Da minha breve, muito
breve infância no meu lugar- Monte Carvalho- Ribeira de Nisa- Portalegre- guardo,
ainda assim, diversas lembranças: muito boas, boas, e outras menos boas
(naturalmente) que constituem a verdade da minha vida naquele meio rural em que
nasci e onde vivi até à adolescência.
Destaco, entre as primeiras,
os afetos dos meus pais:- os seus colos quentes, os seus beijos carinhosos de
total amor que frequentemente também recebia de minhas avós e outros familiares,
vivendo, então, muito próximos de nós.
Os agradáveis
momentos à lareira da casa (situada na cozinha) onde se cozinhava em panelas de
barro (encostadas às brasas de lenha de castanho e/ou de azinho) ou em tarros e
caçarolas igualmente de barro ou sertãs de ferro sobre a trempe, também de
ferro.
À noite, então, era
uma festa para mim, sozinho ou com o meu primo Manuel e outras vezes com amigos
meus vizinhos. O calor da lareira, a luminosidade colorida do lume, a meias com
a luz ténue do candeeiro a petróleo ou da candeia de azeite, proporcionavam uma
ambiência agradabilíssima de luz suave e terna que me encantavam sobremaneira e
faziam a minha delícia até ir para a cama com a minha “machinha”de cartão- talvez
o meu primeiro brinquedo. Lembro-me igualmente muito bem de ao despir a roupa,
a deixar num cadeirão no quarto e me despedir dela com um até amanhã- coisas
próprias de criança- tal como fizera momentos antes com os meus pais; logo que o sono apertava, recordo, também, o correr para o quarto, dizendo:- deitar... deitar... a exemplo, aliás, do que aprendera com meus pais, e a que eles achavam muita graça, claro. Era assim
e estava de acordo com a minha ainda pouca idade, pois nem frequentava ainda a
Escola.
Uma ida à cidade de
Portalegre, especialmente nos dias de mercado ou feiras – das cebolas, das
cerejas e dos porcos- quase sempre na nossa bela carroça (que meu pai primava
por ter sempre bem cuidada) pois outras vezes íamos a pé pela serra que embora sendo
mais curto o caminho, era mais maçador para eles que me levavam muito tempo ao
colo, sentindo eu o seu cansaço pela respiração mais ofegante que lhes ouvia. Alegava
eu que me doíam os pés dos sapatinhos…( era esta a expressão que eu usava). Ainda
não há muitos anos falávamos disso e nos ríamos por tal expressão. Ao colo
sempre era melhor, na verdade.
Recordo, também, as
compras feitas, que algumas vezes eram de um qualquer brinquedo para mim,
incluindo, mais tarde, a primeira bola de borracha, um verdadeiro encanto que
durou bastante tempo e com que suei as estopinhas nas minhas "jogatanas"
intermináveis no largo do Monte.
Igualmente recordo o
tempo que passava na nossa horta, rodeado de homens e mulheres que ali
trabalhavam, numa tarefa alegre pelos ditos e piadas e muitas vezes ao sabor de
bonitas cantigas, desde o nascer ao por do sol, a que não faltava, também, a
presença amiga do meu “TEJO”- o cão adquirido por troca com um pão de quilo-que minha saudosa mãe me oferecera, sendo eu ainda muito pequeno.
NOTA:- Do meu “TEJO”
já falei numa outra crónica.
Não esqueço, também,
as relações amistosas com os nossos animais- gatos, muares, etc., e as aves de
capoeira- estas as mais queridas de minha mãe- que se relacionava com elas dum
modo muito peculiar, muito enternecedor, no que era correspondida quase inteiramente,
causando a nossa admiração: - minha e de meu querido pai.
Lembro, igualmente,
já um pouco mais crescido, as idas à ribeira onde me divertia, nadando e
pescando, o que também já referi num outro dos meus escritos.
Refiro apenas este tempo
da minha infância- antes da entrada na Escola da aldeia- não querendo propositadamente
falar do menos bom, que, felizmente, foi bem menor e não teve, para mim, graves
consequências.
Hoje, volvidos tantos
anos, é com saudade que recordo com muito agrado, tempos bons da minha já longa
vida nesta nossa terra, e que vou registando nos meus escritos. Será que alguém
os lerá, alguma vez? Incondicionalmente aqui os deixo.
Quinta da Piedade, 6
de janeiro de 2015-Dia de Reis. 19.25 h
JGRBranquinho
Sem comentários:
Enviar um comentário