sábado, 30 de março de 2013

TRISTE E INDESEJÁVEL REALIDADE


                   TRISTE E INDESEJÁVEL REALIDADE
Triste de quem se vê só, neste mundo de incompreensões, sem encontrar eco para os seus lamentos, ainda que os mais justificados!
Longe de tudo e de todos- o Joaquim- perdida a esperança de muitos anos, desiludido, está agora isolado no seu humilde casebre, tendo como única companhia o seu também já velhinho e dedicado  cão- o amigo “Tejo” com quem partilha os pequenos prazeres e os desprazeres da vida,  já muito perto do seu final.
Teve uma intensa e dura vida de trabalho no campo, desde cedo ajudando os pais no arranjo da terra. Não foi se não por uns breves dias à escola, o que, ao não ser de todo obrigado (por as autoridades fecharem um pouco os olhos e por aos pais dar jeito o seu ainda que pequeno contributo) o levou a integrar-se nas tarefas espinhosas do cultivo das terras, deixando o convívio com as crianças do seu tempo e a possibilidade de sociabilizar e aprender algumas letras.
Afastado do seu próprio e pequeno meio no interior, dia a dia se viu a lidar com pessoas de um nível etário diferente, e…nunca foi criança!
Os anos foram passando na sua sequência normal. À noite, cansado, queria era descansar, fechado no seu pequeno mundo de preocupações com o trabalho que o esperava no dia seguinte e já destinado pelos pais:- limpar a cavalariça, dar de comer aos animais junto à casa ou na horta distante (que traziam à renda ) ir à fonte, cavar, regar, sachar, mondar, etc..
 Enfim, um trabalho rotineiro que não lhe deixava tempo algum livre para que sequer lhe pudesse passar pela cabeça a necessidade de ir à escola da aldeia, onde estavam os meninos do seu tempo e da sua idade- esses, ainda assim, meninos! ( Restava saber, no entanto, até quando!... )
A sua ruralidade acentuava-se cada dia mais, com todos os seus interesses virados para os trabalhos do campo, ajudando a família, realmente necessitada.
As conversas tinham, naturalmente, que girar em torno dos seus afazeres e ia adquirindo os conhecimentos que, cada vez o prendiam mais a essas atividades campestres, deixando de se interessar por qualquer outra, inclusive, a dos estudos.
Veio o tempo de “ir às sortes” e foi apurado contra a sua e a vontade dos pais. Fazia falta na casa!
No entanto, lá teve que ir cumprir o serviço militar, contrariamente aos seus desejos e da própria família..
No quartel havia as aulas regimentais e aí aprendeu alguma coisa, embora limitando-se a aprender a ler e a escrever e a saber fazer algumas contas, o que, no entanto já representava algum progresso.
Foi o tempo cumprido e… comprido… para quem tinha a paixão e o chamamento da terra, onde sabia que fazia falta e os pais o reclamavam.
Ali voltou e, embora com mais algumas “luzes”, lá ficou outra vez a trabalhar no amanho da terra.
Nunca constituiu família, faleceram os pais e ficou sozinho no mundo!
Envelheceu agarrado à terra, de que foi tirando os seus proveitos, trabalhando até que pôde.
Hoje, está velho, com algum saber adquirido na vida onde se formou. Vive só- como digo no início desta crónica- acompanhado do seu velhinho “Tejo”.
Ultimamente é visitado por agentes da G.N.R., quase exclusivamente, que o vigiam e aconselham, para além de algum apoio social, especialmente se fica doente.
As condições em que sobrevive são pouco mais do que as que tiveram os nossos povos primitivos!
Isto está certo?! De quem é a culpa?! Ai, sociedade do meu País! Estamos no século XXI !
 Até onde nos levariam estas e outras conjeturas?! Quantas pessoas estão hoje nestas condições?
Que responda quem souber e que, embora já muito tarde, sejam dados, rapidamente, passos no sentido de obviar a que as coisas não continuem a ter que ser assim.
Mâos ao trabalho, homens e mulheres responsáveis deste nosso Portugal!
 O tempo urge!
Quinta da Piedade, 29 de Março de 2013
JGRBranquinho


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