domingo, 22 de novembro de 2015

A MÉTRICA E A RIMA



A métrica e a rima
  1. 1. A MÉTRICA e A RIMA cf.Gramática do Português Moderno, de José Manuel deCastro Pinto e Maria do Céu Vieira Lopes, PlátanoEditora, 2008, pp. 263-267 &Proseando sobre Cordel de Fábio Sombra, Editora Lê.
  2. 2. versoÉ cada uma das linhas de um poema oucomposição poética. O verso obedece adeterminadas normas de ritmo.
  3. 3. ritmoO ritmo é constituído por uma cadência queresulta da alternância harmónica entre sílabasacentuadas (fortes) e sílabas átonas (fracas).
  4. 4. metro• É a medida poética que regula a quantidade e a localização das sílabas acentuadas e átonas. O metro é constituído por sílabas métricas e acentos rítmicos.
  5. 5. sílaba métricaCada verso tem um determinado número desílabas. Mas a contagem de sílabas no verso –são as sílabas métricas – é um pouco diferentedas sílabas gramaticais, pois baseia-se nossons que o ouvido capta, os quais nem semprecorrespondem a cada palavra. Só se contam assílabas até à sílaba tónica da última palavra doverso e costuma fazer-se a elisão da vogalátona final de palavra quando a palavraseguinte começa por vogal.
  6. 6. Vejamos então a divisão desta estrofeem sílabas métricas:Nes/se ins/tan/te o/ Ma/gri/limCom/ voz/ man/sa e /bem /pau/sa/daDis/se o/lhan/do/ pra/ prin/ce/sa:- Ou/ça a/qui,/ mi/nha a/do/ra/da,Que/ro /ver /se/ vo/cê /po/deDes/trin/char /es/sa /cha/ra/da.
  7. 7. Resumindo a questão com a ajuda de Fábio Sombra:Sem esquecermos que a sílaba tónica, a quesobrou no fim de cada estrofe (assinalada a rosa)não entra na conta, e transformarmos as sílabastónicas (pronunciadas com mais força) no somTUM, vamos ter o seguinte ritmo nesta estrofe: TÁ – TÁ – TUM – TÁ – TÁ – TÁ –TUMA questão leva-nos ao acento rítmico, e àdistribuição das sílabas fracas e fortes no verso.
  8. 8. Acento rítmico• Conforme o número de sílabas do verso, assim os acentos recaem em determinadas sílabas ao longo dele. No exemplo atrás apresentado, são acentuadas a 3ª e a 7ª sílabas. Mas vejamos o que acontece em outros casos. Várias hipóteses são possíveis. Vejamos as mais frequentes.
  9. 9. Versos de uma, duas e três sílabas métricas• Não são muito frequentes e, por vezes, aparecem juntamente com outros mais longos. Moro lá em baixo, enterrado, Muito lá em baixo!, e calado. Pairo por cima ondulando, Ando No ar Espalhado… José Régio, As Encruzilhadas de Deus
  10. 10. Versos de quatro sílabas métricas• Têm acentos predominantes na 1ª e 4ª sílabas, ou 2ª e 4ª e, por vezes, apenas na 4ª. Urnas quebradas! Blocos de gelo… - Chorai arcadas, Despedaçadas, Do violoncelo. Camilo Pessanha, Clepsidra
  11. 11. Versos de cinco sílabas métricas (redondilha menor)• Têm acentos na 1ª e 5ª, ou 2ª e 5ª, ou 3ª e 5ª. Eu olhos sei de uns, Que desde que os vi, Não vi mais nenhuns! Vê tu por aí Se os achas; senão, Descubro-os a ti João de Deus, Campo de Flores
  12. 12. Versos de seis sílabas métricas (heróicos quebrados)• Têm um primeiro acento que pode situar-se entre a 1ª e a 4ª sílabas, e o último na 6ª. É uma acentuação bastante variável. Também podem registar-se três acentos: 2ª, 4ª e 6ª; 1ª, 4ª e 6ª; 1ª, 3ª e 6ª. Dura severidade Tapetada de acenos Às ilusões da idade E aos deslizes pequenos. Miguel Torga, Diário, III
  13. 13. Versos de sete sílabas métricas (heptassílabos) ou redondilha maior• São muito frequentes porque têm um ritmo facilmente captado pelo ouvido. Usam-se, nomeadamente, na quadra popular. Têm muitas vezes acentuação na 2ª e 7ª sílabas, ou 3ª e 7ª, ou 4ª e 7ª, ou ainda na 1ª, 3ª, 5ª e 7ª, além de outras variantes de menor importância. Descalça vai para a fonte Leonor pela verdura; Vai formosa e não segura. Leva na cabeça o pote, O testo nas mãos de prata, Cinta de fina escarlata, Sainho de chamalote *…+ Luís de Camões, Lírica
  14. 14. Versos de oito sílabas métricas (octossílabos)• Com acentuação mais frequente na 4ª e 8ª, ou 2ª, 5ª e 8ª sílabas. Às vezes, passo horas inteiras Olhos fitos nestas braseiras, Sonhando o tempo que lá vai; E jornadeio em fantasia Essas jornadas que eu fazia Ao velho douro, mais meu pai. António Nobre, Só
  15. 15. Versos de nove sílabas métricas• Com acentuação mais frequente na 3ª, 6ª e 9ª, ou 4ª e 9ª sílabas. Minha Júlia, um conselho de amigo. Deixa em branco este livro gentil: Uma só das memórias da vida Vale a pena guardar, entre mil. Almeida Garrett, Folhas Caídas
  16. 16. Versos de dez sílabas métricas (decassílabos)• Têm largo uso, nomeadamente nos poemas heróicos e nos sonetos. Com acentuação mais comum na 6ª e 10ª (versos heróicos) e na 4ª, 8ª e 10ª sílabas (versos sáficos). Mas, entanto que cegos e sedentos Andais de vosso sangue, ó gente insana, Não faltarão Cristãos atrevimentos Nesta pequena casa Lusitana: De África tem marítimos assentos; É na Ásia mais que todas soberana; Na quarta parte nova os campos ara; E , se mais mundo houvera, lá chegara. Luís de Camões, Os Lusíadas, VII, 14
  17. 17. Versos de onze sílabas métricas• Com acentos na 5ª e na 11ª sílabas. O génio não pode, por grande que seja, Cobrir injustiças, não pode, isto não; Em vez de elevar-se no voo, rasteja, Se em vez da verdade só eleva a paixão. João de Lemos, Poesias
  18. 18. Versos de doze sílabas métricas (dodecassílabos) ou alexandrinos• Com acentos na 6ª e na 12ª sílabas; foram muito usados na época clássica em estrofes de dois versos (dísticos).Manhã de Junho ardente. Uma encosta escalvada,seca, deserta e nua, à beira da estrada.Terra ingrata, onde a urze a custo desabrocha,Bebendo o sol, comendo o pó, mordendo a rocha. Guerra Junqueiro, Poesias Dispersas
  19. 19. Verso livre• Com os poetas modernistas (século XX) surge o verso livre que não está sujeito a limites de sílaba e ritmo. É o poeta que vai criar o equilíbrio do poema (seguindo a sua intuição ou uma determinada intenção). A grande Esfinge do Egipto sonha por este papel dentro… Escrevo – e ela aparece-me através da minha mão transparente E ao canto do papel erguem-se as pirâmides… Escrevo – perturbo-me de ver o bico da minha pena Ser o perfil do rei Cheops… De repente paro… Escureceu tudo… Caio por um abismo feito de tempo… Fernando Pessoa, Poesias
  20. 20. rimaA rima consiste na correspondênciade sons em lugares determinadosdos versos na poesia; no entanto, asua existência pode contribuir para oritmo (lento, rápido…), para amemorização e para aexpressividade do poema.
  21. 21. Espécies de rima• Rima consoante ou perfeita • Rima toante ou imperfeita (quando há correspondência (quando há correspondência total de sons a partir da última na vogal tónica mas a rima não vogal tónica): é total a partir daí): Aqui estou à tua porta Aqui estou à tua porta Como o feixinho de lenha Como o feixinho de lenha À espera de resposta Que dos teus olhos me venha À espera de resposta Que dos teus olhos me venha
  22. 22. Espécies de rima• Na rima consoante ou • Os versos sem rima (que perfeita pode ainda começaram a ser considerar-se: populares para os poetas• RIMA POBRE (quando românticos) denominam- palavras da mesma se: categoria gramatical rimam entre si – VERSOS BRANCOS iria/faria) ou• RIMA RICA (quando VERSOS SOLTOS palavras de categoria gramatical diferente rimam entre si – dizes/felizes)
  23. 23. Combinações de rima• Esquema rimático: trata-se do esquema que nos revela de que forma a rima está combinada numa estrofe. Costuma ser indicada por letras. Na estrofe que se segue a rima tem a seguinte distribuição: abccba Mas a cada palavra que na noite subia a Numa longa e larga curva b Em busca da exaltação c Rebentava como uma bola de sabão c E era apenas água turva b O que nas mãos eu dela recebia. a Sophia M. B. Andresen, Poesia
  24. 24. Combinações de rimas• Tipos de combinações de rimas:• Rima emparelhada (quando rimam os versos seguidos, dois a dois)• Rima cruzada (quando os versos rimam alternadamente, o 1º com o 3º, o 2º com o 4º…)• Rima interpolada (quando os dois versos que rimam são separados por dois ou mais versos que não rimam)• Rima encadeada (quando a palavra final de um verso rima com o meio do verso seguinte: «Dorme que eu velo, sedutora imagem,/grata miragem que no ermo vi;»)
  25. 25. Estrofe• A estrofe é um agrupamento de versos, geralmente com sentido completo. Segundo o número de versos que a compõem, a estrofe tem uma designação específica, a saber: • MONÓSTICO (estrofe de um único verso) • DÍSTICO ou PARELHA (estrofe de dois versos) • TERCETO (estrofe de três versos) • QUADRA (estrofe de quatro versos) • QUINTILHA (estrofe de cinco versos) • SEXTILHA (estrofe de seis versos) • ESTROFE DE SETE VERSOS • OITAVA (estrofe de oito versos) • ESTROFE DE NOVE VERSOS • DÉCIMA (estrofe de dez versos)
  26. 26. A poesia de cordel também se carateriza pelo uso derimas. Voltemos à estrofe de Fábio Sombra Nesse instante o Magrilim Com voz mansa e bem pausada Disse olhando pra princesa: - Ouça aqui, minha adorada, Quero ver se você pode Destrinchar essa charada. Nesta estrofe encontram-se rimas no 2º, no 4º e no 6º versos. Já os versos 1, 3 e 5 não precisam rimar com nenhum outro. Isso facilita a vida do poeta que só precisa de se preocupar em encontrar três rimas por estrofe.
  27. 27. PELEJA INTERNACIONAL(aplicação de algumas das regrasque acabaram de ser explicadas)
  28. 28. REGRASCada grupo interveniente deve desenvolver omote, ou o mote-resposta numa estrofeatendendo às seguintes regras: - a estrofe deve ter seis versos e rima nosversos 2, 4 e 6; - métrica do mote ou do mote-respostadeve ser respeitada.
  29. 29. MOTEMinha mesa é bem mais fartaDo que a sua, meu irmão: MOTE-RESPOSTA Pois eu digo que a sua mesa Não é farta como a minha:
  30. 30. Duas estrofes desenvolvidas por FábioSombra a partir do mote e mote-resposta dados:Minha mesa é bem mais fartaDo que a sua, meu irmão:Nela tenho carne e leite Pois eu digo que sua mesaAzeitonas, macarrão Não é farta como a minha:Tenho peras, chocolate, Pois na minha tenho docesE uma torta de limão. Ovos, queijos e galinha Tenho sopa de legumes Bom azeite e até sardinha.
  31. 31. Fábio Sombra explica:• Neste torneio, seguiremos o padrão que foi usado nos motes que dei, ou seja: 7 sílabas poéticas em cada um dos seis versos que formam as estrofes. Mas é sempre bom lembrar que a contagem de sílabas poéticas SEMPRE TERMINA NA ÚLTIMA SÍLABA TÔNICA DE CADA VERSO. As sílabas que vêm depois da última tônica não são contadas.
  32. 32. Fábio Sombra explica:• Um dos objetivos do torneio é transformá-lo em uma oficina virtual de poesia, onde os alunos irão percebendo que poesia não é só inspiração, mas também muita transpiração e trabalho duro dos pobres poetas. Ao final, além de uma peleja bem feitinha e acabada, poderemos cantá-la facilmente ao som da viola, uma vez que a métrica estará sempre perfeita.
  33. 33. Vamos verificar sea métrica e a rima foram respeitadas:1- quem construiu uma estrofe a partir do mote deve apresentar rimas em –ão nos versos 4 e 6.2- quem construiu uma estrofe a partir do mote- resposta deve apresentar rimas em –inha nos versos 4 e 6.3- os versos devem ter todos 7 sílabas métricas.
  34. 34. a métricaMi/nha /me/sa é/ bem/ mais/ far/taDo/ que a/ su/a, /meu/ ir/mão:Tem/ bom/ ba/ca/lhau /co/zi/doFei/to /no/ meu/ cal/dei/rãoBem /re/ga/do /com/ a/zei/teE /vi/nho/ da/ re/gi/ão. (turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde)
  35. 35. a rimaMinha mesa é bem mais fartaDo que a sua, meu irmão:Tem bom bacalhau cozidoFeito no meu caldeirãoBem regado com azeiteE vinho da região.(turma E do 6.º ano da Escola E. B. 2, 3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde)
  36. 36. a métricaPois/ eu /di/go /que a/ sua/ me/saNão/ é/ far/ta /co/mo a /mi/nha:Da A/ma/zô/nia/ tro/pi/calAté o /Sul /da/ mi/nha/ te/rri/nhaA /far/tu/ra é/ tão / va/ria/daQue/ vo/cê/ nem/ a/di/vi/nha. (turma do 4º ano da Escola Estadual Guido Marlière, Cataguases, Minas Gerais, Brasil)
  37. 37. a rimaPois eu digo que a sua mesaNão é farta como a minha:Da Amazônia tropicalAté o Sul da minha terrinhaA fartura é tão variadaQue você nem adivinha.
  38. 38. FR (2-4-2010)Minha mesa é bem mais fartaDo que a sua, meu irmão:E/ com/ a/ nos/sa/ boa /ra/cle/tteCom/ uma /ba/gue/tte/ na/ mãoMais /um/ gos/to/so/bor/déusNin/guém / pa/ssa à/ fren/te/ não!
  39. 39. • Powerpoint desenvolvido em abril de 2010. • Professora Isabel Costa, SP do LI (F)

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