e Artur Agostinho- principalmente- em jogos dos três grandes nessa época:- Sporting, Benfica e Belenenses. Quanta loucura, quanto entusiasmo clubista, quanta felicidade!

Não me levem a mal- não levarão, estou certo- eu tenho saudades.

Quinta da Piedade, 23 de julho de 2013

JGRBranquinho