quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

NUM DIA DE VERÃO



NUM DIA DE VERÃO
Naquele dia de verão no meu Monte Carvalho- lugar onde vi a luz do dia, desloquei-me para a encosta das Sobreiras- a que minha mãe chamava as Tapadas do Avô- situada a norte do largo da aldeia e virada a sul. Os sobreiros e as oliveiras abundam ali, ainda, deixando cair as suas amarelecidas folhas velhas sobre o mato ressequido que, de um modo característico, abafa e suaviza os nossos passos vagarosos.
O dia se escondia já, a noite adormecia e pegava no seu primeiro sono, o que me fazia levantar do pedregulho de granito (em que estava sentado) e caminhar para a vereda mais próxima, já sob a luz suave da poética Lua cheia, tantas vezes minha amiga e companheira inspiradora.
Caminhava com o cuidado próprio de quem já há muito não pisava aquele solo e deliciava-me a escutar os primeiros sons pausados dos chocalhos do gado a regressar ao seu aprisco, o piar dos mochos e ao longe a canto lúgubre das malfadadas corujas, que muitos, aqui, associam a mortes no lugar. Eu, não sendo dos mais afoitos, neste caso não me dá para ter receios e já tive um desentendimento com um familiar muito próximo, por causa disso. Confesso, até, que gosto de as ouvir. Gostos- como diz o ditado- não se discutem.
A par de toda esta ambiência tão peculiar, ouvia agora os homens e as mulheres que regressavam do trabalho no campo e se dirigiam a suas casas para o preparo do merecido jantar e cumprimentando amigavelmente os vizinhos a quem desejavam 'uma muito boa noite.'
Ao mesmo tempo, a criançada, acabadas as aulas e antes do jantar, divertia-se no pequeno parque infantil, enquanto outros, mais crescidotes, continuavam a pontapear a bola apesar da pouca luz no largo, ao mesmo tempo que reclamavam por uma jogada mal sucedida. Todos, afinal, a aproveitarem os poucos minutos antes do chamamento para o jantar e a consequente proibição de voltarem a sair de casa, pois havia aulas na manhã seguinte.
Tudo como no meu tempo- há já muito tempo- e que ali revivi com saudade extrema!
Este quadro na aldeia, enquanto ainda houver quem trabalhe a terra (embora agora já muito menos que nos meus tempos de juventude) é ainda muito importante e para mim é um enorme motivo de satisfação. A terra é mãe e não podemos abandoná-la. Na terra está muito da vida de todos nós.
É imperioso refletir e estudar com afinco as razões que levaram as pessoas a deixar os campos, de modo a corrigirem-se esses erros e de novo podermos ver os nossos campos cultivados, com o regresso de alguns que ainda possam e saibam trabalhar a terra e mantendo nas regiões do interior, os novos, dando-lhes condições de vida, possibilitando-lhes que aprendam com os mais velhos e, também, por outro lado, procurando adquirir o conhecimento indispensável em escolas agrárias, de modo a podermos ver a terra florescer de novo- A TERRA MÃE.

Quinta da Piedade, 20 de janeiro de 2015
JGRBranquinho



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