terça-feira, 6 de janeiro de 2015

DA MINHA BREVE INFÃNCIA



Da minha breve, muito breve infância no meu lugar- Monte Carvalho- Ribeira de Nisa- Portalegre- guardo, ainda assim, diversas lembranças: muito boas, boas, e outras menos boas (naturalmente) que constituem a verdade da minha vida naquele meio rural em que nasci e onde vivi até à adolescência.
Destaco, entre as primeiras, os afetos dos meus pais:- os seus colos quentes, os seus beijos carinhosos de total amor que frequentemente também recebia de minhas avós e outros familiares, vivendo, então, muito próximos de nós.
Os agradáveis momentos à lareira da casa (situada na cozinha) onde se cozinhava em panelas de barro (encostadas às brasas de lenha de castanho e/ou de azinho) ou em tarros e caçarolas igualmente de barro ou sertãs de ferro sobre a trempe, também de ferro.
À noite, então, era uma festa para mim, sozinho ou com o meu primo Manuel e outras vezes com amigos meus vizinhos. O calor da lareira, a luminosidade colorida do lume, a meias com a luz ténue do candeeiro a petróleo ou da candeia de azeite, proporcionavam uma ambiência agradabilíssima de luz suave e terna que me encantavam sobremaneira e faziam a minha delícia até ir para a cama com a minha “machinha”de cartão- talvez o meu primeiro brinquedo. Lembro-me igualmente muito bem de ao despir a roupa, a deixar num cadeirão no quarto e me despedir dela com um até amanhã- coisas próprias de criança- tal como fizera momentos antes com os meus pais; logo que o sono apertava, recordo, também, o correr para o quarto, dizendo:- deitar... deitar... a exemplo, aliás, do que aprendera com meus pais, e a que eles achavam muita graça, claro.  Era assim e estava de acordo com a minha ainda pouca idade, pois nem frequentava ainda a Escola.
Uma ida à cidade de Portalegre, especialmente nos dias de mercado ou feiras – das cebolas, das cerejas e dos porcos- quase sempre na nossa bela carroça (que meu pai primava por ter sempre bem cuidada) pois outras vezes íamos a pé pela serra que embora sendo mais curto o caminho, era mais maçador para eles que me levavam muito tempo ao colo, sentindo eu o seu cansaço pela respiração mais ofegante que lhes ouvia. Alegava eu que me doíam os pés dos sapatinhos…( era esta a expressão que eu usava). Ainda não há muitos anos falávamos disso e nos ríamos por tal expressão. Ao colo sempre era melhor, na verdade.
Recordo, também, as compras feitas, que algumas vezes eram de um qualquer brinquedo para mim, incluindo, mais tarde, a primeira bola de borracha, um verdadeiro encanto que durou bastante tempo e com que suei as estopinhas nas minhas "jogatanas" intermináveis no largo do Monte.
Igualmente recordo o tempo que passava na nossa horta, rodeado de homens e mulheres que ali trabalhavam, numa tarefa alegre pelos ditos e piadas e muitas vezes ao sabor de bonitas cantigas, desde o nascer ao por do sol, a que não faltava, também, a presença amiga do meu “TEJO”- o cão adquirido por troca com um pão de quilo-que minha saudosa mãe me oferecera, sendo eu ainda muito pequeno.
NOTA:- Do meu “TEJO” já falei numa outra crónica.
Não esqueço, também, as relações amistosas com os nossos animais- gatos, muares, etc., e as aves de capoeira- estas as mais queridas de minha mãe- que se relacionava com elas dum modo muito peculiar, muito enternecedor, no que era correspondida quase inteiramente, causando a nossa admiração: - minha e de meu querido pai.
Lembro, igualmente, já um pouco mais crescido, as idas à ribeira onde me divertia, nadando e pescando, o que também já referi num outro dos meus escritos.

Refiro apenas este tempo da minha infância- antes da entrada na Escola da aldeia- não querendo propositadamente falar do menos bom, que, felizmente, foi bem menor e não teve, para mim, graves consequências.
Hoje, volvidos tantos anos, é com saudade que recordo com muito agrado, tempos bons da minha já longa vida nesta nossa terra, e que vou registando nos meus escritos. Será que alguém os lerá, alguma vez? Incondicionalmente aqui os deixo.
Quinta da Piedade, 6 de janeiro de 2015-Dia de Reis. 19.25 h
JGRBranquinho




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