RECORDANDO UM DIA TRISTE
Os teus olhos a que tanto quis, fechei-os eu- meu Amor- na
tua última hora.
Já não vias, tinha a certeza. Nunca o tinha feito a ninguém,
nem à minha mãe!
Sem que ninguém mo dissesse, naquele momento em que deixaste
de respirar, tendo as tuas mãos entre as minhas, fechei-te os olhos lindos que
tinhas, o que era, aliás, por todos reconhecido.
Jamais me passaria pela cabeça ter que fazer isso, embora tu
me tivesses dito um dia que gostarias de morrer ao pé de mim.
Terminados os teus gemidos e parada a respiração, ainda te
falei, mas sem resultado.
Eu chorava e continuava a segurar as tuas mãos ainda algo
quentes.
Num gesto de grande aflição, chamei a enfermeira, sabendo,
no entanto, que de nada serviria!
(São atitudes espontâneas que se tomam numa hora de
desespero absoluto, como que procurando auxílio.)
Veio logo, também, o médico de serviço, que confortando-me
carinhosamente, permitiu que eu ficasse por alguns instantes junto de ti,
chorando copiosamente.
Depois, levaram-te, e só voltei a ver-te quando tive que
reconhecer o teu corpo no dia seguinte.
Por minha decisão, resolvi que a urna seria fechada e não
mais seria aberta até à hora da entrada no forno crematório. (Era um pedido teu,
o seres cremada.)
Foste velada na Igreja de Santa Joana Princesa, já com a
bandeira do Sporting sobre a urna, como tu desejavas, ao deixares escrito na
carta de despedida:- “Olha que eu quero que a minha urna seja coberta com a
bandeira do meu querido Sporting”.
A capela estava profusamente ornada de flores, como eu nunca
tinha visto! Pessoas de nossa família, da tua Repartição, da Direção do
Sporting e do nosso Coro, e amigos e vizinhos que vieram prestar-te a sua
última homenagem.
Terminada a breve cerimónia religiosa no cemitério e,
enquanto aguardávamos a ordem para que a urna desse entrada no crematório (sem
que eu próprio o tivesse pensado alguma vez) dirigi-te algumas palavras
entrecortadas de lágrimas, bem como, agradecendo às muitas pessoas que te
acompanharam ali.
Sei pouco do que disse, embora recorde bem que referi ir ali
cumprir-se o teu último desejo, reafirmando, igualmente, a tua dedicação como
filha, irmã, mãe, esposa e avó para além do teu fervoroso afeto ao Sporting Clube de Portugal,
demonstrado inúmeras vezes e de que eu sou a principal testemunha, embora tu
bem o demonstrasses fosse aonde fosse, sem receio algum.
Desempenhaste, também, com toda a competência, a função de seccionista do Departamento de Cultura e Recreio, na área do Coro, onde, também, foi muita sentida a tua falta.
Desempenhaste, também, com toda a competência, a função de seccionista do Departamento de Cultura e Recreio, na área do Coro, onde, também, foi muita sentida a tua falta.
Depois, foram dias muito dolorosos, sozinho na nossa bonita
casa, que agora se me afigurava diferente, sem a tua presença, infelizmente.
Sem ti, e com a minha grave doença ainda em fase de
incerteza quanto à cura, passei ali dias muito difíceis!
Dias depois, a Direção do Sporting teve a amabilidade de me
comunicar que te iria prestar uma homenagem, bem como ao jogador Damas, também
falecido naquela altura.
Fiquei agradecido, mas um pouco receoso por temer a minha
reação no momento da homenagem.
Enfim, lá fui, tendo, naturalmente, que manifestar o meu
reconhecimento por esse gesto.
A custo, consegui agradecer, mas era um dever fazê-lo. Por
vezes, vamos encontrar forças onde não esperávamos.
É a vida e as suas consequências. Temos que encontrar em nós
a necessária coragem para continuar.
Assim tem sido ao longo destes anos sem a tua presença
física.
Como tu dizias:- “ Os que partem, só nos levam dianteira”.
Que descanses em paz!
Até ao nosso
encontro- meu Amor!
Quinta da Piedade, 12 de abril de 2014
JGRBranquinho
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