ERA A NOITE
Era a noite! A tão desejada noite!
Era aquela que há muito eu sonhava com a autorização
recebida de meu pai.
( Nunca mais fazia dezassete anos- pensava- pois a promessa
era que, feitos os dezassete, eu teria outra liberdade! )
Poderia chegar um pouco mais tarde a casa, acompanhar alguns
dos meus amigos mais velhos, num tempo muito diferente do de agora, embora,
também, com os seus perigos. No entanto, nada que se pareça com o que hoje se
vê, onde, a cada esquina, se pode ter uma desagradável surpresa, se pode ter um
mau encontro a vários níveis ( especialmente à noite ) tanto para os jovens
como para os mais velhos, sem distinção do género, embora reonheça que com maiores riscos
para o feminino.
É muito vulgar ouvir, a uns e outros, o receio de sair à
noite. Concordo que também nos meus tempos de juventude havia perigos, mas
estavam melhor identificados (abuso do alcool ou sexo ) e era uma questão de
cuidado, de bom senso, por nossa parte.
Ora, nessa mesma noite da autorização paterna- alegre e feliz
e sentindo-me já um homenzinho- confesso que me sentia um tanto nervoso, ainda
que apoiado por um amigo mais velho, que eu muito considerava, sabendo,
inclusive, da sua maior experiência noturna.
Lá fomos para um baile numa povoação já mais perto da fronteira-
S. Julião- mas a uns bons quilómetros da minha Ribeira de Nisa, utilizando o
carro do médico da aldeia, primo desse meu amigo- o João Maçãs.
Caminhos antigos, azinhagas estreitas atravessadas por
ribeiros, alguns saltos dentro do carro por motivo de buracos não assinalados (claro)
mas lá chegámos ao salão de baile!
Éramos forasteiros e isso implicava alguns receios…
Os rapazes dessas
terras (ainda mais no interior) não viam com bons olhos a nossa presença, já se
calcula porquê:- o pensarem que íamos ali “roubar-lhes” as raparigas.
Como primeira experiência- confesso- sentia algum
desconforto, mas o meu amigo já conhecia o meio e pôs- me mais à vontade.
Começou o baile e eu reparei numa rapariga muito
interessante que convidei para dançar.
Dançámos várias vezes, não indo eu procurar qualquer outra! “Conversa
puxa conversa” e eu- que até era um pouco tímido- atrevi-me logo a pedir-lhe
namoro, ficando com o contacto dela e ela com o meu.
Devo dizer com toda a franqueza que eu tinha namoro em
Portalegre, mas… foi assim! Talvez censurável, mas… coisas de “malta” nova que
nem pensava nas consequências, nem via mal nisso.
Vejamos, então, o meu azar, ou… o castigo?!
Dias depois, estava
com a minha outra namorada e notei que as coisas não estavam bem.
Aconteceu que a tal moça- a quem eu me tinha declarado no baile- era amiga
dela e escreveu-lhe dando a notícia de namorar um rapaz de Portalegre, dizendo mesmo o meu nome!
Calculem a situação! Foi o cabo dos trabalhos, como é
costume dizer-se.
Lá me fui desculpando:- que foi tudo uma brincadeira, que
não era bem assim, que era dela que eu gostava. Enfim, até estava a ser
sincero, pois eu amava-a. Durou algum tempo esta zanga e, por fim, as coisas lá
se compuseram e eu senti necessidade de apresentar desculpas também à outra
moça, que nunca cheguei a saber bem se me perdoou.
Aventuras da juventude. Não terei sido o único, mas
realmente foi desagradável.
Para uma primeira saída autorizada longe de casa, foi uma ”boa”
estreia, não haja dúvida!
Depois de tantos anos passados, reconheço que não procedi
bem, mas… foi assim. Esta é a verdade.
Ó rapaz, tu não
tinhas, mesmo, juízo!
Já não voltas a fazer o mesmo, não é verdade?
Monte Carvalho, 2012
JGRBranquinho
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