Naquele lugar do
interior- Monte Carvalho, freguesia de Ribeira de Nisa – a muitas
léguas da grande cidade capital do País (onde tinham já família) e apenas a uma
da cidade de Portalegre- nasceram no distante ano de 1903, com intervalo de
poucas semanas, duas crianças de famílias vizinhas e amigas:- uma do género
feminino, a 25 de março, e outra do masculino, a 18 de maio- de seus nomes,
Rosa e Joaquim.
Conheceram-se desde
muito cedo, brincaram juntos na companhia de outras crianças do seu tempo,
dando-se muito bem na linha da relação existente entre as suas famílias.
Ali cresceram, ali
frequentaram a escola, separadamente, como foi lei até à década de 70.
Por escolha dos
respetivos professores- D. Palmira Azinhais e Paulo Castelhano- foram estas
duas crianças que, no “Dia da Árvore”-21 de março- procederam à plantação de
uma das amoreiras no largo da aldeia, mantendo-se ainda a que eles plantaram
com a ajuda dos professores, o que muito me alegra, por variados motivos.
Os pais vestiram-nos
o melhor que podiam para a festa. Ao que soube, estavam ambos muito bem
compostos, para além de serem duas lindas crianças.
Era e é ainda-
felizmente- um bom hábito plantar árvores, dada a reconhecida riqueza que
representam, mormente cumprindo-se esta bela tradição da “Festa da Árvore”, no
início da Primavera, que assim ajuda todos a não a esquecer, muito
especialmente às crianças, como importantíssimo ato pedagógico que é de
incalculável valor para as nossas vidas, enriquecendo, simultaneamente, a paisagem.
Sabemos bem- talvez
uns melhor que outros (a quem temos o dever de esclarecer) quanto as benditas
árvores são importantes pelos mais variados serviços que nos prestam, muito
para além da simples sombra e embelezamento da Natureza, também agradáveis,
evidentemente.
Ora, é agora a altura
de vos dizer que as duas jovens crianças passaram ali a infância, a juventude,
atingiram a idade adulta, apaixonaram-se, e casaram na Igreja da Sé em
Portalegre.
Ela – a Rosa- aprendera
e era agora uma muito considerada costureira- sem favor, a melhor do meio, tendo, por amizade e graciosamente, ensinado algumas raparigas a costurar.
Ele- o Joaquim- canastreiro
por conta de outrem e também ajudando os pais nos trabalhos do campo, numa
horta que lhes pertencia, situada muito perto do centro do povoado.
Levavam uma vida
regrada- os tempos também não eram lá muito bons- mas lá iam vivendo o seu dia
a dia perto das famílias e dos vizinhos amigos, sentindo-se, assim, mais
apoiados.
Era a década de vinte
já com muitas convulsões de ordem política pela crise económica e instabilidade
governativa desde a implantação da I.ª República em 5 de outubro de 1910,
agravada depois com as consequências resultantes da I.ª Guerra Mundial, de
1914/18, como aconteceu também no resto da Europa.
Embora tivesse havido
tentativas no sentido de melhorar as condições de vida com reformas de carácter
económico e cultural, os governos sucediam-se e a situação era cada vez mais propícia
ao aparecimento de soluções autoritárias depois da renúncia do próprio
Presidente da República –Dr. Bernardino Machado. Havia inúmeros partidos,
diversas fações, cada vez maior instabilidade nas pessoas que temiam pelas
constantes escaramuças.
Surgiu, então, golpe
militar de 28 de maio de 1926, tendo à frente o General Gomes da Costa que
partindo do Porto veio arregimentando forças pelo caminho para a instauração do
regime que havia de vigorar durante 48 anos- designado “O ESTADO NOVO”-de onde
emergiu a figura de Salazar- que ao princípio pareceu ser a salvação do País,
tomou até medidas adequadas, e, depois, foi o que se viu.
Fugi ao tema, mas
também é verdade que quis dar-vos assim, uma ainda que muito breve ideia da
situação do País na altura, e que também já dava mostras de grandes
desigualdades sociais nos últimos anos da Monarquia.
Sina deste nosso querido
e amado Portugal.
Voltando à ROSA e ao
JOAQUIM, lá iam fazendo a sua vida na aldeia:- ela costurando e cuidando da
casa; ele fazendo as cestas, os cabazes (ou canastras) em madeira de castanho
bravo, que eram muito precisos na agricultura e se vendiam, também, para toda a
parte do País, para vários fins, incluindo a pesca e o transporte de fruta.
Meses depois de
casados, nasceu com toda a normalidade, o José, que haveria de ser o único
filho. Criaram-no com todo o afeto e cuidados de que dispunham, como bons pais
que eram, e, também sob a amorosa proteção da família, especialmente das duas
avós:- Maria Joaquina e Maria Josefa.
Mandaram-no estudar,
fez-se homem e hoje aqui está perante vós a contar esta pequenina e muito resumida história de vida, para não
vos maçar com uns tantos bonitos episódios vividos em família, hoje, por certo, só para ele
importantes e que já foram citados em outras crónicas.
Desculpem se mesmo
assim vos fiz perder algum do vosso precioso tempo.
NOTA:- Meus pais
mudaram para uma casa onde eu viria a nascer, que ainda me pertence e aonde vou
com alguma frequência, embora já sem a presença deles, o que muito me pesa. Ainda
em vida deles fizemos obras.Meu pai mudou de vida, fundando uma pequenina
indústria ligada às madeiras e cabazes, dedicando-se também ao negócio de
frutas que vendia localmente em feiras e mercados, enviando também, para os Mercados
Abastecedores de Fruta de Lisboa, no REGO e CAIS DO SODRÉ.
Quinta da Piedade, 1
de março de 2015
José Garção Ribeiro
Branquinho -- “Zé do Monte”
Sem comentários:
Enviar um comentário