Sempre me interessou
a atividade destes homens! Era a sua vida de todos os dias e deslocavam-se nos
meios de transporte que possuíam- carroças puxadas por burros, machos, mulas e
cavalos- aos locais onde havia feiras. Sabiam de cor as datas e lá iam,
escolhendo, entre as que se realizavam no mesmo dia, aquelas que por
experiência de outros anos, lhe pareciam melhores para o seu ramo de negócio.
Constituíam
autênticas caravanas através das estradas, parando aqui e ali para descanso dos
animais e seu próprio, nas estalagens que existiam em quase todas as terras do
País.
Era um modo de vida
algo difícil- é verdade- mas era o seu trabalho; lá iam vivendo e quase não
paravam durante todo o ano. As refeições (numa mistura de cheiros apetecíveis)
eram confecionadas pelas mulheres, junto das barracas de venda, que cada qual
armava à sua maneira, mas sempre muito cuidadas, muito atraentes, com toda a
gama de quinquilharia, especialmente brinquedos, que faziam as delícias da
criançada.
.Ali dormiam- só lá pela madrugada, claro- isto é, depois das pessoas
abandonarem esses locais que eram simultaneamente festa e feira, especialmente
no Alentejo- as que eu melhor conheci e com a particularidade de haver sempre lindíssimo fogo de artifício como atração, fazendo o encanto de novos e velhos.
Havia também:
- As da loiça, também
muito procuradas, pois além de venderem mais em conta, tinham uma grande
variedade, inclusive com loiça regional alentejana.
- As barracas “de comes e bebes”-típicas
tabernas ambulantes- sempre muito frequentadas e até muito úteis para quem
passava os dias de feira fora de casa, divertindo-se e/ou fazendo as suas
compras.
- As de “torrão
branco de Alicante” e outros doces, bem como as “da massa frita”- as célebres
farturas- ainda hoje bem conhecidas e apreciadas.
- As de roupa (hoje
até mais habituais) e as do tiro ao alvo com o apoio simpático de bonitas raparigas, o que tornava esse passatempo muito apreciado pelo género masculino.
- As dos espelhos- que reproduziam as nossas imagens deturpadas e nos faziam rir
a bandeiras despregadas e, até as “de terror” e “comboios fantasmas”, também
muito procuradas por pessoas que gostavam de emoções fortes.
- As dos artísticos
cestos de vime, muito apreciados e úteis nesses tempos, pois pode-se dizer que não havia casa que os não tivesse,
exibindo-os as mulheres com todo o prazer quando saiam às compras.
A par desta
variedade, lá estavam sempre os circos e os carrocéis, na verdade os reis do
divertimento.
Quanto a outros
feirantes, destaque, também, para os vendedores de frutas do Alentejo e os de
cabazes, escadas e aguilhadas de madeira de castanho, vindos principalmente da
freguesia de Ribeira de Nisa, que fica a cerca de cinco quilómetros de
Portalegre.
Lembro, também, a
presença dos denominados “vendedores da banha de cobra” com a promessa da cura
milagrosa das mais variadas doenças e, ainda, a dos
vendedores das mantas de Minde, que constituíam um verdadeiro espetáculo no
modo como abordavam as pessoas, quase as obrigando a comprar, mas com uma graça
muito peculiar, pondo em evidência o seu tradicional calão minderico.
Enfim, recordações de
tal modo agradáveis que os mais velhos, por certo, também ainda lembrarão, que eram
de grande utilidade para todos (vendedores e compradores) que perdurarão para
sempre na minha memória, e gostaria que os mais novos tivessem ter podido
vivenciar, pois embora ainda continuem, as feiras de hoje em dia não têm o
encanto e o tipicismo das de outrora.
Quinta da Piedade, 24
de fevereiro de 2015
JGRBranquinho - “Zé
do Monte”