segunda-feira, 11 de março de 2013

REFLEXÃO SOBRE SITUAÇÕES VIVIDAS


REFLEXÃO SOBRE SITUAÇÕES  VIVIDAS
 Há dias, num dos meus apontamentos, referi alguns aspetos negativos da sociedade no tempo da minha juventude.
Só pode parecer exagero o que escrevi, para aqueles que (ou não viveram
essa época e não estão informados ou, então, andavam ou andam- os do
meu tempo- um tanto “distraídos”.
Nos meios mais pequenos- na província- ou nos bairros das grandes
cidades onde todos se conheciam mais de perto, era bem evidente uma
separação entre os que mais tinham e os outros, pertencentes às
classes sociais com menos posses.
Depois da “primária” oficial, onde ainda assim, havia uma menor
diferença, vinham os colégios- onde só podiam entrar os meninos ricos-
e, também, os liceus oficiais reservados a essa mesma classe e que
podiam dar acesso às faculdades em Lisboa, Porto e Coimbra.
Simultaneamente, mas um nível mais modesto, havia as escolas industriais de cursos de carpintaria e serralharia mecânica (com poucas
disciplinas de “letras” e só até ao 3.º ano) para onde iam os filhos
dos de menores recursos. com uma muito reduzida possibilidade de
ingressarem em cursos superiores, sendo lhes exigido, depois dos
cinco anos do curso, mais dois anos dum curso complementar.
Isto, para quem tinha poucas posses, era mais um travão impondo a
progressão dos alunos.
O que acontecia, na maior parte dos casos, era terem que procurar
emprego na área dos serviços e, assim, entrarem no mundo do trabalho,
onde, muitas vezes, não encontravam correspondência com o que tinham
aprendido, sendo quase dispensável terem estado cinco anos(isto se
não “chumbassem”...) a frequentar a escola técnica. Esta situação
estudantil gerava, desde logo, uma distanciação entre os rapazes e as
raparigas de ambos os cursos.
(Em Portalegre (onde nasci e vivi) até a nível desportivo- mas,
felizmente sem a violência que hoje se vê- havia grande rivalidade:--
era "o fato/macaco" contra" a capa e batina", em jogos entre a Escola
Industrial (onde eu jogava) e o Liceu, no velhinho Estádio da Fontedeira. Era incutido pelas próprias “ famílias bem” esse estado de
espírito, com recomendações de que não se deviam dar com os alunos das
escolas chamadas “industriais”, muito pouco consideradas. muito pouco
tidas em conta por quem a todo o custo, ambicionava ter um doutor na
família, direta ou indiretamente.
Quem viveu estes tempos, tem obrigação de saber quanto isto é verdade.
Quantos disparates foram cometidos em nome desta filosofia de vida!
Quantos amores desencontrados por proibições estúpidas que não tinham
em conta a vontade dos corações!
É verdade que houve exceções- gente jovem que teve coragem para se
afirmar e venceu essa luta- e, ainda, alguns poucos casos de pais,bem na vida, que aceitaram ligações com pessoas de diferente
condição social, confirmando que não há regra sem exceção.
Dirão que sempre foi assim e assim continuará a ser; mas hoje, em
muito menor percentagem, creio eu. Que o Céu perdoe a quem cultivou ou cultiva ainda a luta contra quem se
ama, só vendo a parte economicista da vida, sem atender à vontade dos
que se amam;sujeitando-os, apenas,à razão da força,em oposição à força da razão, às leis do coração.

 Quinta da Piedade, 10 de março de 2013 
JGRBranquinho

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