quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

UM CASO INÉDITO E AGRADÁVEL

 
UM  CASO INÉDITO E AGRADÁVEL
É um pouco mais velha que eu, a Maria José “ a Aneta” que sendo de uma família muito numerosa, foi criada com a tia Maria de Jesus, minha madrinha de batismo e minha vizinha.
Aqui há uns anos adoeceu gravemente e foi levada para o Hospital de Portalegre.
Os filhos, muito pesarosos, mediante o que lhes diziam os médicos que não auguravam nada de bom, eram conformados pelos amigos, que lhes iam dizendo as célebres frases de que ‘enquanto há vida há esperança”, “que hora a hora Deus melhora”, enfim, animando-os o mais que podiam.
Num certo dia telefonam do hospital para uma filha, dizendo-lhe que levasse a roupa da mãe.
Assustada e desgostosa, a filha correu a levar a roupa, julgando a mãe morta. Todos na aldeia assim pensaram perante o estado em que a “ A Aneta” se encontrava.
A rapariga telefona aos irmãos e todos vão para o hospital, convencidos do falecimento da mãe.
Ao chegarem são informados de que a mãe está viva e o telefonema era porque ela ia ter alta, e deviam levar a roupa, não porque tivesse falecido! Apesar da boa nova, os filhos lamentavam que lhe tivessem dado alta dado o estado grave em que se encontrava. Mas, ordens são ordens, e lá a trouxeram para casa no carro de um dos filhos. Nesse dia estava quase toda a aldeia a velar um homem na casa mortuária junto ao cemitério, e os filhos resolveram logo passar por ali e dar a boa notícia.
Este mal-entendido foi todo ele fruto do estado de desalento e quase certeza de que a senhora ia morrer, nunca se pensando na alta.
Uma das filhas foi então à casa mortuária e as pessoas ao estralharem vê-la ali, iam dar-lhe os pêsames quando de imediato ela disse disse que a mãe estava ali à porta no carro do irmão, o que causou enorme espanto e, principalmente, uma alegria bem justificada, já que ela era muito estimada por todos.
Saíram de imediato e foi grande a festa que fizeram, embora alguns ainda duvidosos por causa do estado em que se dizia ela estar, quase sem esperança de vida.
Foi um acontecimento na aldeia, este mal-entendido que, por mais anos que já passassem, nunca mais foi esquecido.
Já na casa dos oitenta, ainda hoje está viva esta minha amiga de infância- a Maria José "Aneta", que adquiriu esta alcunha por não conseguir pronunciar o som "q" dizendo, em vez de caneta... aneta. Situações que eram habituais naquele tempo, tirando partido de algum ponto fraco de uma pessoa, pois quase ninguém escapava a elas.
 Este acontecimento raro foi, afinal, um mal-entendido que acabou em alegria para a família e para todos nós- seus amigos-  quase como se se tratasse da ressurreição duma pessoa.

Quinta da Piedade, 28 de janeiro de 2015
JGRBranquinho     -  "Zé do Monte"

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