Ó virgens que passais, ao sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
Que me recorde as afeições do Lar.
Cantai-me, nessa voz adolescente,
O Sol que tomba, aureolando o Mar,
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a graça, a formosura, o luar!...
Cantai! cantai as límpidas cantigas!
Das ruinas do meu Lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas
Que eu vi morrer num sonho, como um ai...
Ó suaves e frescas raparigas,
Adormecei-me nessa voz...Cantai!
Porto/1886
António Nobre
(In Sonetos do Livro SÓ)
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