terça-feira, 13 de março de 2018

UM ANJO NA CORREDOURA

UM  ANJO  NA  CORREDOURA

Era um entardecer calmo dum dia de julho- época de exames, na década de "cinquenta"
Por conselho de um professor, que dizia que o que se não aprendeu até ali tinha decidido, em vésperas de importante exame no Liceu, ir até ao Jardim da Corredoura, descontrair um pouco, pois, segundo ele dizia o que não se aprendeu até ali, não vai aprender-se  no último dia, podendo ser, até, contraproducente!
Após o lanche na casa onde estava hospedado, na R. da Maceira, lá vai este vosso amigo para o jardim citado,  a uma hora mais agradável, após um dia de calor próprio da época estival, bem mais propício a umas merecidas férias que já tardavam mas se aproximavam, felizmente.
 Ao chegar junto ao lago, enquanto passeava o olhar na expetativa de apreciar a variedade de
peixes, fui  interrompido pelo “quá, quá” dos patos( que ali tinham também seu lugar adequado) e se assustaram devido à presença inesperada duma bonita jovem que corria junto ao lago, e eu nunca tinha visto na cidade.
Parou junto à grade protetora, bem perto de mim, e logo entabulámos conversação.
Um pouco mais nova que eu- teria cerca de 14 anos- encetámos, naturalmente, um passeio pelo jardim.
Ela tinha um perfume que ressaltava ainda mais a sua beleza,  e que  me agradava sobremaneira.
A sua voz, as suas maneiras cativantes, a sua alegria quase ingénua, tocaram-me extraordinariamente e já agradecia ao destino ter ali ido e poder conhecê-la.
Demos as mãos como duas crianças e brincámos de socalco em socalco, colhendo flores e acariciando-nos sem mal, rindo e olhando-nos com entusiasmo raro.
Sentia-me atraído por ela e percebia –lhe o mesmo sentimento.
Escondeu-se o sol no horizonte da Penha, era quase noite, éramos tão felizes!
Despedimo-nos sem sabermos  os nomes, sem mais palavras.Olhámo-nos e dissémos adeus até que ela desapareceu no fim da avenida  na parte norte, perto do quartel.
Vim impressionadíssimo para a pensão e só pensava nela e na quase certeza de que a iria encontrar no dia seguinte no mesmo local.
Voltei lá por diversos dias, sempre em vão! Julgava ter sonhado!  Mas… não! Foi mesmo real!Eu tinha ali estado com ela- um verdadeiro anjo que me visitou e desapareceu, com se tivesse vindo abençoar-me e voltasse para o seu lugar no Céu.
Nunca mais a vi! Que tristeza a minha! Porque razão aconteceu isto?! Interrogo-me, mas não tenho, ainda hoje, uma resposta. 
Se ela pudesse, ao fim de tantos anos, ler estas palavras! E se eu ainda a pudesse reencontrar , como seria feliz!
Quinta da Piedade, 7 de Agosto de 2012-- JGRBranquinho

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