SOBRE O FALECIMENTO
DE MINHA MULHER
Fechei os olhos a
minha mulher, após falecer na cama em que jazia no Hospital Curry Cabral,
naquele triste fim de tarde do dia 9 de outubro de 2003.
Dizia que queria
morrer ao pé de mim e assim foi. Deus fez-lhe essa vontade, e eu estou certo de
que ela se apercebeu da minha presença até ao triste momento da sua morte.
Ainda falámos um pouco durante a manhã desse fatídico dia, visto que à tarde
ela já não me respondia e apercebi-me de que também, não me via.
·
Foi um
choque brutal, embora já pouco acreditássemos nas suas melhoras; mas há sempre
aquela esperança de que, como diz o ditado: “Enquanto há vida, há esperança”,
apesar do veredito do médico que a operou em abril, (e que a ela própria disse)
que teria apenas mais um a três meses de vida.
·
Ela sabia
que ia morrer e deixou-me uma carta, despedindo-se de nós e pedindo que queria
ser cremada (tal como feito no cemitério do Alto de S. João) e que desejava que
a urna fosse coberta pela bandeira do seu querido Sporting, como foi.
Agarramo-nos a um
ditado, a uma esperança de vida, pelo desejo que é fruto do amor que nutrimos
por essa pessoa e pelo inconformismo próprio de quem receia perder o ente
querido.
Foi um duro golpe que
sofri e de que a muito custo me restabeleci. Foram tempos muito difíceis para toda
a família, sim, mas que a mim, especialmente, tocou, como facilmente se
compreende, depois de uma vida em comum de quase 45 anos, estando nos últimos
anos já sós casa de que tanto gostávamos, no n.º 27-4.º andar da R. de S. Tomé
– Olival do Santíssimo- Prior Velho, pois as minhas filhas já estavam, ao
tempo, nas suas.
Tínhamos todo o tempo
livre para viajarmos, já que ambos estávamos aposentados e era agora a altura
de conhecermos um pouco mais do mundo e gozarmos melhor a nossa reforma.
Quis o destino que
fosse assim e só me resta a conformação, embora difícil, só Deus sabe como.
Derramei muitas
lágrimas, sofri muito, principalmente nos dois anos em que ainda me mantive na casa,
resolvendo então vendê-la para passar a viver numa que a minha filha Dulce
adquiriu na Quinta da Piedade- Póvoa de S.ta Iria, onde, aos poucos, se vai
atenuando a minha dor.
Os anos foram
decorrendo com esta saudade sempre presente e hoje resolvi escrever este breve
apontamento para que fique registado e mais tarde possa ser lido (bem como outros que deixo) pelos
familiares que sobreviverem e queiram saber, em síntese, um pouco do que foi a
minha vida com a Maria de Jesus- a minha querida mulher- que faleceu quatro
dias depois de completar 68 anos.
(Texto a rever)
Quinta da Piedade, 8
de novembro de 2014
JGRbranquinho
Comovi-me com esta tua postagem, não terá sido nada fácil, a vida quantas vezes nos parece injusta, mas o que é certo é que ninguém foge aos desígnios de Deus, estamos de passagem, mais ano menos ano todos levamos o mesmo rumo. O companheirismo que existe num casal ao fim duma vida ao dar-se o afastamento de um só pode trazer dor e solidão, que se vai amenizando com o passar do tempo mas nunca deixa de provocar dor, mas creio que quem parte deixa o desejo que o outro encontre a felicidade merecida pois a vida continua... grande beijinho meu querido amigo e ânimo és boa pessoa mereces que a vida te compense.
ResponderEliminarMinha querida Amiga!
ResponderEliminarO teu próprio comentário me tocou imenso por ver que sendo tu, igualmente, uma mulher com uma alma de eleição, só tinhas que reagir assim ao meu escrito. Além de seres minha seguidora assídua, és uma verdadeira poeta e eu admiro-te muito, como julgo que sabes.
Eu poderia aqui evocar mais recordações, mas entendi (por agora) deixar só esta síntese.
Muito obrigado pelo teu carinhoso comentário, neste desejo de que a vida te sorria, igualmente.
É DE AMIGO PARA AMIGA.
Beijinhos