REFLEXÃO SOBRE SITUAÇÕES VIVIDAS
Há dias, num dos meus apontamentos, referi alguns aspetos negativos da sociedade no tempo da minha juventude. Só pode parecer exagero o que escrevi, para aqueles que (ou não viveram essa época e não estão informados ou, então, andavam ou andam- os do meu tempo- um tanto “distraídos”. Nos meios mais pequenos- na província- ou nos bairros das grandes cidades onde todos se conheciam mais de perto, era bem evidente uma separação entre os que mais tinham e os outros, pertencentes às classes sociais com menos posses. Depois da “primária” oficial, onde ainda assim, havia uma menor diferença, vinham os colégios- onde só podiam entrar os meninos ricos- e, também, os liceus oficiais reservados a essa mesma classe e que podiam dar acesso às faculdades em Lisboa, Porto e Coimbra. Simultaneamente, mas um nível mais modesto, havia as escolas industriais de cursos de carpintaria e serralharia mecânica (com poucas disciplinas de “letras” e só até ao 3.º ano) para onde iam os filhos dos de menores recursos. com uma muito reduzida possibilidade de ingressarem em cursos superiores, sendo lhes exigido, depois dos cinco anos do curso, mais dois anos dum curso complementar. Isto, para quem tinha poucas posses, era mais um travão impondo a progressão dos alunos. O que acontecia, na maior parte dos casos, era terem que procurar emprego na área dos serviços e, assim, entrarem no mundo do trabalho, onde, muitas vezes, não encontravam correspondência com o que tinham aprendido, sendo quase dispensável terem estado cinco anos(isto se não “chumbassem”...) a frequentar a escola técnica. Esta situação estudantil gerava, desde logo, uma distanciação entre os rapazes e as raparigas de ambos os cursos. (Em Portalegre (onde nasci e vivi) até a nível desportivo- mas, felizmente sem a violência que hoje se vê- havia grande rivalidade:-- era "o fato/macaco" contra" a capa e batina", em jogos entre a Escola Industrial (onde eu jogava) e o Liceu, no velhinho Estádio da Fontedeira. Era incutido pelas próprias “ famílias bem” esse estado de espírito, com recomendações de que não se deviam dar com os alunos das escolas chamadas “industriais”, muito pouco consideradas. muito pouco tidas em conta por quem a todo o custo, ambicionava ter um doutor na família, direta ou indiretamente. Quem viveu estes tempos, tem obrigação de saber quanto isto é verdade. Quantos disparates foram cometidos em nome desta filosofia de vida! Quantos amores desencontrados por proibições estúpidas que não tinham em conta a vontade dos corações! É verdade que houve exceções- gente jovem que teve coragem para se afirmar e venceu essa luta- e, ainda, alguns poucos casos de pais,bem na vida, que aceitaram ligações com pessoas de diferente condição social, confirmando que não há regra sem exceção. Dirão que sempre foi assim e assim continuará a ser; mas hoje, em muito menor percentagem, creio eu. Que o Céu perdoe a quem cultivou ou cultiva ainda a luta contra quem se ama, só vendo a parte economicista da vida, sem atender à vontade dos que se amam;sujeitando-os, apenas,à razão da força,em oposição à força da razão, às leis do coração.
Quinta da Piedade, 10 de março de 2013
JGRBranquinho
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