domingo, 1 de março de 2015

A ROSA E O JOAQUIM




Naquele lugar do interior-  Monte Carvalho, freguesia de Ribeira de Nisa – a muitas léguas da grande cidade capital do País (onde tinham já família) e apenas a uma da cidade de Portalegre- nasceram no distante ano de 1903, com intervalo de poucas semanas, duas crianças de famílias vizinhas e amigas:- uma do género feminino, a 25 de março, e outra do masculino, a 18 de maio- de seus nomes, Rosa e Joaquim.
Conheceram-se desde muito cedo, brincaram juntos na companhia de outras crianças do seu tempo, dando-se muito bem na linha da relação existente entre as suas famílias.
Ali cresceram, ali frequentaram a escola, separadamente, como foi lei até à década de 70.
Por escolha dos respetivos professores- D. Palmira Azinhais e Paulo Castelhano- foram estas duas crianças que, no “Dia da Árvore”-21 de março- procederam à plantação de uma das amoreiras no largo da aldeia, mantendo-se ainda a que eles plantaram com a ajuda dos professores, o que muito me alegra, por variados motivos.
Os pais vestiram-nos o melhor que podiam para a festa. Ao que soube, estavam ambos muito bem compostos, para além de serem duas lindas crianças.
Era e é ainda- felizmente- um bom hábito plantar árvores, dada a reconhecida riqueza que representam, mormente cumprindo-se esta bela tradição da “Festa da Árvore”, no início da Primavera, que assim ajuda todos a não a esquecer, muito especialmente às crianças, como importantíssimo ato pedagógico que é de incalculável valor para as nossas vidas, enriquecendo, simultaneamente, a paisagem.
Sabemos bem- talvez uns melhor que outros (a quem temos o dever de esclarecer) quanto as benditas árvores são importantes pelos mais variados serviços que nos prestam, muito para além da simples sombra e embelezamento da Natureza, também agradáveis, evidentemente.
Ora, é agora a altura de vos dizer que as duas jovens crianças passaram ali a infância, a juventude, atingiram a idade adulta, apaixonaram-se, e casaram na Igreja da Sé em Portalegre.
Ela – a Rosa- aprendera e era agora uma muito considerada costureira- sem favor, a melhor do meio, tendo, por amizade e graciosamente, ensinado algumas raparigas a costurar.
Ele- o Joaquim- canastreiro por conta de outrem e também ajudando os pais nos trabalhos do campo, numa horta que lhes pertencia, situada muito perto do centro do povoado.
Levavam uma vida regrada- os tempos também não eram lá muito bons- mas lá iam vivendo o seu dia a dia perto das famílias e dos vizinhos amigos, sentindo-se, assim, mais apoiados.
Era a década de vinte já com muitas convulsões de ordem política pela crise económica e instabilidade governativa desde a implantação da I.ª República em 5 de outubro de 1910, agravada depois com as consequências resultantes da I.ª Guerra Mundial, de 1914/18, como aconteceu também no resto da Europa.  
Embora tivesse havido tentativas no sentido de melhorar as condições de vida com reformas de carácter económico e cultural, os governos sucediam-se e a situação era cada vez mais propícia ao aparecimento de soluções autoritárias depois da renúncia do próprio Presidente da República –Dr. Bernardino Machado. Havia inúmeros partidos, diversas fações, cada vez maior instabilidade nas pessoas que temiam pelas constantes escaramuças.
Surgiu, então, golpe militar de 28 de maio de 1926, tendo à frente o General Gomes da Costa que partindo do Porto veio arregimentando forças pelo caminho para a instauração do regime que havia de vigorar durante 48 anos- designado “O ESTADO NOVO”-de onde emergiu a figura de Salazar- que ao princípio pareceu ser a salvação do País, tomou até medidas adequadas, e, depois, foi o que se viu.
Fugi ao tema, mas também é verdade que quis dar-vos assim, uma ainda que muito breve ideia da situação do País na altura, e que também já dava mostras de grandes desigualdades sociais nos últimos anos da Monarquia.
Sina deste nosso querido e amado Portugal.
Voltando à ROSA e ao JOAQUIM, lá iam fazendo a sua vida na aldeia:- ela costurando e cuidando da casa; ele fazendo as cestas, os cabazes (ou canastras) em madeira de castanho bravo, que eram muito precisos na agricultura e se vendiam, também, para toda a parte do País, para vários fins, incluindo a pesca e o transporte de fruta.
Meses depois de casados, nasceu com toda a normalidade, o José, que haveria de ser o único filho. Criaram-no com todo o afeto e cuidados de que dispunham, como bons pais que eram, e, também sob a amorosa proteção da família, especialmente das duas avós:- Maria Joaquina e Maria Josefa.
Mandaram-no estudar, fez-se homem e hoje aqui está perante vós a contar esta pequenina  e muito resumida história de vida, para não vos maçar com uns tantos bonitos episódios vividos em família, hoje, por certo, só para ele importantes e que já foram citados em outras crónicas.
Desculpem se mesmo assim vos fiz perder algum do vosso precioso tempo.
NOTA:- Meus pais mudaram para uma casa onde eu viria a nascer, que ainda me pertence e aonde vou com alguma frequência, embora já sem a presença deles, o que muito me pesa. Ainda em vida deles fizemos obras.Meu pai mudou de vida, fundando uma pequenina indústria ligada às madeiras e cabazes, dedicando-se também ao negócio de frutas que vendia localmente em feiras e mercados, enviando também, para os Mercados Abastecedores de Fruta de Lisboa, no REGO e CAIS DO SODRÉ.

Quinta da Piedade, 1 de março de 2015
 José Garção Ribeiro Branquinho   --  “Zé do Monte”






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